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    Local exato de reféns e custo humano desafiam possível entrada de Israel em Gaza

    Pelos menos 97 pessoas estão sendo mantidas reféns pelo Hamas no local

    Da CNN , São Paulo

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    O local exato onde estão os reféns e o custo humano desafiam uma possível entrada de Israel na Faixa de Gaza, segundo especialistas ouvidos pela CNN.

    O número de reféns detidos pelo Hamas é de pelo menos 97 pessoas, que estão espalhadas por Gaza.

    Reprodução/CNN

    Israel tem diversos obstáculos para avaliar e eventualmente enfrentar caso decida invadir a Faixa de Gaza, diz Danielle Ayres, professora de Política Internacional da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

    A especialista avalia que o começo da incursão “é uma das decisões mais difíceis que Israel vai ter que tomar”, mas que é praticamente certo que aconteça, ao destacar falas do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e do ministro da Defesa, Yoav Gallant, defendendo a realização do contra-ataque.

    VÍDEO – Invadir Gaza é uma das decisões mais difíceis que Israel terá que tomar, diz professora

    O que Israel tem como meta através dessa incursão terrestre é neutralizar o máximo possível do Hamas e de alguma forma recuperar os reféns”, pontua Ayres, que avalia que isso só deve ser feito se todas as tentativas de resgate por meio do diálogo falharem.

    “[Israel precisa] saber onde estão detidos esses reféns para se realizar uma incursão rápida e com o menor número de danos possíveis”, prossegue.

    Desse modo, a especialista avalia que o ataque não deve envolver uma intenção de anexação do território. “Até agora, nada do ponto de vista estratégico deu a entender isso”, explica.

    Contudo, a operação seria dificultosa para as forças israelenses, sendo esse o motivo da demora em anunciar a invasão. “O nível de custo humano que Israel pode ter do seu esforço militar é muito grande”, pontua Ayres.

    Segundo o especialista em Relações Internacionais Uriã Fancelli, o conflito contra o Hamas pode tomar maiores proporções caso seja iniciada a incursão terrestre para Gaza, com a operação sendo imprevisível para as Forças de Defesa de Israel (FDI).

    “O complicado disso tudo é justamente não saber o que eles vão encontrar assim que entrarem [em Gaza]. Pode haver armadilhas. [Com a invasão], o número de mortes vai ser imenso”, diz.

    Fancelli explica que Israel enxerga a operação terrestre como “uma das únicas alternativas” para controlar o Hamas e resgatar os civis israelenses sequestrados pelo grupo.

    VÍDEO – Analista: Israel não sabe o que pode encontrar caso invada Faixa de Gaza

    Agravamento da situação

    Uriã Fancelli chama atenção para o fato de que, mesmo sem a invasão terrestre, a guerra possui proporções graves.

    “Quando há intencionalmente ataques a estruturas civis e isso deixa mortos, é um crime de guerra”, diz o especialista, citando os ataques israelenses.

    Caso a situação se agrave ainda mais, Fancelli explica que a comunidade internacional pode passar a condenar Israel, levando a um eventual afastamento.

    “É importante que Israel se acalme um pouco e mande uma mensagem apenas posicionando seus armamentos, reservistas e o aporte dos Estados Unidos para não perder o apoio desde já. Ao que tudo indica, essa guerra será longa e o país sozinho não vai dar conta de lutar”, defende o internacionalista.

    Sendo assim, de acordo com Danielle Ayres, para entrar em Gaza, Israel precisaria cessar os bombardeios.

    O problema é que desse modo as forças do Hamas poderiam se reorganizar e se preparar para a defesa contra as forças israelenses.

    Uma vez dentro da Faixa de Gaza, o exército de Israel enfrentaria um problema demográfico, de acordo com a professora.

    “Maior dificuldade é de se adentrar em um território denso”, reforça Ayres, que destaca a grande população, as ruas estreitas e quantidade de detritos como empecilhos para que Israel consiga adentrar em Gaza.

    Esse fator pode ser ainda mais prejudicial para as forças israelenses se levada em conta a falha na inteligência israelense em acompanhar a evolução do inimigo.

    “Não tínhamos dimensão da potencialidade estratégica que o Hamas estava desenvolvendo”, pontuou a professora. “O Hamas luta guerras urbanas de guerrilha. Quando Israel entra no território deles, está enfrentando uma região que o grupo conhece e pode ter se preparado para emboscadas.”

    VÍDEO – Hamas tem que ser destruído como foi o Estado Islâmico, diz Netanyahu

    Incursões anteriores

    Em janeiro de 2009, a equipe da CNN pegou carona em um comboio de ambulâncias que ia de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em direção à cidade de Gaza, na costa. Os médicos permitiram a ida com a condição de que os jornalistas fossem em suas macas.

    Durante o trajeto, um médico gritou: “Abaixe-se!”, quando a ambulância se aproximou do posto de controle israelense. Pela janela da frente, foi possível ver tanques à beira da estrada, soldados israelenses nervosos erguendo suas armas durante a aproximação.

    Após uma breve conversa com os médicos da ambulância, os soldados acenaram sem inspecionar os veículos.

