Libertarianismo de Milei é de esquerda ou de direita? Especialistas explicam
Candidato à Presidência da Argentina defende liberdades individuais, sociais e econômicas, dolarização da economia e extinção do Banco Central do país
Entender as ideias de Javier Milei é um desafio para a ciência política moderna. O candidato à Presidência da Argentina que se declara “libertário” possui pontos em comum em pautas defendidas pela esquerda e também de outras apoiadas pela direita.
O Libertarianismo é uma corrente ideológica originária do século 19 que tem como prisma a defesa da liberdade “como direito natural” do ser humano, além do questionamento ao autoritarismo e às ações do Estado.
Por isso, em seus discursos, Milei costuma evidenciar propostas que são consideradas “radicais” e até impossíveis de serem colocadas em prática, ainda mais em um país que vive heranças políticas do peronismo e do kirchnerismo – correntes de esquerda.
Ele idealiza, por exemplo, a economia argentina sem nenhuma interferência estatal, ou seja, um estado de “laissez-faire” (deixe fazer) para tentar frear a inflação de três dígitos, ideal que é base do pensamento liberal clássico de direita.
No entanto, no campo dos costumes, o candidato à Presidência é favorável ao casamento homoafetivo e até faz críticas a respeito do papel do governo em regulamentar as uniões de indivíduos, pensamento amplamente defendido pela esquerda.
Por estar “flutuando” em diversos lados do espectro político que estamos acostumados a conhecer, libertários optam por posicionar Javier Milei fora do dualismo “esquerda X direita”.
Para Raphaël Lima, criador do canal Ideias Radicais e líder de políticas públicas do Instituto Libertas, a melhor forma de entender Javier Milei é a partir do diagrama de Nolan.
“O espectro político é limitado. Esquerda e direita, às vezes, são parecidos em amar a intervenção do estado nas coisas. Os libertários preferem usar o diagrama de Nolan, que mostra melhor as diferenças entre grupos, e nele, obviamente, Milei está fortemente no campo Libertário, onde se defende que o indivíduo é livre para controlar sua vida, desde que arque com as consequências disso”.
O que é o diagrama de Nolan?
O modelo foi criado pelo psicólogo Bob Altemeyer a partir da influência do sociólogo alemão Theodor Adorno e apropriado pelo libertário norte-americano, David Nolan, em 1969.
O diagrama é dividido em dois eixos centrais: liberdades individuais e liberdades econômicas. Na parte superior há cinco quadrantes: centro, direita, esquerda, libertário (liberal) e populista (totalitário).
Portanto, para definir o espectro político são feitas perguntas referentes às preferências econômicas e de costumes. Na lógica de Nolan, os quadrantes significam:
- Direita – defendem a não intervenção econômica e defende restrições em alguns temas morais;
- Esquerda – defendem restrições na economia e não intervenção em questões morais;
- Centrismo – equilíbrio entre intervenção e liberação;
- Libertário (liberal) – favoráveis à liberdade nos campos da economia e questões morais;
- Estatismo (totalitarismo) – favoráveis à restrição nos dois campos.
A partir desta análise, Javier Milei estaria no quadrante mais libertário possível, já que apoia as liberdades individuais e as econômicas em sua totalidade e, ao mesmo tempo, diferente do que acontece com políticos tradicionais, que possuem entendimentos restritos a determinadas pautas.
Liberal clássico x Libertário
Uma outra discussão que se faz no ambiente político é se Javier Milei possui o apoio de políticos e de pessoas que simpatizam com os princípios liberais clássicos do século 19 e de partidos mais ligados à direita.
As eleições presidenciais da Argentina estão marcadas para o próximo dia 22 de outubro. De acordo com pesquisas e especialistas, Milei está na liderança dos votos, mas não o necessário para vencer em primeiro turno. A expectativa é a de que o atual ministro da economia argentino, Sergio Massa, seja o adversário na segunda fase do pleito.