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    Na Índia, estudante muçulmana incita protestos contra intolerância religiosa

    Muskan Khan tornou-se símbolo da perseguição à mulheres por radicais do hinduísmo

    Rhea MogulManveena SuriSwati Guptada CNN

    Uma estudante universitária vestindo burca tornou-se um símbolo de resistência no estado indiano de Karnataka, onde as tensões religiosas estão aumentando sobre o direito de usar roupas religiosas na escola.

    Muskan Khan estava entregando um trabalho universitário na cidade de Mandya quando foi abordada por um grupo de homens hindus usando lenços cor de açafrão – a cor do partido governante da Índia, BhaMuskan Khanratiya Janata (BJP) – de acordo com vídeo postado nas redes sociais.

    Os homens a perturbam enquanto ela atravessa o terreno da escola, exigindo que ela tire a cobertura do rosto, mas em vez de obedecer, Khan grita “Allahu Akbar” enquanto ela levanta o punho no ar.

    O confronto ilustra a divisão religiosa que vem aumentando em Karnataka desde que um grupo de meninas começou a protestar do lado de fora de sua escola em janeiro, depois que lhes foi negada a entrada na sala de aula por usar hijab.

    As meninas fizeram uma petição ao tribunal superior do estado para suspender a proibição, provocando protestos rivais de estudantes hindus de direita. O tribunal encaminhou a ação a um painel maior de juízes, mas nenhuma data foi marcada paraaudiência.

    Ashok Swain, representante da Unesco, compartilhou o vídeo do momento em que Muskan Khan é perseguida pelo grupo de homens.

    https://twitter.com/ashoswai/status/1490951544795467776?s=20&t=XMgw-8jEWHApIK94MFh2aQ

    Ativistas dizem que a disputa é mais um exemplo de uma tendência mais ampla na Índia – que tem visto uma repressão à população muçulmana minoritária da Índia desde que o BJP do primeiro-ministro Narendra Modi chegou ao poder há quase oito anos.

    Eles dizem que ao negar às mulheres muçulmanas a escolha de usar o hijab, o governo está negando suas liberdades religiosas, consagradas na constituição indiana.

    “Esta é uma tentativa massiva do BJP de homogeneizar a cultura indiana, de torná-la um estado exclusivamente hindu”, disse a ativista muçulmana Afreen Fatima, de 23 anos. “Mulheres muçulmanas estão isoladas na Índia. E a situação está piorando a cada dia”.

    Uso do hijab

    O que começou como um pequeno protesto ganhou as manchetes nacionais depois que várias outras instituições educacionais administradas pelo governo em Karnataka negaram a entrada de estudantes usando hijabs.

    Desde então, os protestos se espalharam para outras cidades. Dezenas de estudantes saíram às ruas na capital da Índia, Delhi, neste mês, segurando cartazes e gritando slogans para expressar sua indignação com a proibição.

    Nesta terça-feira (8), Karnataka ordenou o fechamento de todas as escolas e faculdades por três dias em meio às crescentes tensões. E as autoridades da capital do estado, Bangalore, proibiram protestos fora das escolas por duas semanas.

    Estudantes muçulmanas protestam na Índia / Reuters

    Para muitas mulheres muçulmanas, o hijab é parte integrante de sua fé. Embora tenha sido visto como fonte de controvérsia em alguns países ocidentais, na Índia não é proibido nem restrito o uso em locais públicos.

    O ministro da educação de Karnataka, BC Nagesh, disse que apoia a proibição do hijab em instituições educacionais, citando o mandato do estado sobre trajes religiosos. “O governo é muito firme ao dizer que a escola não é uma plataforma para praticar o dharma (religião)”, disse à afiliada da CNN.

    Mas especialistas dizem que a questão é mais profunda do que um código de vestimenta. De acordo com o advogado Mohammed Tahir, que representa um grupo de peticionários no tribunal, Karnataka é um “viveiro” da ideologia Hindutva apoiada por muitos grupos de direita, que buscam fazer da Índia a terra dos hindus.

    O estado proibiu a venda e o abate de vacas, um animal considerado sagrado para os hindus. Também introduziu um controverso projeto de lei que dificulta o casamento de casais inter-religiosos ou a conversão de pessoas ao islamismo ou Cristianismo.

    Para Tahir, a tensão religiosa no estado provavelmente aumentará antes das eleições estaduais no próximo ano. “Essas questões (como a proibição do hijab) são muito fáceis de polarizar toda a comunidade por votos”, disse ele.

    A CNN tentou entrar em contato com as autoridades estaduais, mas não recebeu resposta.

    Mulheres muçulmanas sob perigo

    A disputa do hijab segue uma série de ataques online contra mulheres muçulmanas na Índia. Em janeiro, o governo indiano estava investigando um site que fingia oferecer mulheres muçulmanas à venda. Foi a segunda vez em menos de um ano que um leilão online falso desse tipo provocou indignação no país.

    “Eles vieram atrás de nós online”, disse Fátima, que apareceu no aplicativo. “Agora, estão mirando diretamente em nossa prática religiosa. Começou em uma faculdade e cresceu. Não tenho motivos para acreditar que terminará aí”.

    Nesta semana, Malala Yousafzai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, se manifestou sobre as tensões. “A objetificação das mulheres persiste – por usarem menos ou mais. Os líderes indianos devem parar a marginalização das mulheres muçulmanas”, escreveu ela no Twitter.

    O presidente da Federação de Estudantes da Índia, VP Sanu, criticou a proibição do hijab, dizendo que foi usado “como uma razão para negar o direito das mulheres muçulmanas à educação”.

    Modi se referiu brevemente às mulheres muçulmanas em um discurso em Uttar Pradesh, quando o estado começou a votar nas eleições locais. O primeiro-ministro disse que seu governo “está com todas as mulheres muçulmanas vítimas”.

    Ele não citou à proibição do hijab, mas disse que o governo deu “liberdade” às ​​mulheres muçulmanas ao eliminar a controversa prática muçulmana do triplo talaq, que permite que um homem muçulmano se divorcie de sua esposa simplesmente dizendo a palavra árabe para divórcio, “talaq”, três vezes.

    O governo indiano criminalizou a prática em 2019.

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