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    Como a Casa Branca tenta proteger Trump do coronavírus

    De olho na eleição, presidente dos EUA foca na saúde do rival Joe Biden e fica preocupado com o que aconteceria com sua imagem se contraísse o coronavírus

    Kevin Liptak e Kaitlan Collins, da CNN

    O presidente dos EUA, Donald Trump
    O presidente dos EUA, Donald Trump
    Foto: Leah Millis – 18.jun.2020 / Reuters

    Donald Trump parece pronto para virar a página da pandemia do coronavírus. O presidente dos Estados Unidos inclusive faltou ao primeiro briefing da força-tarefa da Casa Branca realizado depois de meses, feito pela primeira vez fora da Casa Branca. Ao mesmo tempo, as medidas destinadas a protegê-lo de pegar o vírus aumentaram drasticamente.

    Trump vem tentando falar cada vez mais da saúde do rival Joe Biden na campanha presidencial. Por outro lado, ele parece se preocupar de forma crescente com o que aconteceria com sua imagem se contraísse o coronavírus. Isso fica evidente com as medidas tomadas nos bastidores para sua proteção, embora, em público, ele se recuse a usar uma máscara e promova grandes comícios de campanha onde o vírus pode se espalhar com facilidade.

    De acordo com pessoas próximas à campanha, toda vez que Donald Trump viaja para locais onde o coronavírus está em expansão, uma inspeção é feita em todas as áreas por onde o presidente passará. Equipes médicas e de segurança são responsáveis pela verificação. Os banheiros separados para uso do presidente são lavados e desinfetados antes que ele chegue. Os funcionários mantêm uma lista rígida de quem entrará em contato com o Trump, assegurando que todos sejam testados previamente.

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    Enquanto a Casa Branca elimina medidas para funcionários e visitantes como medições de temperatura e uso de máscaras na Ala Oeste – mudanças destinadas a sinalizar que o país está seguindo em frente –, as pessoas ao redor do presidente ainda passam por testes regulares. E, mesmo que Trump tente superar o tema Covid-19, incentivando a reabertura e subestimando a nova onda, há sinais de que pandemia segue em fúria, até mesmo dentro de seu círculo próximo. Nos últimos dias, o vírus atingiu novamente membros da equipe do presidente. Desta vez, foi um grupo de assessores de campanha e funcionários do Serviço

    Secreto dos EUA que trabalharam no comício de campanha de Trump em Tulsa, Oklahoma.

    A CNN descobriu também que um terceiro funcionário da Casa Branca que esteve recentemente perto de Trump também apresentou resultados positivos para o vírus. Segundo duas fontes familiarizadas com o assunto, ele seria um alto funcionário da área econômica que esteve no Rose Garden com Trump durante um evento neste mês. Por questões de privacidade, a CNN não revela o nome do indivíduo.

    À medida que os casos aumentam e vários estados interrompem a reabertura, os assessores e aliados políticos do presidente ficam cada vez mais preocupados com o fato de ele estar ignorando o tema de uma pandemia que ainda ataca o país – e, recentemente, vem atacando membros de sua própria equipe. A ausência de Trump no briefing e coletiva de imprensa da força-tarefa sobre o coronavírus, feito na sexta-feira (26), apenas aumentou a impressão de que ele está deixando a resposta da pandemia para outras autoridades.

    Nenhum dos principais especialistas em saúde do país – reunidos desta vez num pátio do Departamento de Saúde e Serviço Humano, ou HHS na sigla em inglês – parecia muito preocupado com o fato de Trump não estar lá. A reunião da força-tarefa do coronavírus foi transferida da Situation Room da Casa Branca para a sede da agência de saúde sem muita explicação. O vice-presidente Mike Pence chegou com sua segurança vários assistentes, todos trazidos da Ala Oeste em grandes SUVs pretas.

    Ao mesmo tempo em que a reunião era transmitida, o presidente estava na Casa Branca twittando sobre tentativas de demolir estátuas e cancelando abruptamente uma viagem planejada a Nova Jersey, para que ele pudesse, afirmou ele, garantir que a “lei e ordem” fosse mantida no fim de semana.

    A ausência dele na reunião do outro lado da cidade parecia normal para sua equipe: afinal, Trump não participa de uma reunião formal da força-tarefa do coronavírus desde abril, de acordo com duas fontes familiarizadas com sua presença.

