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    “Milei não nega a ditadura, tenta minimizar os efeitos negativos dela”, diz especialista à CNN

    Professoras de Relações Internacionais analisam as falas dos candidatos à Presidência da Argentina

    Javier Milei, candidato à presidência da Argentina do La Libertad Avanza
    Javier Milei, candidato à presidência da Argentina do La Libertad Avanza Walter Manuel Cortina/Anadolu Agency via Getty Images

    Duda Cambraiada CNN

    São Paulo

    O cientista político e professor de Relações Internacionais Maurício Santoro comparou o candidato de extrema-direita à Presidência da Argentina, Javier Milei, ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

    Para Santoro, ao contrário de Bolsonaro, Milei não nega a ditadura militar que houve em seu país, apenas tenta minimizá-la. O professor fez essa afirmação com base em falas do presidenciável argentina durante o primeiro debate de candidatos à Presidência do país, que aconteceu na noite do domingo (1º).

    “Aqui, o Bolsonaro e pessoas do ciclo dele às vezes negam a ditadura. O Milei não nega a ditadura, ele tenta minimizar os efeitos negativos dela”.

    A professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Bressan, por outro lado, defendeu que, ao tentar fazer uma revisão do número de mortos e desaparecidos da ditadura, Milei defendeu o autoritarismo.

    “Ontem perguntaram sobre mortos e desaparecidos na Argentina durante a ditadura e Milei tentou corrigir o número para menos, acusando aqueles que foram contra a ditadura de cometerem violência. Essa fala, de alguma forma, defende o autoritarismo”, lembra a professora.

     

    Centro das atenções

    Para o cientista político e professor de Relações Internacionais, Maurício Santoro, colaborador do centro de estudos estratégicos da Marinha, o que chamou a atenção foi o fato de que Milei se tornou o centro das atenções no debate, “ele foi o candidato que os outros queriam enfrentar, então todos faziam perguntas pra ele.”

    Javier Milei, do partido La Libertad Avanza, é o candidato que representa a extrema-direita nas eleições da Argentina. Maurício Santoro tem articulado com acadêmicos e políticos argentinos para entender a situação da eleição no país. Segundo o professor, há um mês, todos acreditavam que o momento do Milei já tinha passado, que o candidato só tinha crescido em cima do descontentamento dos eleitores, mas não ia para frente. No dia 14 de agosto, veio a surpresa: Javier Milei superou todas as previsões nas eleições primárias, e obteve 30,04% dos votos.

    Regiane Bressan também consultou intelectuais e políticos argentinos. “Em julho, conversei com um deputado que falou que não achava que o Milei tinha condições de ser presidente, que ele falava pouco enquanto parlamentar. Então o crescimento dele está sendo uma grande surpresa para a academia”. A professora avalia que os outros dois candidatos, Massa e Patricia, não estão sabendo lidar com o crescimento do candidato da extrema-direita, “não se preparam para o eleitorado do Milei, não tiveram tanto êxito no debate de ontem”.

    Sergio Massa, da União pela Pátria, representa o governo do atual presidente, Alberto Fernández. Segundo Bressan, Massa está com certa dificuldade para conquistar mais votos devido ao desgaste do governo de Fernández. No debate, a professora avalia que o candidato da situação não teve uma “condição exitosa para aumentar os votos”.

    Regiane Bressan ainda complementa: “se o Massa vier a ser o próximo presidente, vai ser com muita dificuldade e luta”.

    “Massa é candidato de um governo que levou o país a uma situação dramática. Com essa inflação tão alta, os argentinos perderam a noção do valor. Fazer um planejamento financeiro para uma pessoa, família ou instituição é muito difícil. Ontem, Massa pediu para as pessoas não votarem com medo, para votarem com esperança”, complementa Maurício Santoro.

    O crescimento de Milei

    Para o cientista político Maurício Santoro, Milei está crescendo em cima da raiva e do descontentamento dos eleitores com o governo atual. “Ele chama a política tradicional de casta. Isso é um discurso que tem muita influência sobre os eleitores. Milei se apresenta como um forasteiro da política, ele se tornou político há dois anos e está propondo coisas que ninguém fez até agora”, pontua o professor.

    Santoro lembra que, durante o debate, ao falarem sobre educação, todos os candidatos defenderam fortalecer o ensino público, com exceção de Milei, que apoiou a distribuição de vouchers para as famílias colocarem as crianças em escolas privadas.

    O terceiro lugar

    Patricia Bullrich, do Juntos pela Mudança, também está no pódio da disputa e representa a direita moderada. Santoro avalia que nessa eleição Bullrich vem com um discurso mais agressivo, tentando atrair os eleitores do Milei, sobretudo em questão de segurança pública.

    Já Regiane Bressan compara o discurso da candidata Patricia Bullrich com o da Angela Merkel, Ex-Chanceler da Alemanha. “Ela falou muito de política de austeridade, que não é uma política popular. Ela que vem em terceiro lugar, eu não sei se ela conseguiu atrair o eleitorado do Milei, que também é de direita”.

    Os próximos passos

    Após esse primeiro debate, a professora Regiane Bressan enfatiza a importância das pesquisas dessa semana. O próximo debate será realizado no domingo (8), às 21h no horário de Brasília. O primeiro turno da eleição é em 22 de outubro.

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