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    Mensagem de Biden ao Irã foi mais uma alfinetada do que um golpe de marreta

    Ataque na fronteira com a Síria não parece comprometer a disposição dos dois países para retomada o acordo nuclear

    Joe Biden fala durante o evento Celebrating America (20.jan.2021)
    Joe Biden fala durante o evento Celebrating America (20.jan.2021) Foto: CNN Brasil

    Nick Paton Walsh, da CNN

    No esforço prolongado entre Teerã e o governo Biden para ver quem vai piscar primeiro, os ataques de quinta-feira (25) contra milícias apoiadas pelo Irã na Síria são apenas um pequeno inseto flutuando na frente dos olhos de cada um.

    O ataque não vai mudar muita coisa, mas é um lembrete de que, eventualmente, ambos os lados podem precisar fechar os olhos.

    Tanto o presidente dos EUA, Joe Biden, quanto a liderança do Irã podem vir a preferir um mundo com o ressurgimento de um Plano de Ação Conjunta Abrangente (JCPOA) – nome formal dado para o acordo nuclear com o Irã – do que um mundo sem acordo.

    É difícil chegar lá. O trajeto para esse acordo é óbvio, mas os semáforos estão piscando no vermelho e há crateras de bombas pelo caminho.

    Os ataques perto de Abu Kamal, na Síria, são um pequeno sinal de que o governo Biden não se intimida com armas, e que os ataques a militares americanos têm consequências, mesmo que tenham sido minimamente letais.

    Ellie Geranmayeh, pesquisadora sênior de política do Conselho Europeu de Relações Exteriores, disse que, embora não seja realista que os EUA e o Irã parem de competir pela influência regional, “é razoável esperar que eles mantenham isolados os opositores ao acordo, que é de interesse mútuo.”

    E esses interesses em comum são claros. O acordo nuclear é a maneira mais fácil de concretizar a intenção juramentada dos EUA de impedir o Irã de obter uma arma nuclear.

    E embora o Irã tenha dado respostas eloquentes sobre como pode passar bem mesmo com as sanções, está perfeitamente claro que sua economia e as ações de combate à Covid-19 estariam em melhor situação com o relaxamento das sanções.

    Biden se cercou de especialistas iranianos – seu secretário de Estado, Antony Blinken, e o indicado-chefe da CIA, Bill Burns, estão imersos no texto do acordo original de 2015. O único e pequeno risco nesta equipe de peso é que ela pode estar subestimando o dano que os últimos quatro anos de Trump causaram à fé na diplomacia americana.

    No entanto, Biden parece relativamente tranquilo em relação ao cronograma exagerado que o parlamento do Irã e a linha-dura estabeleceram para que o acordo seja renovado, no final de fevereiro. Isso fez com que o enriquecimento realizado pelo Irã subisse para 20% (com a ameaça adicional do líder supremo aiatolá Khamenei de um salto para 60%).

    As inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) também foram reduzidas, embora mantenham funcionalidade suficiente para manter os inspetores da ONU felizes. O Irã até jogou na mistura sua produção inesperada de urânio metálico – algo que tem uso civil. Mas, como David Albright, do Instituto de Ciência e Segurança Internacional, me disse, esse movimento do Irã “pode ??significar armas. É esse tipo de jogo que eles fazem para assustar as pessoas”.

    “Claramente, o Irã quer aumentar sua vantagem. E acho que eles estão pesando a mão.”

    Geranmayeh vê, porém, a escalada do Irã como “consciente e calculada. Há muito mais coisas que o Irã pode fazer para voltar aos níveis de atividade nuclear em 2013, mas não o fez”.

    Movimentos futuros

    Se estamos vendo movimentos cuidadosamente coreografados – embora com ritmos diferentes em cada um dos lados – o que pode vir a seguir?

    A União Europeia sugeriu reuniões informais com os EUA para tentar fazer com que a diplomacia americana se mova um pouco mais silenciosa e rapidamente. Ali Vaez, diretor do Projeto Irã do Grupo de Crise, disse que a proposta colocou os iranianos “em uma situação delicada”.

    Aliviar algumas das sanções que eles desejam “poderia ser interpretado como um certo desespero em Washington”, disse ele, “mas se não o fizerem, podem ser vistos internacionalmente como a parte inflexível.”

    Vaez estava “cautelosamente otimista” de que a reunião aconteceria, e Geranmayeh aponta que que há uma boa-vontade de que os linha-dura, que buscam descarrilar a diplomacia antes das eleições presidenciais do Irã, em junho, sejam “marginalizados”.

    “Até agora, parece que o governo Biden está se mostrando menos flexível no que diz respeito a descer da posição inicial de negociação do que o Irã de agir primeiro para reverter suas atividades nucleares. O Irã deixou a porta aberta para um processo sincronizado”, disse Geranmayeh.

    Vaez disse que o problema pode vir mais tarde, quando a equipe de Biden deixar claro seu desejo de expandir o acordo nuclear (já antigo, com apenas cerca de quatro anos até que algumas de suas cláusulas de validade entrem em vigor) para algo mais duradouro e de alcance mais amplo. “Ajustar” o acordo, disse Vaez, “no sentido de alterar fundamentalmente [seus] termos (…) sob a alegação de que um tem mais influência do que o outro, seria uma jogada perigosa.”

    Os ataques de quinta-feira na fronteira entre o Iraque e a Síria não representam uma ameaça existencial à diplomacia com o Irã. O acordo nuclear foi projetado para lidar simplesmente com o risco de o Irã receber a bomba – e não com sua ampla disputa por influência regional e outros programas de armas convencionais.

    Ainda assim, eles demostram a habitual imprevisibilidade da região e como isso pode colocar em risco os caminhos para a diplomacia, que parecem seguros e óbvios, mas podem ser prejudicados por temperamentos desgastados, alfinetadas e acirramento das relações.

    (Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)