Junta militar realiza primeiras prisões no Níger, informa partido
Dois ministros e o filho de um ex-presidente estão entre as pessoas detidas, de acordo com o Partido Nigerense para a Democracia e o Socialismo; outras três pessoas já haviam sido detidas pelo novo regime
A junta que aplicou um golpe de Estado e tomou o poder no Níger na semana passada prendeu nesta segunda-feira (31) três importantes políticos do antigo governo, afirmou o partido dos detidos.
Os políticos presos são o ministro da Mineração, o líder do partido governista e o ministro do Petróleo, Mahamane Sani Mahamadou, filho do ex-presidente Issoufou Mahamadou. A informação foi dada pelo Partido Nigerense para a Democracia e o Socialismo. Outras três autoridades do primeiro escalão já tinham sido detidas.
Em meio ao cenário de instabilidade, o Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que está monitorando os acontecimentos no país africano, mas não tomou ações práticas em resposta ao golpe. A entidade disse que ainda não pagou os 131,5 milhões de dólares de um empréstimo ao país aprovado no dia 5 de julho.
Níger: general se apresenta como novo líder do país
Fontes afirmaram que o banco central do país cancelou a emissão de 30 bilhões de Francos CFA (R$ 241 milhões) em títulos do governo, algo que estava previsto para acontecer nesta segunda-feira.
A União Africana, a União Europeia e outros países condenaram a derrubada do presidente, Mohamed Bazoum. Foi a sétima vez em menos de três anos que os militares tomaram o poder em nações da África Central e Ocidental.
O golpe de quarta-feira aumentou a tensão na região do Sahel. Os Estados Unidos, a França e outras potências ocidentais possuem tropas no Níger e estavam ajudando o governo a combater forças militantes ligadas ao Estado Islâmico e à Al Qaeda.
O bloco regional Ecowas, que reúne os países da África Ocidental, impôs sanções contra o Níger, incluindo o congelamento de todas as transações financeiras e de ativos nacionais. O grupo afirmou que pode autorizar o uso da força para que Bazoum volte ao poder. Na quarta, ele foi aprisionado no palácio por membros de sua própria guarda.
O bloco aparentemente tomou atitude mais enérgica contra Níger do que em relação a outros países liderados por juntas militares e em situação similar, já que não ameaçou usar a força nesses outros casos. A UE e a França suspenderam apoio financeiro ao país, e os Estados Unidos podem fazer o mesmo.
“A UE e o Níger mantêm laços há décadas. O ataque inaceitável ao governo democraticamente eleito coloca esses laços em perigo”, disse a presidente da Comissão Europeia — braço executivo da União Europeia —, Ursula von der Leyen.
A França disse que reconhece apenas Bazoum como autoridade legítima e está concentrada em proteger seus próprios cidadãos e interesses no país. O Níger é o sétimo maior produtor mundial de urânio, metal radioativo usado para gerar energia nuclear e tratar o câncer.
Os vizinhos Mali e Burkina Faso também sofreram golpes militares nos últimos dois anos, na esteira de um sentimento anti-França na região. A Rússia passou a se aproximar de tais nações.
Yevgeny Prigozhin, chefe dos mercenários do Grupo Wagner, elogiou o golpe e disse que suas forças restauraram a ordem no país. O Kremlin afirmou estar preocupado com a situação e pediu o retorno da ordem constitucional.
(Reportagem de Boureima Balima e Abdel-Kader Mazou; reportagem adicional de Anait Miridzhanian e Bate Felix)