‘Não quero voar de novo’, diz sobrevivente de acidente aéreo na Índia
Passageiro voltava para casa depois de 2 anos fora do país; pandemia da Covid-19 o obrigou a tirar licença do trabalho e retornar à Índia
Sentado na última fileira do avião, Muhammed Junaid sentiu que algo estava errado quando o voo IX 1344 da Air India Express, que havia decolado em Dubai, foi sacudido por ventos fortes, quando se aproximada da cidade de Kozhikode, no sul da Índia, na noite de sexta-feira.
Em vez de desacelerar, disse Junaid, o Boeing-737 pareceu ganhar velocidade, indo além da pista escorregadia, molhada por fortes chuvas, e caindo em uma ladeira acentuada, se partindo em dois.
“Todas essas coisas aconteceram em 15 segundos”, disse ele à Reuters, por telefone, neste sábado (8).
Dezoito dos 190 passageiros e tripulantes, incluindo os dois pilotos, morreram, disseram autoridades, no que foi o pior acidente de avião de passageiros na Índia desde 2010. Dezesseis pessoas ficaram gravemente feridas.
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Junaid e vários outros passageiros, sentados na parte de trás da aeronave, saíram dos destroços no Aeroporto Internacional de Calicut, perto de Kozhikode, quase ilesos. Por volta da meia-noite, Junaid voltou para casa em Elathur, a uma hora do aeroporto.
Ele conta que apenas a cabeça estava dolorida de bater no teto e os lábios sangraram um pouco. “Nada aconteceu comigo, graças a Deus”, disse.
Escapando de uma pandemia
Junaid, 25, mudou-se para Dubai há três anos para trabalhar como contador em uma firma de trading.
Ele era o único assalariado em sua família, de quatro membros, e mandava para casa cerca de metade dos 4.000 dirhams (US$ 1.000) que ganhava por mês.
Mas depois que a pandemia se espalhou, os negócios da empresa diminuíram, e ele recebeu apenas metade de seu salário em maio.
“Meu chefe me disse para tirar dois ou três meses de licença e voltar quando tudo estiver bem”, contou.
Encontrar um caminho de volta para casa não foi fácil, porque a Índia havia fechado suas fronteiras internacionais em março. Junaid se inscreveu no programa de repatriação de voos do governo indiano em maio, mas não obteve resposta por dois meses.
Em 1º de agosto, foi informado de que haveria voos entre Dubai e o estado de Kerala, onde Kozhikode está localizado, durante um período de duas semanas. Ele pagou 880 dirhams pelo vôo de sexta-feira.
“Eu estava voltando para a Índia depois de quase dois anos, então estava muito animado para ver minha família e todos os outros”, disse ele.
Tripulação da cabine
Alguns assentos à frente de Junaid, Muhammad Shafaf, de 28 anos, também estava voltando para casa de Dubai depois de passar sete meses lá procurando, sem sucesso, por um emprego.
Quando a aeronave saiu da pista e despencou de uma colina, Shafaf disse que pensou que era o fim, temendo que um incêndio começasse e o engolisse.
“A tripulação de bordo nos garantiu de que não havia necessidade de nos preocuparmos com um incêndio. Disseram que o motor estava desligado”, contou Shafaf, que ficou com hematomas no nariz e nos pés.
Enquanto estava sentado, ainda atordoado, perto da cauda da aeronave destruída, Junaid também disse que se lembrava da tripulação de cabine acalmando os passageiros e ajudando os que estavam espremidos entre os assentos destroçados.
Após uma espera de 45 minutos, durante a qual funcionários de emergência ajudaram os passageiros a saírem dos destroços da frente do avião, Junaid e os demais na parte de trás foram ajudados a descer.
Agora descansando em casa e aguardando um teste de coronavírus, Junaid disse que quer ficar longe de aviões. “Estou realmente com medo”, revelou. “Não quero voar de novo.”