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    Meninas afegãs usam peças de carros e motos para construir ventilador pulmonar

    Adolescentes fazem parte da Equipe de Robótica para Meninas Afegãs, iniciativa que ensina programação e ciência da computação; equipamento deve custar US$ 600

    Reuters

    Um grupo de garotas afegãs usou peças de carros, correntes de motos e sensores de máquinas como uma solução criativa contra a iminente crise do novo coronavírus do país.

    As cinco adolescentes que vivem em Herat, perto da fronteira com o Irã, fazem parte da Equipe de Robótica para Meninas Afegãs, uma iniciativa que ensina programação e ciência da computação para meninas.

    “Tivemos que ser criativas no que se refere aos materiais que tínhamos à disposição”, disse Somaya Faruqi, de 17 anos, capitã da equipe.

    “Nossas máquinas são construídas a partir de uma combinação de um motor de um Toyota Corolla, correntes de motocicletas e sensores separados de pressão, calor e umidade”, disse ela à Thomson Reuters Foundation via WhatsApp.

    Embora os dispositivos não possam substituir os ventiladores médicos, eles devem trazer alívio temporário aos pacientes com coronavírus.

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    “Não é um dispositivo perfeito, mas pode fazer duas coisas: controlar o volume de oxigênio que entra no corpo e contar e controlar o número de respirações por minuto”, disse Faruqi.

    Os casos de Covid-19 estão aumentando neste país de 35 milhões de habitantes. Atualmente, já são mais de 16,5 mil infectados, segundo números da Universidade Johns Hopkins. Especialistas dizem que o número real provavelmente é muito maior.

    O prefeito de Cabul, Daoud Sultanzoy, teme que metade dos 6 milhões de habitantes da capital possa ser infectada já que as pessoas desafiam o bloqueio imposto pelas autoridades.

    Estimativas semelhantes são válidas para Herat, lar de cerca de um milhão de pessoas. “Todos os dias o número de pessoas doentes aumenta e, em um futuro próximo, não teremos ventiladores suficientes nem equipamentos hospitalares”, disse Faruqi.

    Por dois meses, sua equipe – usando máscaras e luvas – trabalhou cinco dias por semana para concluir o protótipo. “Estávamos bastante assustadas com as perspectivas da pandemia, por isso decidimos tentar fazer a nossa parte”, disse Faruqi.

    As cinco adolescentes fazem parte da Equipe de Robótica para Meninas Afegãs
    As cinco adolescentes fazem parte da Equipe de Robótica para Meninas Afegãs, iniciativa que ensina programação e ciência da computação
    Foto: Stefanie Glinski -19.jun,2019/ Thomson Reuters Foundation

    Antes do surto do novo coronavírus, as meninas construíram robôs, estudaram programação e se prepararam para o último ano escolar sob uma iniciativa criada em 2015 para ensinar habilidades tecnológicas a meninas e instigar confiança através da ciência.

    A cientista da computação Roya Mahboob – fundadora do Digital Citizen Fund – diz que queria “dar voz digital a elas” em um país conservador, onde muitas meninas ficam em casa.

    A equipe – que usa longos vestidos pretos e lenços na cabeça, juntamente com suas máscaras e luvas contra o vírus – foi celebrada em todo o Afeganistão e ganhou prêmios no Ocidente.

    Dura batalha

    Mais de 3.000 meninas em Herat estudaram no Digital Citizen Fund, e a universidade da cidade agora tem seu maior corpo de mulheres estudando ciência da computação, superando as 500.

    A taxa de alfabetização do Afeganistão para as mulheres permanece baixa, em cerca de 30%, de acordo com as Nações Unidas, com muitas meninas em comunidades rurais e conservadoras incapazes de frequentar a escola.

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    “Está mudando lentamente”, disse Faruqi, mas famílias como a dela são mais liberais, caso contrário, seria impossível sair de casa e trabalhar nos ventiladores.

    As meninas esperam terminar o dispositivo até o meio deste mês e vendê-lo por cerca de US$ 600 (R$ 3 mil) – 50 vezes mais barato que os ventiladores profissionais.

    “Em um país onde falta suprimento médico, estamos preparados para procurar essas opções alternativas”, disse Qadir Qadir, diretor-geral do Ministério da Saúde Pública, à Thomson Reuters Foundation.

    Ele afirmou que o Afeganistão tem cerca de 480 ventiladores disponíveis, mas cerca de 40 pertencem às Forças Armadas e dezenas são de organizações sem fins lucrativos.

    “Se o produto das meninas poderá ser usado ainda não sabemos. Precisaria ser testado e não pode ser usado imediatamente no atendimento ao paciente”, disse Qadir.

    Faruqi não se intimida e sua equipe se esforça para terminar seu protótipo de baixo custo e baixa tecnologia. “Recebemos muito incentivo das pessoas, mas nossa maior motivação é a situação atual: o Afeganistão está em crise e queremos fazer o que pudermos para ajudar”, disse.

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