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    Não explorem a religião na política, pede papa Francisco em visita à Eslováquia

    Pontífice afirma que cruz não deve ser reduzida a objeto de devoção ou, muito menos, a símbolo político e sinal de prestígio religioso e social

    Philip Pullellada Reuters

    O papa Francisco disse nesta terça-feira (14) que a cruz não deveria ser usada como símbolo político e alertou os cristãos a não tentarem ser triunfalistas, uma crítica aparente ao uso da religião para fins partidários.

    Francisco voou a Presov, cidade do leste da Eslováquia onde presidiu a Liturgia Divina, um longo rito bizantino usado pelas igrejas orientais e ortodoxas. O papa teceu sua homilia com o tema da identidade cristã, dizendo que cruzes e crucifixos muitas vezes são usados pelos cristãos superficialmente.

    Falando a cerca de 30 mil fiéis, ele disse que muitos cristãos têm cruzes e crucifixos no pescoço, nas paredes de suas casas, nos carros e nos bolsos, mas nenhuma relação verdadeira com Jesus.

    “Que bem isto faz, a menos que paremos de olhar o Jesus crucificado e abramos nossos corações a ele?”, questionou. “Não reduzamos a cruz a um objeto de devoção, muito menos a um símbolo político, a um sinal de prestígio religioso e social.”

    Em 1950, também em Presov, as autoridades comunistas obrigaram os católicos do rito oriental, que deve sua lealdade ao papa, a se integrarem à Igreja Ortodoxa. Vários clérigos do rito oriental que se recusaram foram presos.

    Na Hungria, onde o papa fez uma breve parada no domingo (12), o primeiro-ministro Viktor Orbán apela ao sentimento religioso em sua política anti-imigrante e nacionalista dizendo que a herança cristã de seu país corre risco de desaparecer.

    Depois de seu encontro com o papa, Orbán disse que pediu ao pontífice “para não deixar a Hungria cristã perecer”. Francisco afirmou na Hungria que o país pode preservar suas raízes cristãs enquanto se abre para os necessitados.

    Alerta contra ‘guerras culturais’

    Na liturgia desta terça, o papa também pareceu alertar os cristãos contra o uso de sua religião nas chamadas guerras culturais que ele acredita prejudicar o bem comum.

    “Quantas vezes desejamos um cristianismo de vencedores, um cristianismo triunfalista que seja importante e influente, que receba glória e honra?” ele disse.

    Na Eslováquia, o Partido Popular Nossa Eslováquia, de extrema-direita, afirma ter três pilares – cristão, nacional e social – e prometeu prevenir a imigração de refugiados, em sua maioria muçulmanos.

    “A cruz não é uma bandeira a ser agitada, mas a fonte pura de uma nova maneira de viver”, disse Francisco, acrescentando que um verdadeiro crente “não vê ninguém como inimigo, mas todos como irmão ou irmã”.

    Vários partidos políticos na Europa, incluindo vários partidos de extrema-direita no leste europeu, usam cruzes em suas bandeiras ou símbolos.

    Na Hungria, um dos aliados do governo de Orbán, o minúsculo Partido Popular Democrático Cristão (KDNP), usa uma cruz em seu símbolo. O nacionalista de extrema direita Partido Nossa Pátria (Mi Hazank) usa a cruz bizantina, com duas vigas horizontais.

    Também nesta terça, o papa visitou uma das comunidades mais pobres da Eslováquia, um assentamento de ciganos, onde condenou o preconceito e a discriminação contra eles, dizendo ser errado categorizar grupos étnicos inteiros.

    Em seguida, ele organizou um comício com jovens católicos eslovacos com a presença de cerca de 20.000 pessoas em um estádio em Kosice antes que de voltar para Bratislava. Francisco deve retornar a Roma na quarta-feira (15).

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