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    Javier Milei surpreendeu nas primárias da Argentina, mas pode chegar à Presidência? Especialistas opinam

    Resultado positivo do ultradireitista é reflexo do descontentamento político, de acordo com especialistas ouvidos pela CNN

    Tiago Tortellada CNN

    em São Paulo

    Os candidatos à Presidência da Argentina foram definidos no domingo (13) nas eleições primárias. A maior surpresa da votação foi o ultradireitista Javier Milei, que conseguiu mais votos que os outros postulantes, contradizendo as pesquisas eleitorais.

    Especialistas ouvidos pela CNN analisaram o que significa a vitória “parcial” de Milei e as chances reais de que o deputado chegue à Casa Rosada, a sede do Poder Executivo.

    30% dos votos é “teto” ou “piso” para Javier Milei?

    Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do Ibmec de Belo Horizonte, ressaltou à CNN que o bom desempenho do candidato de oposição foi inesperado, ponderando que há dificuldade das pesquisas de prever o comportamento do eleitor.

    Além disso, analisou que o fato transparece a insatisfação popular com a política nacional, em ascensão na Argentina.

    “Milei pode ganhar a eleição. Sair vitorioso das prévias é um cenário animador para os seus correligionários. Há, entretanto, que se observar os próximos passos até o dia da eleição”, destacou o especialista.

    Mendonça avaliou que, visando chegar à Casa Rosada, Milei precisa capitalizar suas ações e resistir a confrontos que receberá a partir de agora, principalmente de grupos governistas. “Ter 30% de votos é importante, mas não define os rumos da política argentina”, disse.

    Em entrevista à CNN, José Natanson, cientista político e colunista do Le Monde Diplomatique, avaliou que não se pode prever o desempenho futuro de Milei.

    Ele entende que “está tudo muito aberto e incerto”, e que parte do que vai acontecer nas eleições gerais, em 22 de outubro, depende do que Milei e os outros candidatos farão daqui até o pleito.

    Natanson também ponderou que a explicação do sucesso do ultradireitista não se deve aos partidos políticos ou aos políticos, mas deve ser buscada “na sociedade”, insatisfeita com os rumos da política local.

    “Creio que o voto em Milei é um voto de contestação, um ‘grito de bronca’, mas também um desejo de choque. Um desejo profundo de instalar um ponto de inflexão, o antes e depois”, advertiu.

    Assim, ressaltou que há um “núcleo duro” do eleitorado de Milei, que crê naquilo que ele propõe. Mas que também há essa outra parcela que vota nele como forma de dizer ao sistema político que está “nervosa, ‘acredite em mim'”.

    Além disso, observou que há análises de que alguns teriam votado “sabendo que não era uma eleição presidencial. Sabendo que não elegeriam um presidente. Como se fosse uma eleição legislativa”.

    Oposição teria dificuldade para governar

    Outro especialista ouvido pela CNN advertiu que, por mais que a oposição tenha tido um bom desempenho nas primárias, ela terá dificuldade em governar o país, se conseguir eleger o próximo presidente.

    Essa é a avaliação de Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, que concedeu entrevista à CNN no domingo (13), antes do resultado final das primárias.

    O especialista explica que a escolha de Sergio Massa como ministro e candidato foi estratégica, pois ele era presidente da Câmara de Deputados argentina, sendo capaz, de certa forma, de “soldar” votos peronistas — entre Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

    Para ele, mesmo com a oposição vencendo, “ela não vai conseguir governar porque Massa vai ter maioria no Parlamento”. “Ou, pelo menos, um número de votos suficiente para inviabilizar [a governabilidade], sem a gente contar o potencial do sindicalismo argentino, que é todo ele peronista, de impedir o governo pelas greves”, analisou.

    FOTOS — Candidatos à Presidência da Argentina