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    Mais republicanos estão perdendo a paciência com os absurdos legais de Trump

    A resistência de Donald Trump em admitir derrota na eleição presidencial causa atritos dentro do Partido Republicano

    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos Foto: REUTERS

    Stephen Collinson, da CNN

    O esforço do presidente Donald Trump para invalidar a eleição que ele perdeu está sendo cada vez mais prejudicado pela inutilidade de suas reivindicações legais. Além disso, ele está fazendo com que alguns republicanos se manifestem, mesmo com a maioria de seu partido mudo em meio ao incêndio constitucional. 

    Ao arruinar tradições consagradas de uma transição pacífica de poder, a equipe jurídica do presidente está lançando contestações judiciais de longo alcance e pressionando autoridades eleitorais estaduais.

    Os assessores do presidente estão alimentando uma tempestade política aparentemente planejada para destruir a presidência de Joe Biden antes que ela comece e para proteger Trump da humilhação histórica que acompanha a derrota de uma eleição após apenas um único mandato.

    O espetáculo tem alguns importantes nomes republicanos prontos para dar um basta. “Acabou”, disse no domingo (22) o deputado republicano Fred Upton, do Michigan, no programa “Inside Politics” da CNN norte-americana. O governador de Maryland, Larry Hogan, um crítico frequente de Trump, afirmou ao “State of the Union”, programa da CNN, que o comportamento de Trump era semelhante ao visto em uma “república das bananas”.

    Até mesmo um amigo de Trump, o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie, falando no programa “This Week” da rede ABC News, chamou o advogado de Trump Rudy Giuliani e seus companheiros de “vergonha nacional”.

    Um ponto crítico, no entanto, pode estar se aproximando no confronto entre o governo e a equipe do presidente eleito sobre a recusa de Trump em iniciar uma transição, com certificações de voto (o processo que oficializa os votos do estado) aguardadas para segunda-feira (24) no Michigan e na maioria dos condados da Pensilvânia. 

    Se as autoridades locais avançarem – apesar da interferência da Casa Branca e suas falsas alegações de fraude em massa –, elas confirmarão mais uma vez a vitória de Biden com pelo menos 270 votos eleitorais necessários para ganhar a presidência. A posição de Trump, portanto, se tornará menos sustentável, mesmo que ele continue afirmando erroneamente que ganhou em 3 de novembro.

    Entretanto, as autoridades republicanas, especialmente no Michigan, estão tentando atrasar a certificação criando um impasse partidário no conselho de campanha do estado, o que poderia levar a um confronto constitucional ainda mais sério no estado decisivo.

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    As tentativas de Trump de jogar fora milhões de votos legalmente depositados a fim de ganhar um segundo mandato por má-fé estão a pleno vapor. Enquanto isso, a autoridade que lidera o esforço de vacinação da Covid-19 alertou no domingo (22) na CNN que uma transição adequada seria preferível, dada a tarefa vital de inocular rapidamente dezenas de milhões de norte-americanos.

    “Claro, suavidade é o que todos almejamos e, portanto, seria melhor”, afirmou Moncef Slaoui, responsável pelas vacinas no governo, no programa “State of the Union”. Slaoui também deu notícias encorajadoras de que os Estados Unidos poderiam atingir um nível suficiente de imunidade por meio de vacinações até maio.

    Suas afirmações deram esperança de um retorno à vida normal, mesmo com infecções violentas e o aumento do número de mortes anunciando os meses mais sombrios da pandemia e alimentando o temor de que as viagens por causa do feriado de Ação de Graças causem uma explosão de casos ainda maior.

    Mas como Biden – que precisa reunir fundos próprios para preparar seu governo já que Trump está retendo milhões em verbas federais – vai seguir com a indicação de vários membros importantes do gabinete nesta semana, sua equipe alertou que a transição estagnada pode ter consequências graves.

    “O que estamos procurando é acesso a informações em tempo real sobre o que está sendo feito a respeito do desenvolvimento e da distribuição da vacina e todos os planos nesse sentido”, contou Jen Psaki, consultora sênior da equipe de transição, a Jake Tapper da CNN.

    O presidente eleito está pronto para indicar Antony Blinken como secretário de Estado, de acordo com fontes que contaram Jeff Zeleny e Dan Merica da CNN no domingo (22). A nomeação elevaria um conselheiro de política externa de longa data. Biden fará sua primeira rodada de anúncios do gabinete na terça-feira (24).

    Advogados de Trump se enrolam

    Rudy Giuliani discursa em painel da campanha de Trump
    Rudy Giuliani, advogado de Trump
    Foto: REUTERS/Eduardo Munoz 

    O presidente e sua equipe jurídica autoproclamada “força de ataque de elite” estão mais interessados em ampliar suas alegações infundadas de fraude eleitoral do que trabalhar no interesse de todos os norte-americanos para facilitar a tomada de poder de Biden. A jogada legal da campanha recebeu um golpe mortal no sábado (21), quando um juiz federal os acusou de forma fulminante de não fornecerem evidências para apoiar um pedido de invalidar milhões de votos na Pensilvânia.

    “Este Tribunal recebeu argumentos jurídicos tensos, sem mérito e acusações especulativas, sem alegações em sua ação operativa e não sustentados por provas”, escreveu o juiz Matthew Brann em uma decisão  divulgada no sábado (21).

    No domingo, Giuliani interpôs um recurso ultrarrápido ao Tribunal de Apelações do 3º Circuito em uma abordagem cada vez mais desconectada da realidade. Sua equipe está pedindo aos juízes que privem do direito de voto milhões de norte-americanos sem oferecer provas admissíveis de fraude.

