Mundo não se adapta rápido o suficiente às mudanças climáticas, diz ONU
Financiamento para obras estruturais em países pobres e em desenvolvimento é um dos principais pontos da COP26, mas acordo pena em sair
A distância entre os impactos da crise climática e os esforços mundiais para a adaptação está aumentando, de acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
O relatório anual sobre o “gap de adaptação”, divulgado na quinta-feira (04) à margem da cúpula da COP26 sobre mudanças climáticas em Glasgow, constatou que os custos estimados de adaptação aos piores efeitos do aumento das temperaturas em países de baixa renda – como secas, inundações e elevação do nível do mar – são cinco a dez vezes a quantidade de dinheiro que circula atualmente nessas regiões.
Além de se comprometerem a limitar o aquecimento global, no Acordo de Paris de 2015, os governos dos países ricos reafirmaram seu compromisso de contribuir com US$ 100 bilhões por ano para as nações mais pobres para que possam declinar do uso de combustíveis fósseis e se adaptar aos desastres causados pelas mudanças climáticas.
Isto porque as nações em desenvolvimento, especialmente as do sul global, têm maior probabilidade de sofrer os piores efeitos da crise climática, apesar de contribuírem pouco para as emissões globais de gases de efeito estufa.
Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA, disse que é por isso que o financiamento climático – voltado a países de baixa renda para combater a crise climática – é vital.
“O Acordo de Paris diz que o financiamento para adaptação e mitigação deve estar em algum grau de equilíbrio”, disse Andersen à CNN. “Aqueles que mais vão sofrer são os dos países mais pobres, por isso é fundamental garantir um grau de equidade e solidariedade global para o financiamento da adaptação”.
Promessas aquém de necessidades
No entanto, o relatório conclui que os US$ 100 bilhões por ano – uma promessa que os países ricos não cumpriram até agora – não é suficiente para atender à demanda.
Os custos de adaptação para países de baixa renda atingirão US$ 140 bilhões a US$ 300 bilhões por ano até 2030 e US$280 bilhões a US$ 500 bilhões por ano até 2050, informa o PNUMA.
Em 2019, apenas US$ 79 bilhões de financiamento climático foram para as nações em desenvolvimento, de acordo com as últimas análises. Ao passo que a crise climática se intensifica, as medidas de adaptação estão se tornando mais críticas.
Os cientistas disseram que o mundo deveria tentar manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, o limiar para evitar os piores impactos.
Entretanto, o relatório sugere que este limiar será atingido mais cedo do que o esperado, e alguns dos impactos climáticos já são irreversíveis. Incêndios, secas, ondas de calor recorde e enchentes mortais aterrorizaram partes do hemisfério norte neste verão do norte.
“Embora uma forte mitigação seja o caminho para minimizar impactos e custos de longo prazo, uma maior ambição em termos de adaptação, particularmente para financiamento e implementação, é essencial para evitar que as lacunas existentes se ampliem”, escreveram os autores do relatório.
Cerca de 79% dos países adotaram pelo menos um plano, política ou estratégia de adaptação climática, um aumento de 7% desde 2020. Enquanto isso, 9% dos países que atualmente não têm um plano ou política em vigor estão no processo de desenvolvimento de um.
Mas o relatório diz que a implementação dessas medidas de adaptação está empacado. Outro relatório do PNUMA indica que, em 2030, o mundo ainda estará produzindo cerca de 110% mais carvão, petróleo e gás do que o necessário para limitar o aquecimento a 1,5 graus, o que agravará os eventos climáticos extremos causados pela mudança climática e tornará a adaptação ainda mais importante.
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As casas do projeto chamado Tacla, na Itália, podem ser construídas por impressoras em cerca de 200 horas, consumindo, em média, 6 kW de energia. É preciso apenas uma equipe de duas pessoas para colocar uma residência dessa de pé, e os resíduos podem ser quase totalmente eliminados • Fórum Econômico Mundial/Iago Corazza
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A Heart of School ajudou a facilitar o uso do bambu nas construções de Bali, na Indonésia. Além dos 400 alunos de ensino básico, a escola recebe arquitetos, designers, engenheiros, defensores do meio ambiente e entusiastas interessados em aprender a construir com bambu • Fórum Econômico Mundial/divulgação
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O prédio da Universidade de Ânglia Oriental, no Reino Unido, é construído com vigas de pinho de origem local, 70% do cimento foi substituído por um subproduto da indústria siderúrgica, reduzindo o carbono, e a mistura de concreto usa areia local reciclada • Fórum Econômico Mundial/Dennis Gilbert
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O Woodside Building, da Universidade de Monash, em Melbourne, Austrália, tem tecnologia para atingir carbono zero até 2030. A capacidade térmica dos vidros e a ventilação mecânica da construção são capazes de reduzir o uso de energia. Além disso, a reutilização da água e a produção de energia solar são outros pontos de destaque • Fórum Econômico Mundial/Michael Kai
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O Powerhouse, que fica em Trondheim, na Noruega, gera mais energia renovável durante sua fase operacional do que foi usado durante a fase de construção. O prédio também foi construído sem utilização de combustível fóssil (sem emissões diretas de carbono) • Fórum Econômico Mundial/Ivar Kvaal
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O Sara Cultural Center, na Suécia, é um dos edifícios de madeira mais altos do mundo e foi construído com material retirada de florestas geridas de forma sustentável, localizadas a 200 km do local, com a madeira sendo processada a 50 km do canteiro de obra, o que reduziu a necessidade de transporte e a emissão de gases ao longo de toda a cadeia • Fórum Econômico Mundial/Patrick Degerman
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A ecovila urbana do Instituto Favela da Paz, em São Paulo, conta com tecnologias caseiras como biodigestores, que transformam resíduos orgânicos em gás de cozinha, que é entregue à comunidade. O prédio também tem aquecimento solar de água e fornece água quente para quem não pode pagar por um chuveiro elétrico • Fórum Econômico Mundial/Instituto Favela da Paz
Alternativas
Em um fórum sobre países vulneráveis na COP26 esta semana, o Secretário Geral da ONU, António Guterres, exortou as nações ricas, bancos e acionistas a “reservar metade de seu financiamento climático para a adaptação” e a “fornecer alívio da dívida” às nações de baixa renda.
“Os países vulneráveis devem ter acesso mais rápido e fácil ao financiamento”, disse Guterres. “Exorto o mundo desenvolvido a acelerar a entrega dos 100 bilhões de dólares para reconstruir a confiança. Os países vulneráveis precisam dele para adaptação e mitigação. (Eles) não são a causa de perturbações climáticas”.
De acordo com os autores do relatório, uma maneira de abordar esta questão é usar os pacotes de estímulo à recuperação da Covid-19 como uma oportunidade para fornecer medidas de adaptação ecológicas e resilientes aos países em desenvolvimento.
As duplas crises da mudança climática e da pandemia têm exercido pressão sobre as capacidades econômicas e de resposta a desastres, mas os autores dizem que isto mostra que o mundo pode se adaptar aos piores impactos do aquecimento da temperatura.
Andersen disse que uma coisa é clara: “Quanto mais atrasarmos a ação climática, mais importante será a adaptação, especialmente para os mais pobres, que serão os mais duramente atingidos”.
*Este texto foi traduzido. Leia o original, em espanhol