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    “Meu marido se despediu e disse para eu não me culpar caso algo ocorresse”, diz sobrevivente de ataque em Israel

    Durante a invasão do kibutz Nir Izahk por integrantes do Hamas, Vivi Roytman e seu marido passaram mais de 10 horas dentro do “quarto seguro”

    Guilherme GamaManoela Carluccida CNN* , São Paulo

    No sábado (7), dia em que o grupo radical islâmico Hamas atacou Israel, um kibutz no sul do país era invadido por extremistas armados que mataram e raptaram grande parte dos moradores locais.

    A argentina Vivi Roytman, de 73 anos, e seu marido, de 72, foram acordados pelo barulho das sirenes por volta de 6h30 e logo correram para o “quarto seguro” que tinham dentro de sua própria residência.

    Ao entrar no cômodo, eles trancaram a porta e por lá ficaram, ouvindo o som dos mísseis e também de muitos tiros e gritos em árabe do lado de fora. Diferente de outras vezes, eles não saíram do quarto após 10 minutos. No celular, uma mensagem em um grupo de WhatsApp dos vizinhos dizia que o lugar havia sido invadido.

    Em entrevista à CNN, Vivi conta que por volta de 10h30 ouviu um ruído muito forte do lado de fora, como vidro quebrando. Eram os integrantes do Hamas entrando em sua casa.

    Eles tentaram arrombar a porta do “quarto seguro” diversas vezes, mas não conseguiram, pois uma fechadura trancava o local: “Nós tivemos muita sorte, mas outras pessoas não tiveram. Tenho uma grande amiga que está desaparecida, até hoje não tive mais notícias dela, muitos outros acabaram morrendo”.

    Durante as longas horas que passaram no cômodo, Vivi e o marido cogitaram sair algumas vezes, mas temiam ainda estar em perigo, como aconteceu depois da primeira vez que eles tentaram arrombar a porta. Além disso, recebiam mensagens a todo momento dizendo que o perigo ainda estava por perto.

    O marido dela, depois de um tempo, decidiu que sairia para averiguar a situação do lado de fora e também ajudar os necessitados. Nesse momento, os dois se despediram: “Não sabia se voltaríamos a nos ver”. Durante a despedida, ele pediu para que ela não se culpasse, caso algo viesse a acontecer com ele.

    Ele saiu, e Vivi conta ter sentido muito medo: “Comecei a aceitar que iria morrer, a pensar nos meus filhos e netos”. Por lá ela ficou por mais duas horas, aproximadamente. Durante todo o tempo, conversava com seus vizinhos por um grupo de WhatsApp, em que chegavam pedidos de ajuda.

    A última batida na porta do “quarto seguro” onde estava foi de seu marido, que dizia dizia: “Vivi, abra, pode abrir, o Exército chegou”.  Apreensiva, a argentina acreditou que seu esposo pudesse ter sido raptado. Quando abriu, contudo, o Exército realmente havia chegado.

    Neste momento, tiveram cerca de 20 minutos para pegar itens essenciais, como remédio e roupas, e deixar o local. Desde então, ela não voltou para casa.

    Veja também: Sobreviventes de ataque do Hamas em festa rave decidem lutar na guerra

    A residência estava toda destruída, relata Vivi, e muitos pertences pessoais e valiosos, como heranças de sua mãe e avó, foram levados. Até hoje, ela não recebeu notícias de várias pessoas que foram raptadas do kibutz, famílias inteiras, incluindo crianças e idosos.

    Alguns colegas faleceram em decorrência da explosão de suas casas, outros por conta de não querer sair do “quarto seguro”, além dos que foram assassinados.

    Deixar Israel não está nos planos

    Ela e o marido saíram de casa e foram se abrigar em outra cidade, mais ao norte do país. Vivi diz não ter vontade de deixar Israel, já que construiu uma vida inteira lá e que, apesar do perigo, as pessoas “têm se unido muito”. Eles, por exemplo, já receberam muitas doações de comida, roupas e medicamentos.

    Para ela, voltar à normalidade não tem sido fácil. Para isso, recebe a assistência de psicólogos e psiquiatras e diz que continua em contato com os vizinhos do kibutz, que agora estão espalhados por várias regiões do país, em lugares mais seguros.

    “Queremos que liberem os inocentes raptados. Espero que isso termine logo porque há muita gente dos dois lados que querem viver uma vida normal, onde você vai ao trabalho, volta pra casa e encontra sua família”, conclui.

    *Estagiários sob supervisão de Felipe Andrade

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