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    Maurício Pestana: a dor do outro

    Falta de liderança política em um mundo conturbado nos leva a repensar nossas dores do passado, do presente e as que se repetem

    Maurício Pestana

    É possível comparar ou mensurar a dor? A dor de cada um é única. Falar de Gaza, Holocausto ou de um navio negreiro não é a mesma coisa. Nem em números, menos ainda na história dessas tragédias humanas.

    É impossível comparar os mais de 12 milhões de negros que morreram durante o trafego negreiro no Brasil, assim como os mais de 7 milhões de judeus exterminados durante a Segunda Guerra Mundial, ou os milhares de jovens, mulheres e crianças palestinas que estão morrendo na Faixa de Gaza – pessoas que não podem ser responsabilizadas pelos ataques do Hamas, que matou centenas de israelenses e sequestrou outros tantos.

    Mas uma coisa essas tragédias têm em comum: o racismo, seja ele étnico ou religioso. Ele foi o ponto de partida das maiores tragédias que a humanidade vivenciou nos últimos 500 anos. O mesmo racismo que mata milhares de jovens negros no Brasil ano após ano, como mostram os recentes números do Mapa da Violência em nosso país. Números que entram para as estatísticas sem nenhum alarde, protesto, indignação, clamor ou projeto de impeachment para responsabilizar as autoridades brasileiras.

    O presidente extrapolou ao comparar Gaza com o Holocausto, mas é louvável a posição das autoridades brasileiras de chamar atenção do mundo para a tragédia humana que ocorre naquela região, principalmente quando as maiores lideranças mundiais fecham os olhos para os horrores provocados há muitos anos pela política do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que caminha para o ato final que será invadir Rafah, o último refúgio dos palestinos em seu território, onde mais de um milhão e meio de pessoas se amontoam esperando pela morte.

    Vivemos um momento sem igual na história da humanidade. A falta de liderança política em um mundo conturbado, dividido em guerras, sem perspectiva de melhora a curto ou médio prazo, nos leva a repensar nossas dores – dores do passado, dores do presente, dores que se repetem quando a sensibilidade aflora. Nossa dor parece sempre ser maior que a do outro, seja aqui, na Faixa de Gaza ou em algum outro lugar da história.

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