Javier Milei: veja o que candidato argentino já falou sobre Lula e o Brasil
Neste domingo (8), acontece o segundo dos dois debates eleitorais obrigatórios no país; Argentina vai às urnas no próximo dia 22 para definir novo presidente, governadores e congressistas
No próximo dia 22, os argentinos vão às urnas para definir – além de governadores e congressistas – um novo presidente, e o candidato de extrema-direita Javier Milei aparece como um dos favoritos na disputa.
Neste domingo (8), na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, os candidatos farão o segundo dos dois debates obrigatórios organizados pela Câmara Nacional Eleitoral da Argentina.
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Na maioria das pesquisas eleitorais, Milei lidera as intenções de voto com cerca de 35% e o ministro da Economia, Sergio Massa, aparece em segundo lugar, com aproximadamente 30%.
Para ganhar no primeiro turno, o candidato precisa obter 45% dos votos ou 40% com uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado. Se necessário, o segundo turno será em 19 de novembro.
O que Javier Milei já falou sobre Lula e o Brasil?
Em agosto, fontes do Itamaraty afirmaram à CNN ver com preocupação a possibilidade de vitória de Milei, e fontes do Palácio do Planalto afirmaram à CNN temer pelo futuro do Mercosul.
O economista e antigo comentarista político, que se apresenta como “anarcocapitalista” e antissistema, já demonstrou mais de uma vez que, se eleito, irá promover mudanças na relação entre Argentina e Brasil. Além disso, ele fez ataques públicos recorrentes contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na quarta-feira (4), Milei foi ao X (antigo Twitter) chamar Lula de “comunista nervoso” e o acusou de realizar ações diretas contra sua candidatura.
“A casta vermelha treme. Muitos comunistas nervosos e com ações diretas contra mim e meu espaço. A liberdade avança! Viva a liberdade, c******!”, escreveu Milei.
O argentino usou como base uma publicação do jornal O Estado de S. Paulo que afirmava que Lula teria influenciado a Corporação Andina de Fomento (CAF), também chamada de Banco de Desenvolvimento da América Latina, a emprestar US$ 1 bilhão à Argentina.
A iniciativa teria impacto positivo na atual gestão presidencial, do aliado de Lula, Alberto Fernández, e do candidato apoiado por ele, Sergio Massa, atual ministro da Economia argentino.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, negou interferência do presidente na tramitação. “Lula não me ligou”, disse Tebet à CNN. “Despachei com minha secretária de assuntos internacionais, que disse que os demais países votariam a favor”, completou.
Essa não é a primeira vez que Milei ataca Lula publicamente. Por exemplo, no mês passado, em entrevista à publicação inglesa The Economist, ele chamou o presidente brasileiro de “socialista com vocação totalitária”.
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Milei alegou que o governo Lula está “usurpando a liberdade de imprensa” e “perseguindo a oposição”: “É um regime que não está de acordo com as ideias de liberdade.”
Em outro momento, a Economist questiona o argentino como ele definiria Lula, uma vez que Milei não o vê como um presidente democrático.
“No caso do Lula é mais complicado… porque ele tem uma vocação totalitária muito mais marcada. Em outras palavras, ele não é apenas um socialista. Ele é alguém que tem vocação totalitária”, afirmou.
Ele demonstrou opinião oposta quando questionado sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Bolsonaro travou uma luta digna contra o socialismo. Depois, a urna não foi com ele, mas é uma pessoa que travou uma luta digna de reconhecimento”, disse Milei.
Relação com o Brasil e o Mercosul
Durante a entrevista à Economist, Milei demonstrou que poderia mudar a forma com que a Argentina se relaciona com a China e o Brasil.
Questionado sobre como seria sua relação com os chineses, Milei disse que não gosta de “lidar com comunistas porque esse não é um sistema que conduz à melhoria dos bens”.
“Nenhum sistema comunista conduz à liberdade. Na verdade, destrói-a, por isso, não posso ter relações com comunistas”, acrescentou.
Em seguida, respondendo sobre como seria sua relação com Lula, o candidato argentino declarou: “Olhe as aberrações que ele está cometendo em seu governo. Não posso apoiar tais assuntos.”
Diante de sua posição ideológica, o candidato foi questionado se ele não avançaria em acordos de livre comércio pelo Mercosul por conta do envolvimento do Brasil.
Milei disse que, em sua visão, “livre comércio não inclui o Estado”. “É uma decisão privada, então você pode fazer comércio com quem você quiser”, continuou.
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“O livre comércio não inclui a interferência do governo nas decisões privadas. Aquilo em que terei influência é na geopolítica, na estratégia em termos de geopolítica”, acrescentou.
Em resposta sobre o que pensa do Mercosul, Milei afirmou que o bloco econômico “é um fracasso comercial que não ultrapassou a categoria de uma união aduaneira que só gera desvios comerciais e danos para todos aqueles que vivem na região”.
“Estou alinhado com [o presidente uruguaio Luis] Lacalle Pou, na medida em que acredito que o Mercosul é um fracasso. Não serviu ao povo, serviu apenas para negócios entre políticos e empresários”, continuou.
Questionado se, caso eleito, tentaria retirar a Argentina do Mercosul, respondeu: “Parece que o Mercosul não funciona e vou a favor de uma agenda de abertura unilateral. Uma vez concluídas as reformas associadas a esta abertura unilateral, não acredito que o governo administre o comércio.”
Sobre o acordo em negociação entre Mercosul e União Europeia, o candidato argentino disse que “a Argentina seguiria seu próprio caminho”.
Especialistas consultados pela CNN afirmam que a possibilidade de Javier Milei ser eleito presidente da Argentina é um risco real à estrutura do Mercosul. Mas indicam que uma “reforma” do bloco é mais provável que a saída do vizinho.
A CNN entrou em contato com o Palácio do Planalto e aguarda retorno.
* Publicado por Léo Lopes, da CNN