    As blitze faziam parte da “Operação Chumbo Fundido”, uma ação em grande escala de Israel na Faixa de Gaza que ocorreu entre os anos de 2012, 2014, 2021 e 2022.

    Foi a ofensiva militar terrestre israelense em Gaza mais profunda desde sua saída da área em 2005.

    Depois, as tropas israelenses evitaram em grande parte as áreas mais urbanizadas e populosas, especialmente os oito campos de refugiados apinhados de Gaza.

    Eles sabiam muito bem que entrar nas vielas estreitas de campos como o de al-Shati, um dos mais movimentados, seria arriscado. Seu foco estava no controle da periferia das áreas urbanas.

    As táticas de Israel sempre foram mover-se rapidamente, controlar o máximo de território possível, mas evitar combates de rua em rua, de casa em casa, onde um adversário mais fraco pode obter vantagem. Entrar nas áreas urbanas de Gaza, no entanto, traria um elemento totalmente novo à luta.

    Neste momento, as forças israelenses estão em confronto com o Hamas. Mas Gaza é o lar de muitos grupos que lutam pela liberdade dos palestinos, incluindo a Jihad Islâmica, a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), a Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP). Eles não têm mão de obra ou armamento do Hamas, mas são numerosos o suficiente para lutar pelas suas reivindicações.

    Em março de 2008, o repórter da CNN Ben Wedeman foi a Gaza para cobrir uma incursão israelense no norte, desta vez apelidada de “Inverno Quente”, mais uma tentativa de impedir o lançamento de foguetes a partir de Gaza.

    Nesse período, o Hamas controlava totalmente a Faixa de Gaza, tendo expulsado a facção rival Fatah no ano anterior. Mas, quando ele chegou à área onde as forças israelenses tentavam avançar, não eram combatentes do Hamas, mas sim homens armados da Frente Popular para a Libertação da Palestina que travavam batalhas de rua com tropas israelenses.

    Eles entravam e saíam dos becos, corriam pelas ruas com lançadores de granadas e rifles de assalto Kalashinkov.

    Os jovens estavam quase tontos de excitação. Finalmente tiveram a oportunidade de combater as tropas israelenses no seu próprio território. Eventualmente, os israelenses retiraram-se. O lançamento de foguetes continuou.

    VÍDEO – Israel: Ajuda a Gaza depende da libertação de reféns

    Voltando ao verão de 1982, quando Israel invadiu o Líbano em perseguição à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), as forças israelenses percorreram todo o caminho até Beirute e depois pararam nos arredores, estabelecendo um cerco muito semelhante ao anunciado na última segunda-feira (9) pelo Ministro da Defesa isnraelense, Yoav Gallant.

    Já naquela altura era claro que entrar em Beirute, especialmente nos campos de refugiados palestinos, seria uma missão mortal para todos.

    Durante o cerco que se seguiu, aviões de guerra e artilharia israelenses atacaram Beirute Ocidental, capital do Líbano, mas as tropas terrestres permaneceram fora de Beirute propriamente dita.

    No fim, sob pressão americana, foi elaborado um acordo segundo o qual os combatentes palestinos evacuariam Beirute e o Líbano em direção ao Iêmen, Tunísia e outros locais.

    Foi só depois de partirem que as tropas israelenses assumiram o controle da parte ocidental da cidade. Pouco depois, em setembro de 1982, com Israel no controle de Beirute Ocidental, os militares israelenses, sob a liderança do então Ministro da Defesa Ariel Sharon, permitiram que os seus aliados libaneses cristãos de direita, os Kataib, entrassem nos campos de refugiados de Sabra e Shatila e massacrassem 1.000 civis que já não conseguiam defender-se porque os homens em idade de lutar e as suas armas tinham partido como parte do acordo mediado pelos EUA com a OLP.

    Os militares israelenses já mobilizaram 300 mil reservistas para o que hoje se acredita ser uma incursão sem precedentes em Gaza – e talvez, alguns especulam, uma reocupação do enclave – na sequência do ataque surpresa do Hamas no sábado (7), que matou mais de 1.000 pessoas em Israel.

    O que o espera é um Hamas que demonstrou crueldade no seu ataque de sábado e um nível de capacidade militar muito além do que se pensava anteriormente. Provavelmente está bem preparado para a próxima fase desta guerra.

    Desde o fim de semana, Israel lançou centenas de ataques em Gaza, transformando algumas áreas em terrenos baldios. No processo, centenas de palestinos, incluindo muitos civis, foram mortos. E esta é apenas a fase inicial desta guerra.

    Se acontecer, a operação terrestre será muito mais sangrenta e destrutiva.

    As forças israelenses também terão de estar conscientes de que espalhados por Gaza estão mais de uma centena de israelenses – soldados e civis, incluindo mulheres e crianças – mantidos em cativeiro pelo Hamas.

    E, embora ninguém fora do Hamas saiba onde estão detidos, é provável que estejam nas áreas de acesso mais difícil para as forças israelenses, possivelmente em campos de refugiados sobrelotados.

    Por mais ansiosos que os líderes de Israel estejam em desferir um golpe fatal no Hamas, isso terá um preço muito elevado. Para todos.

    Veja também: Israel intensifica bombardeios contra Gaza

    *Publicado por Douglas Porto, com informações de João Nakamura

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