Morre Chuck Yeager, aviador lendário da 2ª Guerra e 1º a romper barreira do som
Yeager foi tido como um dos maiores aviadores da história, o 1º "supersônico". Em 1947, quebrou barreira do som em voo fundamental para exploração espacial
Charles “Chuck” Yeager, o piloto de testes americano reconhecido como a primeira pessoa a quebrar a barreira do som, há mais de 70 anos, morreu nesta segunda-feira (7), aos 97 anos. Um dos aviadores mais brilhantes da história, considerado um ás do Exército americano, ele também é lembrado por comandar esquadrões na II Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã.
Seu feito de voar a cerca de 1.126 quilômetros por hora em 1947 foi fundamental para possibilitar a exploração espacial. Não à toa, é um dos personagens de maior destaque no livro “The Right Stuff” (“Os Eleitos”), de Tom Wolfe, que conta as origens da conquista do espaço.
A morte de Yeager, o primeiro homem supersônico do mundo, foi anunciada em sua conta no Twitter por sua esposa, Victoria.
“É com profunda tristeza que digo que minha vida, amor, General Chuck Yeager faleceu pouco antes das 21h. Uma vida incrível e bem vivida, o maior piloto da América e um legado de força, aventura e patriotismo que serão lembrados para sempre”, escreveu Victoria Yeager.
Yeager era um nome improvável para se tornar um dos aviadores mais famosos da história. Ele ingressou no Corpo Aéreo do Exército dos EUA em 1941 apenas para trabalhar nos motores dos aviões, não para pilotá-los.
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Sua primeira viagem de avião, aliás, o fez vomitar.
Mais tarde, ele foi preterido para o programa espacial dos EUA por não ter uma faculdade, mas não se abalou por não se tornar um astronauta. Ele os considerava meros passageiros “acionando os interruptores corretos nas instruções do solo”.
Apesar dessa recusa, o autor Tom Wolfe ficou tão impressionado com a aparência do homem rude de Yeager que o fez um dos personagens de maior destaque em “The Right Stuff” (“Os Eleitos”), seu livro de 1979 sobre os primeiros dias do programa espacial.
Wolfe disse que Yeager foi abençoado com “as coisas certas” que o tornaram um lendário piloto de testes, mas o próprio piloto dizia que aquilo era mais uma questão de sorte. Ele dizia ter uma visão melhor do que a média e um conhecimento completo de seus aviões.
Esses atributos serviram bem a Yeager na Segunda Guerra Mundial. Ao pilotar um Mustang P-51 chamado Glamorous Glennis em homenagem a sua namorada (Glennis Dickhouse) ele teria derrubado 12 aviões alemães – incluindo cinco em um único duelo.
Depois da guerra, o americano se tornou um piloto de teste e foi designado para a Base Aérea de Muroc, na Califórnia, como parte do projeto secreto XS-1, que tinha como objetivo atingir Mach 1, a velocidade do som.
Yeager era um capitão de 24 anos, testando uma dúzia de aviões por semana, quando superou o som pela primeira vez em 14 de outubro de 1947, em uma aeronave Bell X-1 laranja brilhante.
Costelas quebradas
O piloto de teste havia quebrado duas costelas em um acidente de cavalgada alguns dias antes da façanha e sentia muita dor, mas não disse a seus superiores por medo de ser retirado do experimento.
Um bombardeiro B-29 carregou o X-1 por 7.925 m sobre o deserto de Mojave, na Califórnia, e o deixou ir. Nem Yeager nem os engenheiros de aviação sabiam se o avião – ou o piloto – seriam capazes de lidar com a velocidade sem precedentes sem colapsar.
Mas Yeager levar o avião a cerca de 1.126 quilômetros por hora – quebrando, assim, a barreira do som – e a 13.000 metros, como se fosse um voo de rotina.
Ele então trouxe calmamente a nave, que também recebeu o nome de Glennis (então sua esposa), deslizando até o leito de um lago seco, 14 minutos depois de ter sido solta em um voo que foi um passo significativo para a exploração espacial.
“Fiquei pasmo”, escreveu ele em sua autobiografia de 1985, intitulada “Yeager”.
“Depois de toda a ansiedade, quebrar a barreira do som acabou sendo uma estrada perfeitamente pavimentada.”
Yeager não se incomodava de fazer um trabalho que o levava à beira da morte a cada dia – como em um voo de 1953 em que ele pousou com segurança após perder o controle da aeronave por 51 segundos.
“É seu dever pilotar o avião”, disse ele a um entrevistador. “Se você for morto nele, você não sabe nada sobre isso de qualquer maneira, então por que se preocupar com isso?”
Charles Elwood Yeager nasceu em Myra, West Virginia, em 13 de fevereiro de 1923, um dos cinco filhos de seus pais. Quando garoto, gostava de matemática e podia digitar 60 palavras por minuto – uma indicação da coordenação olho-mão que o serviria tão bem na cabine.
Yeager não tinha interesse em aviões quando jovem – ele nem viu um até os 18 anos, quando se juntou ao Corpo Aéreo do Exército dos EUA para ser mecânico.
Após seu apogeu como piloto de testes, Yeager comandou esquadrões de caça e voou em 127 missões de combate durante a Guerra do Vietnã.
No início dos anos 1960, o piloto foi encarregado de ensinar técnicas de astronautas para funcionários da da Força Aérea, mas esse programa terminou quando o governo dos EUA decidiu não militarizar o espaço. Ainda assim, 26 pessoas treinadas por Yeager entraram em órbita como astronautas da Nasa.
Yeager alcançou o posto de general de brigada e, em 1997, comemorou o 50º aniversário de seu voo histórico, quando fez um F-15 ir além da velocidade do som. Ele então anunciou que era seu último voo militar.
Yeager se tornou uma espécie de sensação nas mídias sociais em 2016 aos 93 anos, quando começou a responder a perguntas do público no Twitter, com jeito brusco e às vezes ranzinza. Quando questionado sobre o que ele pensava sobre a lua, ele respondeu: “Ela está lá.”
Yeager e Glennis, que morreu de câncer em 1990, tinham quatro filhos. Ele se casou com Victoria Scott D’Angelo em 2003.
(Com informações de Bill Trott, da Reuters; e Pete Muntean e Hollie Silverman, da CNN)