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    No debate dos vices, duas faces diferentes dos EUA

    Será uma oportunidade para conhecer melhor as diferenças de propostas entre republicanos e democratas

    Lourival Sant'Annada CNN

    Com a doença do presidente Donald Trump, de 74 anos, e a idade de seu rival democrata, Joe Biden, que completa 78 em novembro, o debate entre os candidatos a vice ganha um novo significado.

    Será uma oportunidade para conhecer melhor as diferenças de propostas entre republicanos e democratas, considerando que Mike Pence e Kamala Harris devem deixar o outro completar as frases com muito mais frequência do que aconteceu no primeiro encontro entre Trump e Biden, dia 29. 

    Mas o evento na Universidade de Utah, em Salt Lake City, será também repleto de símbolos tão ou mais reveladores dos que as palavras. A começar pelo fato de que, a pedido da campanha de Harris, um biombo de acrílico separará os candidatos um do outro e da moderadora, Susan Page, chefe da sucursal de Washington do jornal USA Today.

    A proteção funcionará como um lembrete, ao longo dos 90 minutos de debate, de que os EUA ainda não conseguiram conter uma epidemia que matou 210 mil pessoas. E que o presidente do país, a primeira-dama e muitos de seus assessores estão entre os mais de 7 milhões de contaminados.

    A diferença de visões sobre a resposta ao vírus será um tema dominante do debate, e ela ficou clara até mesmo na discussão dos preparativos. A proteção e distância extra foram requisitadas porque Pence esteve com Trump dia 29, dois dias antes de o presidente ter o diagnóstico positivo. E ambos não usavam máscara. Biden também esteve, no debate, mas a 2 metros de distância. 

    A campanha de Pence não aceita que a proteção fique ao seu redor. A porta-voz do vice-presidente, Katie Miller, disse: “Se a senadora Harris quer usar uma fortaleza ao redor dela, fique à vontade”.

    A comissão independente que organiza o debate informou que vai retirar do auditório quem não estiver de máscara. Isso é uma resposta ao que ocorreu no dia 29 em Cleveland, Ohio, no debate entre os candidatos a presidente. A máscara era obrigatória para entrar no auditório, mas familiares e assessores de Trump a retiraram quando estavam lá dentro, e recusaram pedidos de um médico para recolocá-la.

    Todas as pessoas no auditório também terão de apresentar resultado negativo de teste de Covid-19. 

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    A máscara e o distanciamento social, assim como a proteção acrílica, são vistos por Trump e seus seguidores como sinais de uma situação anormal, e portanto um empecilho para a retomada da atividade econômica, que o presidente considera central na sua reeleição.

    Pence e Harris simbolizam também duas faces do país. O vice presidente é homem, branco, conservador, evangélico praticante, extremamente leal a Trump, embora tenha um estilo muito mais contido, recatado mesmo, e cerebral do que Trump. 

    Harris é filha de imigrantes: pai jamaicano e mãe indiana. Casou-se aos 49 anos, não teve filhos biológicos, mas é chamada de “mamala”, junção da palavra “mãe” com seu nome, pelos filhos de seu marido. Defende o direito ao aborto, o casamento entre pessoas de mesmo sexo, igualdade racial e, claro, os direitos dos imigrantes. Ex-procuradora-geral do Estado da Califórnia, ela defende a reforma da polícia, para evitar o excesso de violência, sobretudo contra os negros. Pence segue a linha de Trump, com ênfase na defesa da polícia em geral, e o diagnóstico de que os abusos policiais são um problema individual, não estrutural.

    Ambos são bons debatedores. Pence teve um bom desempenho no duelo em 2016 com o candidato democrata a vice, o senador Tim Kaine. 

    Harris, com sua experiência no Ministério Público, teve um papel contundente em julho de 2018 na sabatina de Brett Kavanaugh, nomeado juiz da Corte Suprema por Trump, na Comissão de Justiça do Senado, da qual era integrante. Kavanaugh foi acusado de estupro quando jovem. Ela também deu um calor em Biden durante debate das primárias democratas, cobrando dele por ter sido contra verbas para ônibus que levavam estudantes negros para escolas em áreas predominantemente brancas, nos anos 70. “Eu era uma dessas crianças”, disse ela.

    A senadora treinou para o debate nos últimos dias com Pete Buttigieg no papel de Pence. Buttigieg também foi pré-candidato democrata a presidente. Como ex-prefeito de South Bend, Indiana, ele conhece bem Pence, que foi governador do estado. Pence teria praticado com Scott Walker, ex-governador de Wisconsin, o mesmo que o treinou para o debate de 2016.

    O debate terá nove segmentos de dez minutos, cada um com um tema, que os organizadores não divulgaram. De qualquer forma, Pence e Harris terão que apresentar planos convincentes para os grandes problemas do país: o combate à pandemia, a recuperação econômica, as dificuldades de acesso à saúde, o aumento da violência e as questões ambientais. 

    Em todos esses casos, ficará visível a divisão ideológica entre ambos. Pence apresentará soluções com uma menor intervenção do setor público e incentivo das iniciativas dos indivíduos e empresas. Harris, que está bem à esquerda de Biden no Partido Democrata, mas ajustou seu discurso para as visões mais moderadas de seu companheiro de chapa, fará o oposto.

     

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