Manifestantes são reprimidos com gás ao tentarem entrar em Buenos Aires
Protesto contra fome desafiou protocolo anti-bloqueio e acabou em confronto nas proximidades da capital argentina
“A fome não espera, basta de ajuste”. Com mensagens como esta, bandeiras e tambores, centenas de integrantes de movimentos sociais e partidos de esquerda se manifestaram nesta segunda-feira (18) em diferentes pontos do país contra o governo de Javier Milei, denunciando o agravamento da crise alimentar na Argentina.
Grupos de manifestantes vindos da Grande Buenos Aires tentaram entrar na capital marchando e foram reprimidos pelas forças federais. Os confrontos se deram nas pontes Puyerredón e Saavedra, que dão acesso à cidade. A polícia avançou contra os manifestantes com spray de pimenta e cassetetes. Jornalistas do canal argentino A24 acabaram agredidos por policiais.
“Gás lacrimogêneo, caminhões hidrantes e cassetetes. Outra vez, o governo escolhe a violência contra as manifestações e repete sua fúria com os trabalhadores da imprensa”, denunciou o organismo de Direitos Humanos Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS), sobre a ordem da ministra da Segurança do país, Patricia Bullrich, que implementou um protocolo para evitar bloqueios de trânsito.
A polícia de Buenos Aires também foi acionada e elogiada pelo prefeito Jorge Macri, que escreveu na rede social X, o antigo Twitter, que “a ordem não se negocia”. “Evitamos que diversas colunas de manifestantes entrassem na Cidade de Buenos Aires”, comemorou, afirmando que defende uma “convivência pacífica entre quem precisa circular livremente para trabalhar e estudar e quem quer se manifestar”.
https://twitter.com/jorgemacri/status/1769772802867966294
A convocação ao protesto já desafiava o protocolo, propondo bloqueios em 500 pontos do país, “diante da completa falta de resposta do governo frente à emergência alimentar e o ajuste da economia popular”. “Tentamos todos os canais possíveis para conseguir solução para questões urgentes e a única resposta que temos é a repressão”, expressou a União de Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), que chamou à manifestação e postou nos perfis do sindicato as cenas da repressão desta segunda.
Há semanas, organizações sociais e partidos de esquerda denunciam o fim do envio de alimentos para refeitórios comunitários em zonas vulneráveis e afirmam que cada vez mais gente recorre a estes locais tentando fazer pelo menos uma refeição por dia. A pobreza, que já vinha em aumento na Argentina, se intensificou nos últimos meses, com a desvalorização do peso em cerca de 50% e a disparada dos preços.
O governo de Javier Milei assinou, em dezembro, um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) para desregular diversos setores da economia. Com o fim do controle de preços, houve uma disparada brusca no valor de alimentos e outros itens da cesta básica desde o início do novo governo.
A atual administração afirma que enviará ajuda à população diretamente, e já não com a intermediação de organizações e movimentos sociais, que qualifica de “gestores da pobreza”.