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    Modelo nigeriana protesta contra violência policial em concurso de beleza russo

    Victoria Chiamaka Udeh protestou contra a repressão policial e em memória dos jovens que perderam a vida durante os protestos #EndSars na Nigéria em 2020

    Nimi Princewill, da CNN

    Enquanto Victoria Chiamaka Udeh desfilava com confiança pela passarela durante um concurso de beleza na Rússia, brandindo a bandeira manchada de vermelho de seu país, ela pensava apenas em uma coisa – os jovens que perderam a vida durante os protestos #EndSars na Nigéria no ano passado.

    A estudante e modelo nigeriana tinha a intenção de usar a plataforma Miss África Rússia para fazer uma declaração sobre as manifestações de brutalidade anti-policial que abalaram seu país em outubro passado e que culminaram com o disparo das forças de segurança contra manifestantes desarmados no pedágio de Lekki.

    “Eu pensei ‘agora eu não me importo com o que os juízes pensam sobre o que estou fazendo.’ O que importou para mim foi usar a plataforma que a Miss África Rússia me deu para passar uma mensagem “, disse Udeh, 23, à CNN de Stavropol, sudoeste da Rússia, onde está estudando medicina.

    Em um vídeo do evento de 13 de junho que se tornou viral nas redes sociais, Udeh é vista no palco vestindo as cores verde e branco da Nigéria e segurando uma bandeira vermelha. Ela disse que a faixa simboliza o sangue de jovens manifestantes que perderam suas vidas no ano passado.

    “Eu fui para a competição para vencer…Eu queria vencer. Mas chegando em Moscou…vencer não importava mais para mim. Eu só queria retratar e criar consciência sobre o que aconteceu no dia 20 de outubro de 2020, e a recente situação de insegurança na Nigéria”, disse ela.

    Um painel judicial – organizado pelas autoridades – tem investigado relatos de brutalidade policial e da violenta repressão contra os manifestantes #EndSars pelo exército.

    ‘As pessoas estão perdendo suas vidas’

    A participação no concurso de Miss África na Rússia foi motivada primeiro por seu desejo de “quebrar estereótipos de beleza”, disse Udeh.

    “Naquele momento, eu não estava confortável com minha pele porque tinha muita acne em todo o rosto. Então, eu queria provar para mim mesma e para pessoas como eu que posso quebrar estereótipos de beleza e que as falhas em minha pele fazem parte do que me torna perfeita”, disse ela à CNN.

    Miss África Rússia é um concurso de beleza realizado todos os anos na Federação Russa para promover a cultura africana e homenagear as mulheres africanas que vivem no país.

    Udeh não venceu a competição, mas foi classificada como a melhor na categoria “escolha do povo” pelos organizadores.

    Ela diz que sua decisão de desfilar com a bandeira manchada se deu devido a uma das categorias da competição, que exigia que as competidoras passassem pela passarela com um vestido que representasse a cultura nigeriana.

    “Eu não tive acesso a um vestido tradicional, então me senti desde que tive acesso ao verde e ao branco. Decidi me vestir de verde e branco”, disse ela.

    No entanto, Udeh disse que usar as cores a deixou “muito emocionada”, o que levou à decisão de também carregar a bandeira. “As pessoas estão perdendo suas vidas todos os dias na Nigéria…então isso me incomodou”, ela acrescentou. “Pensei nas famílias que tiveram que lamentar a morte de seus entes queridos.”

    Protesto pacífico do movimento #EndSARS, em Lagos, na Nigéria
    Protesto pacífico do movimento #EndSARS, em Lagos, na Nigéria
    Foto: Reprodução/Twitter

    Udeh disse que sua declaração não foi uma tentativa de manchar a imagem do país.

    “Fiz isso por uma boa causa. Precisamos estar seguros em nosso país e não perder vidas todos os dias. Foi apenas um apelo ao governo nigeriano para tratar das questões de segurança do país”, disse ela.

    A Nigéria tem sido atormentada por um aumento da insegurança em muitas partes do país. Dezenas de agentes de segurança foram mortos por assaltantes armados e delegacias de polícia arrasadas em regiões do país da África Ocidental. Os sequestros por resgate aumentou no norte da Nigéria, onde centenas de crianças foram sequestradas desde dezembro.

    Homens armados continuam a aterrorizar as comunidades locais na região noroeste, enquanto o Boko Haram também intensificou os ataques no nordeste da Nigéria, supostamente hasteando bandeiras em suas áreas dominantes.

    Reações

    Enquanto isso, as ações de Udeh geraram rápidas condenações e elogios nas redes sociais. Alguns nigerianos descreveram sua atuação como antipatriótica, enquanto outros a consideraram corajosa.

    Um usuário do Twitter escreveu: “ESTÚPIDA DO ANO. Você pode desrespeitar quem quiser, mas NÃO desrespeite sua bandeira !! Essa é a sua identidade.”

    Outro usuário escreveu: “Ela exibiu a bandeira #Endsars para o mundo inteiro. Projetando a Nigéria para o mundo exterior. Usando a ferramenta mais poderosa à sua disposição. Ela merece elogios.”

    Uma advogada nigeriana-americana, Susan Henshaw, afirmou que “aparecer em um concurso com uma bandeira nigeriana profanada não foi nada além de um estratagema para enganar o público com sentimentos.”

    Udeh negou essa afirmação. “Não era uma forma de trapacear”, disse ela à CNN. “Essas são as opiniões das pessoas, e isso não importa para mim.”

    A aluna do quarto ano diz que não se intimidou com a reação negativa que recebeu. “Se eu tivesse aquela plataforma novamente, eu faria de novo”, disse ela.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês.)