Macron diz que União Europeia vai encerrar negociações com o Mercosul
Presidente francês já havia se posicionado fortemente contra o acordo de livre comércio; anúncio acontece em meio a protestos de agricultores que ameaçam “sitiar” Paris
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse com insistência à Comissão Europeia que é “impossível” concluir as negociações para um acordo de livre comércio com o Mercosul e exigiu que elas fossem encerradas.
Segundo um comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu, os negociadores europeus já foram instruídos a comunicar aos seus pares sul-americanos que as tratativas seriam, de fato, encerradas.
O Itamaraty informou no início da tarde desta segunda-feira (29) que não foi comunicado sobre o tema.
Na semana passada, os dois lados fizeram uma reunião em Brasília para discutir pontos do acordo. Segundo uma fonte do Ministério das Relações Exteriores, os encontros foram positivos e os europeus não fizeram, na ocasião, nenhum movimento para encerrar o diálogo.
As informações do governo francês foram divulgadas no mesmo dia em que agricultores revoltados com Macron e com a União Europeia fecharam várias estradas no país e ameaçaram “sitiar” Paris nos próximos dias.
Eles protestam contra aumentos no preço de produção do setor e contra a concorrência de produtos importados de fora do bloco.
Os líderes dos agricultores reclamam da entrada de alguns produtos mais baratos do que eles conseguem produzir vindos da Ucrânia, com liberações especiais colocadas em prática depois do início da guerra com a Rússia.
Além disso, eles também se opuseram ao acordo comercial com os países do Mercosul, que, segundo eles, permitiria importações baratas de alimentos que não cumprem as rigorosas normas ambientais da União Europeia – sobre as quais eles também têm fortes ressentimentos.
Além da França, também aconteceram protestos em Bruxelas, a capital da Bélgica e sede da União Europeia. Lá, os agricultores conseguiram chegar com seus tratores ao centro da cidade, onde buzinaram ruidosamente.
Protestos semelhantes também aconteceram recentemente na Alemanha, Polônia e Romênia, aumentando as preocupações de vários governos sobre o assunto – e mostrando como a questão da competição no setor agrícola é difícil para os europeus.
Protecionismo francês
O governo francês sempre foi muito protecionista com relação ao setor agrícola, e Macron já tinha se manifestado fortemente contra o acordo.
Temendo em especial a concorrência do extremamente competitivo agronegócio brasileiro, Macron tentou enterrar as negociações em dezembro do ano passado, logo depois de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a COP 28, nos Emirados Árabes Unidos.
Na ocasião, ele disse que era definitivamente contra o acordo, apesar de outros líderes europeus, como o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz, terem uma posição favorável.
Antes mesmo do encontro entre Lula e Macron, os líderes do Mercosul já haviam afirmado que gostariam de fechar o acordo até o fim do ano passado.
A posição do francês jogou água na fervura, mas os dois lados soltaram um comunicado afirmando que as negociações continuariam, sem um prazo para acabar.
O acordo vem sendo discutido há mais de 20 anos, e precisaria ser aprovado pelos parlamentos de todos os 27 países europeus, além dos parceiros do Mercosul.
Na ocasião da fala de Macron, o Itamaraty replicou afirmando que a decisão de continuar as negociações não era da França, mas sim da Comissão Europeia.
Com o comunicado desta segunda-feira (29), o acordo pode ser enterrado de vez.