    “O presidente continua liderando a resposta de todo o governo à Covid-19 e recebe regularmente atualizações do trabalho da força-tarefa pelo vice-presidente”, disse o porta-voz da Casa Branca Judd Deere à CNN.

    Um funcionário chegou a sugerir que Trump não foi briefing para ser poupado de críticas caso o clima ficasse pesado.

    Embora Trump ligue regularmente para o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar, para saber das atualizações da pandemia, ele raramente fala com os outros membros da força-tarefa. Durante seu depoimento em Capitol Hill nesta semana, o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA se recusou a dizer quando falou pela última vez com Trump. E o comissário da FDA, a agência reguladora de medicamentos dos EUA, e outros altos funcionários admitiram que não falavam com ele há semanas.

    Em vez de focar na pandemia, Trump se concentrou em um território mais familiar: a batalha cultural por tentativas de derrubar estátuas e monumentos que se tornaram controversos. Na sexta-feira (26), o presidente não fez nenhum esforço para divulgar o briefing da pandemia, o que sempre fazia quando protagonizava tais reuniões. Mesmo assim, Pence disse aos repórteres que foi Trump quem o ordenou a realizar o primeiro briefing da força-tarefa sobre coronavírus em oito semanas.

    Os responsáveis pela reeleição de Trump ficaram preocupados com as pesquisas que mostram que os eleitores rejeitam a forma como ele vem lidando com o surto até agora. No entanto, o próprio Donald Trump demonstrou pouca disposição para reajustar a postura de guerra que assumia diariamente na sala de reuniões da Casa Branca, deixando as mensagens públicas para outras pessoas.

    “Em algum momento no futuro, os historiadores ficarão maravilhados com o fato de o presidente ter perdido terreno durante uma pandemia e, depois, durante os protestos e tumultos”, disse Tucker Carlson, apresentador da Fox News, durante seu monólogo de abertura na noite de quinta-feira (25). “Ambas as crises deveriam ter destacado seus pontos fortes. Elas eram coisas naturais para ele”.

    “Muita gente votou em Donald Trump precisamente para evitar um momento como o que estamos vivendo agora”, afirmou Carlson.

    Bolha protetora

    Enquanto Trump tenta virar a página, a bolha protetora ao seu redor se tornou, ao contrário, ainda mais espessa. Assessores dizem que as medidas são necessárias para permitir que o presidente (um trabalhador essencial segundo todas as definições possíveis) continue liderando o país em meio à pandemia.

    Mas fontes familiarizadas com o assunto dizem que as precauções também decorrem da insistência de Trump de que ele não contraia a doença e de sua maior consciência de como um presidente doente afetaria tanto a visão do país sobre ele como a sua capacidade de comandar uma resposta à pandemia.

    Depois que Trump disse a assessores, no início do surto, de que ele deve evitar ficar doente a todo custo, os esforços para impedi-lo de contrair o vírus tornaram-se progressivamente mais intensos e abrangentes. As etapas iniciais, como manter mais álcool em gel para as mãos por perto, evoluíram para um aparelho de segurança intensivo, incluindo o regime de testes feitos em dezenas de funcionários.

    Até agora, os esforços parecem ter sido eficazes, pelo menos para impedir o presidente de contrair o vírus. Mas os eventos da semana passada também enfatizaram a primazia do próprio Trump nas medidas de segurança, deixando para um segundo plano a segurança dos funcionários que compõem sua enorme comitiva.

    Isso ficou claro antes mesmo de Trump desembarcar em Tulsa para o comício da noite de sábado (20). Nas horas que antecederam sua chegada, um grupo de funcionários da campanha teve testes positivos para o vírus. Após o evento, vários outros tiveram o mesmo resultado. Muitos colaboradores da campanha, que deveriam planejar mais comícios em breve, decidiram fazer em quarentena em casa. E dezenas de funcionários do Serviço Secreto dos EUA foram instruídos a tomar a mesma medida depois de trabalharem no evento de Tulsa.

    Nesta semana, o CDC atualizou sua lista de quem está em maior risco de ficar gravemente doente com a Covid-19, removendo um limite de idade específico e alertando os norte-americanos de que o risco aumenta proporcionalmente com a idade. O CDC também aumentou a lista de condições que aumentam o risco de doenças graves para incluir obesidade e problemas cardíacos graves.

