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    Itamaraty diverge sobre prevalência de interesses da China e peso do Brasil na Cúpula dos Brics

    Parte não viu vantagens, por exemplo, na expansão do grupo, enquanto outra considerou que tudo o que o Brasil defendeu acabou sendo acatado

    Caio Junqueirada CNN

    São Paulo

    Diplomatas brasileiros com quem a CNN conversou divergiram sobre o resultado final da Cúpula dos Brics.

    Parte não viu vantagens, por exemplo, na expansão do grupo, enquanto outra considerou que tudo o que o Brasil defendeu acabou sendo acatado.

    VÍDEO – Waack: Brics se tornaram uma geringonça da China

    Há relatos de que, mesmo antes da viagem presidencial, já havia divergência interna sobre a ampliação de membros.

    Um diplomata avaliou à CNN que um desenho final diferente do que ocorreu seria impossível pela pressão que foi instalada pela China para que o Brics original fosse deixado para trás.

    Segundo essa mesma fonte, o Brasil perde um pouco de densidade e peso relativos no contexto geral.

    Outro avaliou que a cúpula atendeu muito a interesses da China — desde a lista de países convidados para a reunião até a liderança do presidente chinês, Xi Jinping, durante todo o evento.

    A conclusão dessa fonte é que a cúpula serviu para consolidar a posição da China no chamado “Sul Global”, antigamente classificados como “países em desenvolvimento” e, antes ainda, de “países do terceiro mundo”.

    A leitura é que o desenho final do acordo foi uma vitória de Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República. Em especial, pela admissão do Irã no grupo.

    O ex-chanceler tentou, sem sucesso, intermediar um acordo nuclear mundial do país em 2010.

    Diplomatas brasileiros relataram que a agenda de união de países não-alinhados aos Estados Unidos é prioritária e o fato de ser alguém de confiança e próximo ao presidente Lula acaba facilitando que essa visão prevaleça na diplomacia brasileira.

    Isso porque determinadas agendas, como a dos Brics são consideradas “diplomacia presidencial”. Ou seja, o presidente da República tem posição privilegiada para dar a última palavra.

    Interlocutores do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, avaliaram à CNN que o Brasil obteve vitórias, se saiu bem da cúpula e que os ganhos se darão ao longo do tempo.

    Esses interlocutores informam ainda que era uma questão de “coerência” aceitar a ampliação dos Brics, tendo em vista que uma das prioridades da política externa brasileira é a ampliação de outro colegiado, o do Conselho de Segurança da ONU.

    Segundo uma fonte da cúpula do Itamaraty, todo país que entrar nos Brics a partir de agora precisará defender a mudança no Conselho da ONU.

    Também foi avaliado que o que o Brasil colocou na mesa acabou sendo acatado: o estabelecimento de critérios de admissão que acabaram restringindo os novos integrantes a seis.

    VÍDEO – Análise: O papel do Brasil nos Brics após adesão de novos países

    O relato feito à CNN é que, na reunião dos chanceleres que antecedeu a dos presidentes, os chineses tentaram apresentar um “pacote fechado” com a maior ampliação possível do grupo, o que acabou contestado pelos diplomatas brasileiros que lá estavam.

    Nesse sentido, a cúpula do Itamaraty considera uma vitória a inclusão na declaração final de dois parágrafos em específico: o item 7, que trata da defesa da ampliação do Conselho de Segurança da ONU, e os itens 44 e 45, que tratam de pagamentos alternativos e uso de moedas locais.

    As fontes ouvidas pela CNN comentaram ainda as críticas de que os Brics aceitaram países que não são democráticos nem respeitam direitos humanos.

    Na avaliação desses integrantes do Ministério de Relações Exteriores, os Brics nunca foram o fórum para tratar desses temas, mas sim de governança global e economia. E que o Brasil é protagonista nos fóruns que tratam especificamente de democracia e direitos humanos.

    Foi lembrado, por exemplo, que o Brasil foi o único a condenar na ONU a invasão da Ucrânia pela Rússia, enquanto China, Índia e África do Sul se abstiveram.