Navalny encerra greve de fome e envia mensagem de agradecimento a apoiadores

O principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, escreveu uma carta aos seus apoiadores para anunciar o fim da greve fome, que durou 24 dias. O texto também conta com agradecimentos ao apoio recebido durante o período de jejum voluntário. A mensagem foi publicada nas redes sociais do político. 

“Com o tremendo apoio de boas pessoas em todo o país e em todo o mundo, fizemos um tremendo progresso”, escreveu Navalny. No texto, ele relata momentos em que vivenciou violações de seus direitos na prisão. 

“Há dois meses, eles riram dos meus pedidos de assistência médica, não deram remédios e não permitiram que eu fosse transferido. Há um mês, eles riram na minha cara de frases como: ‘Posso descobrir meu diagnóstico?’ e ‘Posso ver meu próprio prontuário?”’.

Além de contar as experiências no cárcere e agradecer aos apoiadores, Navalny informou que recebeu assistência de um conselho de médicos civis, que acompanha a evolução do seu estado de saúde para reintroduzir a alimentação sólida.

No documento, o político afirma ter partido da equipe médica a orientação para interromper a greve de fome. “Os médicos, em quem confio plenamente, divulgaram ontem uma declaração dizendo que você e eu tínhamos conquistado o suficiente para eu encerrar a greve de fome”, escreveu.

Ainda segundo o texto, a situação de saúde de Navalny é estável e em breve ele poderá suspender o tratamento de readequação alimentar. Por fim, o político se solidariza com todas as pessoas que se compadeceram com a sua luta e iniciaram voluntariamente greves de fome em toda Rússia. “Eu nem conheço essas pessoas, mas elas fazem isso por mim”, disse.

“Amigos, meu coração está cheio de amor e gratidão por vocês, mas não quero que ninguém passe por sofrimento físico por minha causa”, complementou. Navalny finaliza o texto com agradecimentos e uma promessa: “obrigado, eu não vou decepcionar vocês”.

 Leia a carta completa:

Como disse Alice do “País das Maravilhas”: aqui você tem que correr para ficar parado. E para chegar a algum lugar, você precisa correr duas vezes mais rápido.

Corri, tentei, caí, fiz greve de fome, mas, mesmo assim, sem a sua ajuda, só quebrei a testa.

Com o tremendo apoio de boas pessoas em todo o país e em todo o mundo, fizemos um tremendo progresso. Há dois meses, eles riram dos meus pedidos de assistência médica, não deram remédios e não permitiram que eu fosse transferido. Há um mês, eles riram na minha cara de frases como: “Posso descobrir meu diagnóstico?” e “Posso ver meu próprio prontuário?”.

Obrigado – agora fui examinado duas vezes por um conselho de médicos civis. A última vez foi um pouco antes dos protestos. Eles fazem pesquisas e análises e me dão os resultados e as conclusões.

Os médicos, em quem confio plenamente, divulgaram ontem uma declaração dizendo que você e eu tínhamos conquistado o suficiente para eu encerrar a greve de fome. Pois bem, e – direi francamente – as palavras que as análises mostram: “num tempo mínimo não haverá ninguém para tratar”… parecem-me dignas de atenção.

Outro argumento que talvez tenha se tornado mais importante para mim foi que, em solidariedade comigo, várias pessoas diferentes iniciaram uma greve de fome, incluindo representantes das “Mães de Beslan”. Lágrimas escorreram de meus olhos enquanto li isso. Senhor, eu nem conheço essas pessoas, mas elas fazem isso por mim.

Amigos, meu coração está cheio de amor e gratidão por vocês, mas não quero que ninguém passe por sofrimento físico por minha causa. Não retiro a exigência de ter um médico para mim – perco a sensibilidade das partes dos meus braços e pernas, e quero entender o que é e como tratar, mas levando em consideração o progresso e todas as circunstâncias, eu começo a sair da greve de fome. Pelas regras, vai demorar os mesmos 24 dias e, dizem, é ainda mais difícil. Portanto, desejo-lhe boa sorte.

Mais uma vez: este é apenas o seu mérito. Pessoas gentis e atenciosas em todo o mundo. Obrigado, eu não vou decepcionar vocês.