Maioria dos abrigos para deslocados no Líbano está lotada, diz ONU
Estimativa aponta para mais de 1 milhão de deslocados desde o início das hostilidades entre o Hezbollah e Israel
Autoridades da Organização das Nações Unidas disseram nesta sexta-feira (4) que a maioria dos quase 900 abrigos do Líbano estava lotada e que as pessoas que fugiam dos ataques militares israelenses dormiam cada vez mais ao ar livre, nas ruas ou em parques públicos.
“A maioria dos quase 900 abrigos coletivos estabelecidos pelo governo no Líbano não tem mais capacidade”, afirmou Rula Amin, da agência de refugiados da ONU, em uma coletiva de imprensa em Genebra.
Ela disse que estavam a trabalhar com as autoridades para encontrar mais locais e que, entretanto, alguns hotéis e até discotecas de Beirute estavam abrindo as suas portas.
As autoridades libanesas dizem que mais de 1,2 milhão de libaneses foram deslocados e quase 2.000 pessoas foram mortas desde o ressurgimento do conflito de Israel com o grupo libanês Hezbollah, apoiado pelo Irã, no último ano, a maioria deles nas últimas duas semanas.
“As estradas estão congestionadas, as pessoas dormem em parques públicos, nas ruas, na praia”, disse Mathieu Luciano, chefe do escritório da Organização Internacional para as Migrações no Líbano.
Ele confirmou que a maioria dos abrigos estava lotada, incluindo os de Beirute e do Monte Líbano, mas disse que alguns outros ainda tinham espaço. Muitos dos abrigos atuais são escolas, disse ele, o que significa interrupções na educação.
Ele expressou preocupação com dezenas de milhares de trabalhadoras domésticas residentes no Líbano, na sua maioria mulheres, que ele disse estarem a ser “abandonadas” pelos seus empregadores. “Elas não têm documentos… e, como resultado, estão relutantes em procurar assistência humanitária porque temem ser presos e deportados”, disse ele. Muitos vieram do Egito, Sudão e Sri Lanka, disse ele, e muitos não falavam as línguas locais.
Nesta sexta-feira, ataques israelenses isolaram a principal passagem fronteiriça do Líbano com a Síria, bloqueando o caminho para veículos, embora Amin, do Acnur, tenha dito que alguns atravessavam a pé.
“Pudemos ver que algumas pessoas estavam caminhando, desesperadas para fugir do Líbano, e então elas realmente caminharam por aquela estrada destruída”, disse ela. Cerca de 60% dos mais de 185 mil que Amin disse terem chegado até agora à Síria eram crianças e adolescentes, às vezes sem os pais.
“Enquanto fogem dos bombardeios, as famílias chegam com profunda fadiga física e emocional e enormes necessidades de apoio”.
Entenda a escalada nos conflitos do Oriente Médio
O ataque com mísseis do Irã a Israel no dia 1º marcou uma nova etapa do conflito regional no Oriente Médio. De um lado da guerra está Israel, com apoio dos Estados Unidos. Do outro, o Eixo da Resistência, que recebe apoio financeiro e militar do Irã e que conta com uma série de grupos paramilitares.
Israel tem soldados em três dessas frentes: Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nas outras quatro, realiza bombardeios aéreos.
O Exército israelense iniciou uma “operação terrestre limitada” no Líbano no dia 30 de setembro, dias depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio ao quartel-general do grupo, no subúrbio de Beirute.
As Forças de Defesa de Israel afirmam que mataram praticamente toda a cadeia de comando do Hezbollah em bombardeios semelhantes realizados nas últimas semanas. No dia 23 de setembro, o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.
Ao menos dois adolescentes brasileiros morreram nos ataques. O Itamaraty condenou a situação e pediu o fim das hostilidades.Com o aumento das hostilidades, o governo brasileiro anunciou uma operação para repatriar brasileiros no Líbano.
Na Cisjordânia, os militares israelenses tentam desarticular grupos contrários à ocupação de Israel ao território palestino.
Já na Faixa de Gaza, Israel busca erradicar o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro que deixou mais de 1.200 mortos, segundo informações do governo israelense. A operação israelense matou mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.
O líder do Hamas, Yahya Sinwar, segue escondido em túneis na Faixa de Gaza, onde também estariam em cativeiro dezenas de israelenses sequestrados pelo Hamas.