    A advogada Sidney Powell também está promovendo uma teoria absurda de que o governador da Geórgia, Brian Kemp, republicano e pró-Trump, e outras autoridades do partido estão envolvidos em uma conspiração com a CIA, China, Cuba, o ditador venezuelano Hugo Chávez (já falecido) e os democratas para viciar máquinas de votação para privar Trump da vitória.

    “No domingo à noite, Giuliani e outra advogada de Trump, Jenna Ellis, procuraram se distanciar de Powell, dizendo que ela não era membro da equipe, embora ambos tenham aparecido com Powell em um entrevista coletiva confusa em Washington na semana passada e Trump tenha dito anteriormente que ela estava na equipe.

    Em sua própria declaração na noite de domingo, Powell disse que concordava que não fazia parte da equipe jurídica da campanha, mas acrescentou que “nós” estamos nos preparando para entrar com um processo “épico” nesta semana.

    Na sala de espelhos em que a equipe jurídica de Trump opera, uma repreensão severa de um juiz é simplesmente interpretada como validação para uma estratégia legal embebida em teorias da conspiração, mentiras e paranoia. Giuliani saudou a humilhante crítica do juiz Brann não como a confirmação de um caso ridículo, mas como uma decisão que “acaba nos ajudando em nossa estratégia de chegar rapidamente à Suprema Corte dos Estados Unidos”.

    A natureza bizarra de tais afirmações está forçando alguns republicanos do alto escalão a dizer um basta para o comportamento destrutivo e danoso à democracia de Trump.

    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
    Donald Trump, presidente dos Estados Unidos
    Foto: REUTERS

    Horas após a derrota legal de Trump no sábado, o senador republicano Pat Toomey – que não vai concorrer a outro mandado em 2022 e portanto não é alvo apoiadores de Trump – disse que a decisão do juiz Brann, “um republicano conservador de longa data”, significava que as opções legais do presidente haviam se esgotado. Ele parabenizou o “presidente eleito Biden e a vice-presidente eleita Kamala Harris”.

    O ex-governador Christie, que ajudou o presidente a se preparar para os debates deste ano, disse que, apesar de todas as afirmações bizarras que a equipe de Giuliani faz no tribunal, ela não apresentou evidências de fraude quando compareceu perante um juiz.

    “Tenho apoiado o presidente. Votei nele duas vezes, mas as eleições têm consequências e não podemos continuar a agir como se algo não tivesse acontecido aqui”, afirmou Christie.

    Upton, o congressista de Michigan, contou à Dana Bash da CNN que “os eleitores falaram. Quero dizer, aqui no Michigan, havia uma margem de votos de 154 mil para o presidente eleito Biden, e ninguém apresentou qualquer evidência de fraude ou abuso. Não é uma margem tão pequena”.

    O deputado lembrou a declaração de sábado da colega republicana Liz Cheney, deputada do Wyoming, que disse que Trump deve respeitar “a santidade de nosso processo eleitoral” se não puder provar suas alegações no tribunal.

    O governador Hogan, um crítico frequente de Trump, disse no programa da CNN que “é hora de eles pararem com as bobagens. Isso fica mais bizarro a cada dia. E, francamente, estou envergonhado que mais pessoas no partido não estejam se manifestando”. Os comentários do governador de Maryland foram repreendidos pelo presidente no Twitter. 

    No programa “Meet the Press” da NBC, o senador da Dakota do Norte Kevin Cramer, um aliado de Trump, não rompeu abertamente com o presidente, mas disse que uma transição deveria começar. E no “Fox News Sunday”, o ex-deputado republicano Jason Chaffetz, de Utah, disse que, embora espere que Trump, a quem apoiou firmemente, acabe prevalecendo, a Casa Branca deve “liberar esse dinheiro” que Biden precisa para fazer sua transição a fim de garantir a continuidade do governo.

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    Michigan se move

    O estado do Michigan, um campo de batalha que foi conquistado por Trump em 2016, mas onde Biden venceu por mais de 150 mil votos este ano, estará novamente sob os holofotes na segunda-feira (23). Um importante republicano no conselho de campanha do estado deverá votar contra a certificação da eleição.

    O deputado republicano Paul Mitchell, de Michigan, disse que um dos dois membros republicanos do conselho, Norman Shinkle, votará contra a certificação até que uma investigação seja concluída.. Apesar de mostrar depoimentos alegando irregularidades no Michigan, a campanha de Trump não produziu provas que tenham se sustentado no tribunal.

    As chances de a eleição ser certificada na segunda-feira agora dependem do voto do outro membro republicano do conselho de campanha, Aaron Van Langevelde. A falha em certificar a eleição pode deixar a disputa nas mãos da governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, ou da Suprema Corte do estado.

    Trump e seus assessores colocaram considerável pressão sobre os políticos locais em Michigan para impedir a vitória de Biden. O presidente convocou dois membros da liderança republicana da legislatura estadual à Casa Branca na sexta-feira. Mas disseram que não foram informados de nada que mudaria o resultado da eleição.

    Na Pensilvânia, onde a margem de Biden é de mais de 81 mil votos, espera-se que a maioria dos Conselhos Eleitorais do condado se reúna na segunda-feira para certificar seus resultados eleitorais. A Filadélfia deve se reunir na segunda ou terça-feira, dependendo de uma ação judicial pendente no tribunal estadual que tenta atrasar a certificação. Os condados enviaram os resultados à secretária de Estado da Pensilvânia, Kathy Boockvar, que concederá os 20 votos eleitorais do estado ao vencedor.

    Os prazos de certificação em cascata e as reversões contínuas no tribunal significam que as esperanças de Trump de reverter os resultados da eleição estão se tornando menores a cada dia.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).