Jovem de 14 anos é preso na sala de aula por bullying contra colega trans na França
Governo francês quer endurecer combate ao assédio nas escolas após suicídio de jovem que sofria bullying
Um estudante de 14 anos foi preso dentro da sala de aula, em frente aos colegas, na segunda-feira (18), em uma escola de Alfortville, na região metropolitana de Paris.
O adolescente é acusado de assédio contra uma jovem transgênero, de 15 anos.
O jovem teria enviado mensagens à garota pelas redes sociais com expressões como “travesti sujo”, “vamos cortar sua garganta”, “tenho ódio pela sua raça” e “você merece morrer”, segundo informou o ministro da Educação francês, Gabriel Attal, em entrevista à BFM, emissora francesa afiliada da CNN.
As agressões do jovem foram condenadas, mas a decisão de realizar a prisão em frente a outros alunos também chocou alunos e pais.
A ação aconteceu em meio à tentativa do governo francês de endurecer a repressão ao assédio nas escolas, depois da morte do garoto Nicolas, no início de setembro, que se suicidou após sofrer bullying.
Os pais do estudante tinham comunicado a escola sobre o assédio sofrido pelo filho, mas receberam como resposta uma carta, em tom ameaçador, na qual a diretoria dizia que o Código Penal previa multas de até 45 mil euros por denúncia caluniosa.
Na ocasião, o ministro da Educação se manifestou condenando a carta da diretoria e prometendo medidas duras para reduzir os casos de bullying no sistema educacional francês.
Nesta quarta-feira (20), o porta-voz do governo, Olivier Véran, disse que a detenção do garoto em sala de aula foi feita dentro da lei e seguindo as diretrizes do Ministério Público e da equipe da escola.
“É assim que enfrentaremos esse flagelo do assédio. É assim que protegeremos também os nossos filhos, enviando mensagens fortes”, afirmou Véran, em coletiva após reunião do conselho de ministros.
À BFM, Gabriel Attal reconheceu que a prisão do aluno em sala de aula “pode suscitar questionamentos”, mas defendeu que ninguém deve subestimar “um fenômeno que leva à morte trágica de muitos jovens no país”. E afirmou que “não pode haver serenidade sem autoridade” e que os casos de assédio exigem “uma reação rápida”.
Bullying e suicídio
Depois da morte de Nicolas, outros casos vieram à tona de crianças que se suicidaram após sofrer bullying, diante de acusações de leniência por parte das escolas.
Associações educacionais afirmam que os casos de agressão estão se tornando mais comuns e também violentos por causa da internet.
De acordo com a entidade francesa de combate à violência e ao assédio nas escolas, “Marion la main tendue”, os alunos têm acesso cada vez mais cedo a conteúdos inadequados para sua idade no ambiente virtual.
Isso leva os jovens a banalizar discursos de violência e insultos e, por não terem maturidade suficiente, muitos absorvem e reproduzem esses comportamentos.
Segundo a organização, como os jovens ainda não têm consciência de questões como orientação sexual e igualdade de gênero, isso tem propiciado episódios recorrentes de comentários sexistas e homofóbicos, além de suas consequências, muitas vezes trágicas.