    Trump, que completou 74 anos em 14 de junho, é considerado obeso, de acordo com os resultados de seu último exame físico, que mostrou que ele pesava 110 quilos e mede 1,90 metro de altura. Os resultados de seu primeiro exame físico feito já na presidência mostraram também que ele tem um tipo de doença cardíaca comum.

    Já exames mais recentes apontaram que seus níveis de colesterol caíram desde que ele assumiu o cargo. Mas outros aspectos de sua saúde permanecem desconhecidos. O resumo dos resultados fornecidos pelo médico do presidente em 2020 não incluiu o mesmo nível de detalhe daquele revelado em 2018, quando o próprio presidente insistiu em fazer um teste de acuidade mental para acabar com as dúvidas sobre sua inteligência.

    A viagem abrupta de Donald Trump em outubro passado ao Walter Reed National Medical Center continua sendo fonte de perguntas e especulações, mesmo entre alguns de seus assessores. A Casa Branca insistiu que ele foi ao centro médico para antecipar seus exames anuais, mas a visita não foi anunciada com antecedência na agenda e os resultados dos exames não foram divulgados por mais seis meses.

    O presidente disse repetidamente às autoridades que não pode ficar doente e ficou chocado quando soube no mês passado que um dos valetes militares que lida com sua comida e bebida havia contraído o coronavírus. Trump perguntou como era possível que alguém com acesso tão íntimo ao presidente pudesse ter a doença. Nos dias seguintes à revelação, pareceu cauteloso com pessoas que ele não conhecia bem, de acordo com fontes próximas.

    Alarme genuíno

    Foi quando pessoas próximas a ele contraíram a doença que Trump se mostrou preocupado de verdade, vendo em suas experiências um destino que ele estava trabalhando incansavelmente para evitar para si próprio. Ele mencionou várias vezes o caso de seu amigo Stanley Chera, um empreiteiro de Nova York amigo de Trump há décadas. O presidente disse ter ficado surpreso com a rápida evolução de Chera entre contrair o vírus e entrar em coma para, enfim, vir à óbito por causa da Covid-19.

    Mais tarde, Trump ficou espantado novamente ao saber que um de seus aliados mais próximos no exterior, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, havia ficado gravemente doente com o vírus, sendo inclusive internado na UTI num hospital em Londres. O presidente norte-americano pediu atualizações frequentes sobre a deterioração da condição de Johnson e mais tarde pediu para falar com ele assim que ele estivesse se recuperando.

    Trump, que há anos se declarou germofóbico, punia abertamente os assessores que tossiam ou espirravam em sua presença – mesmo antes da chegada do coronavírus. Em meio à pandemia, qualquer sinal de doença respiratória foi recebido com olhares condenatórios do presidente. Quando a doutora Deborah Birx, coordenadora de resposta ao coronavírus da Casa Branca, disse em uma entrevista coletiva que estava com febre e iria entrar em quarentena, Trump brincou dando alguns passos para trás.

    Quando o presidente polonês Andrzej Duda, o primeiro visitante estrangeiro que Trump recebeu em meses, chegou à Casa Branca nesta semana, ele e toda a sua delegação foram submetidos a testes para o coronavírus, assim como as autoridades norte-americanas que participaram da reunião.

    Há tempos, qualquer pessoa que se aproxime do presidente recebe antes um teste de coronavírus, embora o produto da Abbott Laboratories usado pela Casa Branca tenha causado preocupação devido às altas taxas de falsos negativos.

    Trump, que nos anos 80 e 90 discutiu abertamente seu sucesso em evitar uma doença sexualmente transmissível (“É [como lutar n]o Vietnã”, disse ao radialista Howard Stern: “É muito perigoso. Por isso, sou muito, muito cuidadoso”) também deu o controverso passo de tomar um ciclo de hidroxicloroquina em uma tentativa de prevenir o coronavírus.

    Embora não haja comprovação científica do uso da droga na prevenção da Covid-19, Trump divulgou publicamente seus benefícios e anunciou que estava tomando o remédio. Mais tarde, seu médico disse que a equipe médica do presidente usou um eletrocardiograma para monitorar de perto o coração de Trump no período em que ele tomou o medicamento, já que alguns estudos sugeriram que ele poderia causar problemas cardíacos graves.