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    Mario Draghi: ex-banqueiro assume Itália buscando dar fim à crise

    Ex-presidente do Banco Central Europeu será novo primeiro-ministro italiano

    Mario Draghi em Roma
    Mario Draghi em Roma Foto: Francesco Ammendola/Divulgação via Reuters (3.fev.2021)

    da CNN*

    Mario Draghi, 73, assume neste sábado (13) o posto de primeiro-ministro da Itália e a tarefa de enfrentar a crise de saúde causada pelo novo coronavírus e o colapso econômico do país. 

    Quase todos os principais partidos italianos, de todo o espectro político, prometeram apoio a Draghi, que presidiu o Banco Central Europeu entre 2011 e 2019. 

    Um dos principais motivos para essa ampla coalizão é que os partidos querem opinar sobre como o país deve empregar os mais de 200 bilhões de euros que deve receber do fundo de recuperação econômica da União Europeia

    Draghi é creditado por ter “salvo” a moeda europeia durante o tempo que esteve à frente do BCE, ação que lhe rendeu o apelido de “Super Mario”, como o encanador dos videogames. 

    De acordo com a Reuters, políticos que se encontraram com ele nesta semana disseram que Draghi fará oposição a austeridade fiscal, apesar dos níveis crescentes de dívida nacional, dada a importância de proteger a “coesão social” neste momento. 

    Um meme popular na Itália nas redes sociais resume o enigma. Na ffoto, ele está com a mão levantada e a legenda diz “essa mão pode ser Friedman ou pode ser Keynes”, uma referência aos economistas Milton Friedman, grande defensor do livre mercado, e John Maynard Keynes, apoiador da intervenção estatal. 

    “Draghi é, acima de tudo, pragmático”, disse Mauro Gallegati, professor de economia da Marche University, de Ancona, na Itália. “O negócio dele costumava ser austeridade, forças de mercado e privatizações. Agora, ele está em uma transição de Friedman para Keynes”. 

    O ex-banqueiro também teria prometido a criação de um novo ministério para a transição ambiental, que combinaria os portfólios de energia e meio ambiente, o que ajudou na conquista do apoio do Movimento 5-Estrelas, que tem maioria no Parlamento e para quem os temas ambientais são preocupações centrais. 

    Diretrizes para combater a mudança climática são um requisito dos Planos de Recuperação que devem ser apresentados pelos países da União Europeia à Comissão Europeia em abril. 

    Draghi também disse que priorizará o programa de vacinas contra a Covid-19. A Itália registrou mais de 93 mil mortes pela Covid-19 desde o surgimento do surto no páis, em fevereiro do ano passado, o segundo maior número no continente. 

    No entanto, mesmo antes da Covid-19 mergulhar a Itália na maior recessão desde a 2ª Guerra, o país mal havia crescido nas últimas duas décadas. 

    Os problemas vão de uma força de trabalho que está envelhecendo e diminuindo a uma falta de investimento público e uma burocracia estatal restritiva. 

    No entanto, um número crescente de economistas concordam que as medidas de austeridade impostas por Draghi como chefe do ECB, junto de outras instituições da União Europeia, exacerbaram essas dificuldades, enfraquecendo a capacidade de produção italiana. 

    Mesmo com um orçamento apertado, as dívidas do país continuavam a crescer fora de proporção, porque a economia ou diminuía ou estagnava. Até 2014, a relação entre dívida e o PIB (Produto Interno Bruto) havia crescido para 132%, ante 116% em 2011. 

    “Acho que eles perceberam que o que fizeram com os países do sul da Europa foi um erro, ninguém mais estava falando em austeridade mesmo antes do coronavírus chegar”, disse Roberto Perotti, um professor de economia da Universidade de Milão. 

    Draghi ainda enfrentará outras questões que ajudou a criar. 

    Em 2008, quando era governador do Banco da Itália, ele aprovou a compra do banco Monte dei Paschi di Siena (MPS) em um preço inflacionado que analistas dizem ter contribuído para o seu subsequente colapso. 

    Nesta quarta, o MPS reportou seus resultados de 2020, mostrando que o prejuízo anual foi para 1,7 bilhão de euros. 

    A Itália ainda é proprietária de 64% do banco, depois de um resgate em 2017 que custou 5,4 bilhões de euros aos contribuintes. A Itália prometeu à Comissão Europeia que irá sair até a metade de 2022. 

    Draghi era o chefe do ECB no meio de 2017, quando a instituição declarou que o banco era solvente e limpou o caminho para que a Comissão Europeia autorizasse esse resgate.

    O Tesouro italiano agora tenta encontrar um comprador para o banco, tarefa que caberá a Draghi agora como primeiro-ministro. 

    De privatizador a estatizador?

    Draghi também terá de decidir se completa a estatização da maior operadora de estradas da Itália, a Autostrade per l’Italia (Aspi), cuja privatização ele organizou como diretor-geral do Tesouro do país na década de 1990. 

    Os termos da privatização agora são amplamente criticados por terem criado quase um monopólio privado, com grandes lucros para os compradores, a família Benetton.

    O assunto voltou à baila em 2018, quando a queda de uma ponte em Gênova matou 43 pessoas. Os promotores disseram que o desastre foi causado principalmente por falta de investimento em manutenção, apesar dos grandes lucros da empresa.

    “A privatização da Aspi foi um ótimo negócio só para os compradores, em detrimento dos usuários das estradas e do contribuinte”, disse Massimo D’Antoni, professor de economia da Universidade de Siena. 

    “Temos que reconhecer que Draghi estava no comando de uma iniciativa de privatizações que não deu muito certo”, disse Gallegati, da Marche University, acrescentando que acredita que Draghi deve conduzir a re-estatização das estradas. 

    (*Com informações da Reuters)

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