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    Lula em Madri: governo espanhol vê com bons olhos viagem de Amorim à Ucrânia

    “Creio que a Espanha e o Brasil desejam o mesmo: a paz”, afirmou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez

    Lourival Sant'Anna

    A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a Madri, na Espanha, serviu para colocar em evidência as diferenças de visões entre ele e o governo espanhol sobre a guerra na Ucrânia e o acordo Mercosul-União Europeia, mas também para buscar pontos convergentes em relação a investimentos e meio ambiente.

    O presidente brasileiro fez declarações que sugerem que a visão de mundo e as posições por ele adotadas em relação a alguns temas internacionais da atualidade poderiam ser decorrência de ignorância ou esquecimento de fatos amplamente conhecidos e relativamente recentes.

    “Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, não houve discussão no Conselho de Segurança”, afirmou o presidente, ao lado do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

    “Quando a França e a Inglaterra invadiram a Líbia, não houve discussão. E agora a Rússia, integrante permanente, também não discutiu.”

    Em novembro de 2002, quatro meses antes da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e Reino Unido, o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou resolução dando ao regime de Saddam Hussein “uma oportunidade final para cumprir com suas obrigações de desarmamento”.

    No início de fevereiro de 2003, o então secretário de Estado americano Colin Powell apresentou supostas evidências da existência de armas de destruição maciça em estado operacional no Iraque. Essa informação era falsa, como se sabia na época, e mais tarde ficaria provado que os “indícios” tinham sido forjados pelos serviços de inteligência americanos.

    O CS não aprovou a invasão, que ocorreu assim mesmo, sem autorização do órgão da ONU. Naquele momento, o Brasil não ocupava assento rotativo no CS.

    Em 2011, o CS aprovou a intervenção da Otan na Líbia, para evitar o massacre de cidadãos líbios pelo regime de Muammar Gaddafi. O Brasil, na época governado por Dilma Rousseff (PT), ocupava um assento no Conselho, e se absteve da votação.

    França e Reino Unido tomaram a dianteira nos bombardeios ao comboio que Gaddafi havia enviado para destruir Benghazi, segunda maior cidade líbia, com 1 milhão de habitantes, e “capital” dos rebeldes.

    “Ora, se os membros que têm a responsabilidade de dirigir a paz mundial não pedem licença, por que é que os outros têm que obedecer?”, perguntou Lula, reforçando a linha de argumentação com a qual a Rússia justifica a invasão da Ucrânia.

    “Então acho que está na hora de a gente começar a mudar as coisas. Está na hora de a gente criar um G20 da paz, que deveria ser a ONU.”
    Pedro Sánchez respondeu de forma diplomática às acusações de Lula em Pequim e em Abu Dhabi de que a União Europeia e os Estados Unidos têm interesse e fomentam a guerra.

    “Creio que a Espanha e o Brasil desejam o mesmo: a paz”, ponderou o primeiro-ministro espanhol, que é socialista.

    “E para que esta paz seja duradoura, e também justa, é importante todos nos envolvermos e garantirmos que sejam respeitados os princípios fundamentais do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas, como a integridade territorial e a ordem internacional baseada em regras. E sem esquecer que nesta guerra há um agressor e há um agredido, o agressor é (Vladimir) Putin e o agredido neste caso é um povo que só luta pela sua integridade territorial, pela sua soberania nacional e pela sua liberdade. E, neste contexto, obviamente, a Espanha tem trabalhado desde o início para alcançar essa paz justa e duradoura.”

    A CNN apurou que, na visão do governo espanhol, assim como da Europa em geral, não basta declarar-se contra a invasão. É preciso agir para pressionar Putin a se retirar dos territórios ucranianos.

    Europa, Estados Unidos e seus aliados têm feito isso enviando ajuda militar, financeira e humanitária à Ucrânia e impondo sanções comerciais contra a Rússia.

    O Brasil, desde o governo de Jair Bolsonaro (PL), é contra essas duas iniciativas, e elevou em 38% as importações de produtos russos no ano passado, quando a Rússia saltou de 12.º para 5.º maior exportador para o Brasil.

    Uma fonte do governo espanhol considerou positivo o encontro do assessor especial de Lula para relações exteriores Celso Amorim com o responsável pela política externa da União Europeia, Josep Borell, que é espanhol. E também o plano de Amorim de visitar a Ucrânia, para que conheça a realidade da guerra.

    Sánchez afirmou: “Hoje, também falamos sobre a seca, que é um desafio que a Espanha e o Brasil compartilham, e também agradeço pessoalmente a ajuda e os conselhos que o presidente Lula nos deu sobre esse assunto”.

    Os dois trataram também dos obstáculos à entrada em vigor do acordo Mercosul-União Europeia, incluindo o protocolo adicional elaborado pelos europeus banindo a importação de produtos associados ao desmatamento.

    “A Espanha, como sabem, mantém um firme compromisso para avançar na ratificação deste importante acordo comercial”, afirmou Sánchez.

    Já o presidente brasileiro expressou suas reservas ao acordo firmado em 2019 pelo governo Bolsonaro. Lula quer rediscutí-lo para manter a reserva de mercado para empresas brasileiras nas compras governamentais e proteger a indústria brasileira da concorrência internacional.

    Por fim, Sánchez defende a entrada do Brasil na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e tratou com Lula das condições e vantagens disso.

    “A Espanha é o segundo maior investidor no Brasil, e as empresas espanholas já deram uma grande contribuição à criação de riqueza e emprego em setores-chave para a economia brasileira”, lembrou o primeiro-ministro.

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