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    ‘Não há dois papas’, diz Bento 16 sobre possível influência sobre Francisco

    O papa emérito falou ainda sobre as teorias disseminadas por pessoas próximas a ele sobre os motivos que o teriam levado a deixar o papado, em 2013

    Raphael Coraccini, colaboração para a CNN

    O papa emérito Bento 16 disse, em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, que pessoas próximas a ele continuam a acreditar na versão de que ele abdicou do seu cargo por pressões externas. Ele responde dizendo que deixou o posto por conta da idade e nega que tenha participação no papado de Francisco: “Não há dois papas, o papa é um só”.

    Morando no mosteiro de Mater Ecclesiae, na Cidade do Vaticano, desde que abandonou o cargo máximo da Igreja Católica, o alemão Joseph Ratzinger deixou a Cátedra de São Pedro há 8 anos em uma decisão inédita na Instituição.

    Antes de Ratzinger, nenhum papa havia abdicado da sua condição. “Foi uma decisão difícil”, explicou, “mas tomei-a em plena consciência, e acredito que fui muito bem”, disse o antecessor de Francisco.

    Ele comenta que, alguns amigos, “um tanto fanáticos”, ainda estão irritados com a sua decisão.

    Segundo Ratzinger, eles “acreditam nas teorias de conspiração. Alguns disseram que (a aposentadoria) foi por causa do escândalo Vatileaks, outros por causa de um complô do lobby gay, outros ainda por causa do caso do teólogo conservador Lefebvrian Richard Williamson. Eles não querem acreditar em uma escolha feita conscientemente. Mas a minha consciência está limpa”, disse o ex-papa.

    O escândalo “Vatileaks” surgiu em 2012, um ano antes de Bento XVI abrir mão do papado. O caso diz respeito ao vazamento de documentos do Vaticano, entre eles, cartas do ex-secretário-geral do Governatorato da Cidade do Vaticano, Carlo Maria Viganó. As cartas tratavam de casos de corrupção entre os banqueiros do Vaticano e até uma suposta conspiração para matar o papa em exercício.

    Outro ponto delicado citado por Ratzinger está relacionado a uma suposta pressão de autoridades gays do vaticano para que Bento 16 deixasse o comando da Igreja. Um dia antes da eleição de Francisco como pontífice, o jornal Independent soltou uma matéria bombástica sobre o Vaticano ter gasto 23 milhões de euros em um complexo em Roma que abrigava a maior sauna gay da Europa.

    Quanto ao caso de Williamson, o então bispo britânico foi condenado em 2010 por falas racistas ao afirmar a uma rede de televisão suíça, em 2009, que o holocausto não havia existido. Williamson negou que milhões de judeus tenham sido mortos pelo regime nazista. Bento XVI havia suspendido a excomunhão de Williamson, formalizada em 1988 por João Paulo 2º.

    Supostamente, Bento desconhecia o histórico do bispo e, em 2012, admitiu ter errado no processo de anulação da excomunhão do bispo. “Me foi dito que consultar a informação disponível na internet teria tornado possível perceber o problema no início. Eu aprendi a lição de que a Santa Sé terá que prestar mais atenção a essa fonte de notícias”, disse o então pontífice, à época.

    Biden e Francisco

    Ao jornal italiano, Ratzinger comentou ainda sobre Joe Biden, o primeiro presidente americano católico desde John Kennedy. O papa enalteceu o fato de Biden ser “pessoalmente contra o aborto”, mas ressaltou que não sabe ainda qual sua posição com relação à política de gênero. Segundo a reportagem, o papa emérito “dá voz” à “hostilidade de uma grande parte do episcopado dos EUA para com Biden e seu partido, considerado muito liberal”.

    O papa emérito diz ainda que a viagem de Francisco ao Iraque entre os dias 5 e 8 de março acontece “em um momento muito difícil, que também a torna uma viagem perigosa: por motivos de segurança e da Covid”, diz Ratzinger. “A situação é instável no Iraque. Acompanharei Francisco com minha oração”. O Vaticano já vacinou Bento 16, que tem 93 anos, e Francisco, com 84.

    Papa Francisco durante leitura de mensagem no Vaticano
    Papa Francisco durante leitura de mensagem no Vaticano
    Foto: Reuters (20.jan.2021)

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