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    Nos EUA, criança de 6 anos atira em professora: como lidar com a violência

    Mais crianças morrem nos Estados Unidos por serem baleadas do que de câncer ou em acidentes de carro

    Jill Filipovicda CNN

    É uma daquelas histórias típicas dos Estados Unidos. Um menino de 6 anos leva uma arma para a escola na mochila e dispara contra sua professora. Felizmente, parece que a professora, Abby Zwerner, sobreviverá.

    Mas ninguém – nem ela, nem o menino, nem os outros alunos da escola de Newport News, Virginia – vai sair ileso da experiência. Ainda assim, aqueles que colocam os direitos das armas acima de todos os outros interesses não oferecem nada mais do que pensamentos e orações, enquanto o resto de nós olhamos ao redor, derrotados, imaginando como podemos viver numa nação que simplesmente aceita esse tipo de violência como um custo rotineiro da “liberdade” para possuir armas projetadas para acabar com a vida humana.

    A cultura insana das armas nos Estados Unidos e as leis radicalmente frouxas levaram a situações sombrias. Já vimos vezes demais dezenas de alunos do ensino fundamental serem mortos em salas de aula por homens furiosos mal saídos do ensino médio.

    Os professores devem debater se devem ou não levar armas para se protegerem na escola, já que os políticos lhes dizem que é a única maneira de se defender – ao mesmo tempo em que se recusam a fazer algo para evitar a violência com armas, reduzindo a facilidade com que os cidadãos podem comprá-las. Chacinas eclodem em cinemas, casas noturnas, supermercados, shoppings, hospitais, igrejas, sinagogas, shows de música e no transporte público.

    Isso não acontece nessa escala em nenhum outro lugar do mundo. E as razões são claras: São as armas. Os norte-americanos não são naturalmente mais violentos do que cidadãos de qualquer outro país. Mas, quando você adiciona um monte de armas à mistura, a violência se torna muito mais mortal com muito mais frequência.

    A história do menino de 6 anos, no entanto, tem sua tragédia particular. O agressor é uma criança pequena, e, embora não possamos saber com certeza o que estava acontecendo em sua mente, dificilmente alguém dessa idade seria capaz de um assassinato premeditado a sangue frio. Crianças dessa idade ainda acreditam rotineiramente que há monstros no guarda-roupa à noite e que o Papai Noel existe.

    Só recentemente eles aprenderam os nomes das cores e muitos ainda nem andam de bicicleta. Seus dentes de leite estão apenas começando a cair. Eles já deixaram o assento de bebê, usam uma elevação no assento para andar de carro.

    O site WebMD alerta: “As crianças nessa idade ainda estão aprendendo sobre som, distância e velocidade. Portanto, mantenha-os longe da rua. Eles ainda não sabem o perigo que um carro ou caminhão representa”.

    Será que realmente achamos que um menino de 6 anos entende o tamanho do perigo de uma arma?

    Essa criança – praticamente um bebê – agora cometeu um ato que pode segui-lo pelo resto de sua vida. É difícil imaginar qualquer penalidade criminal sendo aplicada, embora nosso país também seja um ponto fora da curva na frequência com que enviamos crianças para o sistema penal.

    Os relatórios indicaram que a criança estava sob custódia da polícia. O delegado afirmou na coletiva de imprensa: “Estamos em contato com o defensor público do condado e algumas outras entidades para nos ajudar a obter melhores serviços para esse jovem”.

    Mas uma pessoa de 6 anos não é um “jovem”. Ele está muito mais perto de ser um bebê. Ele, sem dúvida, precisa de ajuda para lidar com o trauma do que acabou de viver – e causar. Certificar-se de que ele está bem e sendo cuidado deve ser a prioridade em seu futuro imediato.

    No entanto, um sério erro foi cometido. Não foi um acidente.

    A questão não é o que há de errado com um menino de 6 anos por tratar uma arma como um brinquedo. A questão é o que há de errado com o adulto que disponibilizou a arma para uma criança – e que tipo de responsabilidade esperamos dos donos de armas.

    A violência armada é agora o assassino número um de crianças nos Estados Unidos. Mais crianças morrem por serem baleadas do que de câncer ou em acidentes de carro. Nós somos o único país entre nossos pares econômicos pacíficos onde isso é verdade.

    Os tiroteios acidentais constituem uma pequena proporção de mortes por armas nos EUA. Mas alguma porcentagem de homicídios também é o resultado de uma pessoa colocar as mãos na arma de outra pessoa. Muitas vezes consideramos situações em que o atirador é uma criança que não pretendia matar ninguém como “acidental”. E, no entanto, não há nada “acidental” em ter uma arma mortal em casa.

    Se uma pessoa quer ter uma arma mortal, ela deve, no mínimo, ser responsável por ela. Isso significa que um indivíduo que não cuida adequadamente de sua arma para mantê-la fora das mãos de uma criança deve ser responsabilizado se essa criança matar ou ferir alguém (a mãe do atirador da escola Sandy Hook Elementary, em 2012 em Connecticut, pagou por esse erro com sua vida, assassinada pelo filho). Os adultos que não conseguem cuidar de suas armas devem ser processados nas esferas criminal e civil.

    O mesmo deve ser válido para os pais irresponsáveis que dão a seus filhos armas que são usadas em chacinas nas escolas ou qualquer outro tiroteio, ou ajudá-los a obter uma licença de arma, permitindo-lhes matar.

    Um tiro é um resultado previsível de ter uma arma em casa. Os defensores de armas muitas vezes falam sobre seus direitos, mas com esses direitos vêm responsabilidades. E os donos de armas que não são responsáveis – que não mantêm as armas trancadas, separadas das munições, num sistema de armazenamento seguro que uma criança não possa abrir – devem ser responsabilizados por negligência.

    Quando se trata de armas, simplesmente não há acidentes. A presença de uma arma em si cria as condições para a violência mortal. Se um norte-americano quer criar essas condições, a atual Suprema Corte diz que é seu direito. Mas eles – e não uma criança de 6 anos – devem ser responsabilizados pelo resultado.

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