Itamaraty avalia impacto sobre guerra da Ucrânia e papel da China em eventual mediação
No Itamaraty, diplomatas lembram a ponte feita pelos chineses para o histórico restabelecimento de laços entre Arábia Saudita e Irã, em abril
O Itamaraty avalia que uma escalada do conflito Israel-Palestina poderá ter impacto na guerra da Ucrânia e colocar ainda mais em evidência o papel da China como mediadora em questões internacionais.
A avaliação, feita em caráter reservado por formuladores importantes da política externa brasileira, leva em conta que Israel inevitavelmente responderá com ações militares pesadas na Faixa de Gaza para responder aos ataques do Hamas no fim de semana.
Há enorme descrença, entre diplomatas experientes em posições-chave, de que o governo Benjamin Netanyahu se engaje diretamente em negociações para liberar reféns israelenses ou para algum tipo de cessar-fogo.
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Esse papel, na avaliação de fontes do Itamaraty ouvidas pela CNN, poderá caber a países vizinhos –como a Arábia Saudita– ou à China, com algum tipo de aval tácito de Netanyahu. De qualquer forma, a perda de vidas de pelo menos uma parte dos reféns –talvez até usados como escudos humanos– é dada como cenário quase inevitável.
O papel da China é visto com atenção. Pequim, junto com a Rússia, divergiu dos Estados Unidos e impediu um consenso neste domingo (8) na reunião emergencial do Conselho de Segurança da ONU.
Agora, a China é encarada em Brasília como parte de uma possível mediação com os palestinos em torno dos reféns ou de ações maiores. No Itamaraty, lembra-se a ponte feita pelos chineses para o histórico restabelecimento de laços diplomáticos entre Arábia Saudita e Irã, em abril.
Esse aspecto é considerado novo no tabuleiro internacional e demonstra um relativo enfraquecimento dos Estados Unidos na condição de único fiador de acordos políticos na arena geopolítica.
Outro ponto de atenção no Itamaraty é sobre os efeitos na guerra da Ucrânia. Um diplomata ouvido pela CNN disse reservadamente: “Para Volodymyr Zelensky [presidente da Ucrânia], é o pior que poderia ter acontecido”.
Por vários motivos: a opinião pública americana pode achar perigoso o envolvimento de Washington em duas frentes simultâneas de conflito, pode haver algum comprometimento na cessão de recursos bélicos (como sistema de defesa antiaérea) à Ucrânia e as discussões sobre o princípio de inviolabilidade territorial podem ficar abaladas.
Nesse último ponto, a pergunta retórica usada por diplomatas brasileiros é a seguinte: por que o mundo fica tão escandalizado apenas com a invasão russa à Ucrânia, que é mesmo muito grave, enquanto assentamentos israelenses continuaram avançando nos últimos anos sobre territórios da Cisjordânia reivindicados pela Palestina?