“Milei não nega a ditadura, tenta minimizar os efeitos negativos dela”, diz especialista à CNN
Professoras de Relações Internacionais analisam as falas dos candidatos à Presidência da Argentina
![Javier Milei, candidato à presidência da Argentina do La Libertad Avanza Javier Milei, candidato à presidência da Argentina do La Libertad Avanza](https://preprod.cnnbrasil.com.br/wp-content/uploads/sites/12/2023/08/GettyImages-1236573525.jpg?w=1220&h=674&crop=1)
O cientista político e professor de Relações Internacionais Maurício Santoro comparou o candidato de extrema-direita à Presidência da Argentina, Javier Milei, ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para Santoro, ao contrário de Bolsonaro, Milei não nega a ditadura militar que houve em seu país, apenas tenta minimizá-la. O professor fez essa afirmação com base em falas do presidenciável argentina durante o primeiro debate de candidatos à Presidência do país, que aconteceu na noite do domingo (1º).
“Aqui, o Bolsonaro e pessoas do ciclo dele às vezes negam a ditadura. O Milei não nega a ditadura, ele tenta minimizar os efeitos negativos dela”.
A professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Bressan, por outro lado, defendeu que, ao tentar fazer uma revisão do número de mortos e desaparecidos da ditadura, Milei defendeu o autoritarismo.
“Ontem perguntaram sobre mortos e desaparecidos na Argentina durante a ditadura e Milei tentou corrigir o número para menos, acusando aqueles que foram contra a ditadura de cometerem violência. Essa fala, de alguma forma, defende o autoritarismo”, lembra a professora.
Centro das atenções
Para o cientista político e professor de Relações Internacionais, Maurício Santoro, colaborador do centro de estudos estratégicos da Marinha, o que chamou a atenção foi o fato de que Milei se tornou o centro das atenções no debate, “ele foi o candidato que os outros queriam enfrentar, então todos faziam perguntas pra ele.”
Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, é o candidato que representa a extrema-direita nas eleições da Argentina. Maurício Santoro tem articulado com acadêmicos e políticos argentinos para entender a situação da eleição no país. Segundo o professor, há um mês, todos acreditavam que o momento do Milei já tinha passado, que o candidato só tinha crescido em cima do descontentamento dos eleitores, mas não ia para frente. No dia 14 de agosto, veio a surpresa: Javier Milei superou todas as previsões nas eleições primárias, e obteve 30,04% dos votos.
Regiane Bressan também consultou intelectuais e políticos argentinos. “Em julho, conversei com um deputado que falou que não achava que o Milei tinha condições de ser presidente, que ele falava pouco enquanto parlamentar. Então o crescimento dele está sendo uma grande surpresa para a academia”. A professora avalia que os outros dois candidatos, Massa e Patricia, não estão sabendo lidar com o crescimento do candidato da extrema-direita, “não se preparam para o eleitorado do Milei, não tiveram tanto êxito no debate de ontem”.
Sergio Massa, da União pela Pátria, representa o governo do atual presidente, Alberto Fernández. Segundo Bressan, Massa está com certa dificuldade para conquistar mais votos devido ao desgaste do governo de Fernández. No debate, a professora avalia que o candidato da situação não teve uma “condição exitosa para aumentar os votos”.
Regiane Bressan ainda complementa: “se o Massa vier a ser o próximo presidente, vai ser com muita dificuldade e luta”.
“Massa é candidato de um governo que levou o país a uma situação dramática. Com essa inflação tão alta, os argentinos perderam a noção do valor. Fazer um planejamento financeiro para uma pessoa, família ou instituição é muito difícil. Ontem, Massa pediu para as pessoas não votarem com medo, para votarem com esperança”, complementa Maurício Santoro.
O crescimento de Milei
Para o cientista político Maurício Santoro, Milei está crescendo em cima da raiva e do descontentamento dos eleitores com o governo atual. “Ele chama a política tradicional de casta. Isso é um discurso que tem muita influência sobre os eleitores. Milei se apresenta como um forasteiro da política, ele se tornou político há dois anos e está propondo coisas que ninguém fez até agora”, pontua o professor.
Santoro lembra que, durante o debate, ao falarem sobre educação, todos os candidatos defenderam fortalecer o ensino público, com exceção de Milei, que apoiou a distribuição de vouchers para as famílias colocarem as crianças em escolas privadas.
O terceiro lugar
Patricia Bullrich, do Juntos pela Mudança, também está no pódio da disputa e representa a direita moderada. Santoro avalia que nessa eleição Bullrich vem com um discurso mais agressivo, tentando atrair os eleitores do Milei, sobretudo em questão de segurança pública.
Já Regiane Bressan compara o discurso da candidata Patricia Bullrich com o da Angela Merkel, Ex-Chanceler da Alemanha. “Ela falou muito de política de austeridade, que não é uma política popular. Ela que vem em terceiro lugar, eu não sei se ela conseguiu atrair o eleitorado do Milei, que também é de direita”.
Os próximos passos
Após esse primeiro debate, a professora Regiane Bressan enfatiza a importância das pesquisas dessa semana. O próximo debate será realizado no domingo (8), às 21h no horário de Brasília. O primeiro turno da eleição é em 22 de outubro.
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Veja quem são os candidatos à Presidência da Argentina
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Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina do La Libertad Avanza, foi o mais votado das eleições primárias. Suas principais propostas de campanha são a dolarização da economia argentina em etapas, a redução dos gastos estatais e a privatização de empresas públicas
Crédito: Tomas Cuesta/Getty Images - 2 de 5
Patricia Bullrich superou o prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, e foi a escolhida para concorrer à Presidência pela coalizão Juntos por el Cambio. Apesar de ainda não ter formalizado seu plano de governo, ela propôs algumas diretrizes em declarações: dolarização, medida contra inflação e luta contra greves e manifestações
Crédito: Ricardo Ceppi/Getty Images - 3 de 5
O então ministro da Economia de Alberto Fernández, Sergio Massa, concorre agora à Presidênca pela Unión por la Patria. O equilíbrio fiscal, o superávit comercial, o câmbio competitivo e o desenvolvimento com inclusão são os eixos principais do seu plano de governo, conforme afirmou em um programa de televisão
Crédito: Tomas Cuesta/Getty Images - 4 de 5
Juan Schiaretti cumpria seu terceiro mandato como governador de Córdoba e agora é candidato à Presidência da Argentina do Hacemos por Nuestro País. Ele defende um salário mínimo universal, a criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, o cancelamento do atual acordo do país com o FMI e uma taxa permanente sobre grandes fortunas
Crédito: Ricardo Ceppi/Getty Images - 5 de 5
Myriam Bregman, candidata à Presidência da Argentina da Frente de Izquierda y de Trabajadores – Unidad. Ela também defende o rompimento com o FMI e o não pagamento da dívida com o fundo. Além disso, ela propõe um programa "que a crise seja paga por quem a gerou" e a nacionalização dos bancos e do comércio exterior
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