Itália quebra recorde de chuvas após tempestade de 12 horas
Mais de meio metro de chuva caiu na Itália em apenas 12 horas e tempestades chegaram ao desértico Omã, na Península Arábica
As chuvas causadas pela mudança climática quebraram recordes nesta semana em uma parte da Itália, que é conhecida por seu alto volume de precipitações, mas também em uma área de Omã, país da Península Arábica, onde não costuma chover.
Na última segunda-feira, uma série de tempestades no noroeste da Itália gerou níveis de chuva nunca vistos em toda a Europa. Mais de 29 polegadas, cerca de 742 milímetros, de chuva caíram em apenas 12 horas. Em Omã, um raro ciclone tropical fez chover o equivalente ao registrado no acumulado de anos, trazendo enchentes que mudaram a paisagem do deserto, onde raramente se vê muita chuva.
12 horas de dilúvios
A província italiana de Gênova, conhecida por suas belezas naturais e costas acidentadas, tornou-se o epicentro das chuvas extremas mais recentes.
Uma série de tempestades atingiu a região de domingo a segunda-feira, despejando mais de 36 polegadas ou 925 milímetros de chuva na cidade de Rossiglione, a 100 km de Milão.
Essa quantidade é equivalente à precipitação média da cidade de Seattle, cidade dos EUA conhecida pelo seu clima chuvoso, ao longo de um ano inteiro. Londres levaria 15 meses em média para contabilizar esse nível de chuvas. Dezenas de pessoas tiveram que ser resgatados depois dos relatos de deslizamentos de terra e enchentes que levaram ao desabamento de uma ponte na cidade de Quiliano, de acordo com o jornal Corriere della Sera.
O clima úmido não é incomum nesta parte da Itália, já que a média da região é de mais de 50 polegadas ou 1.200 milímetros de chuva por ano. No entanto, as 30 polegadas ou 750 milímetros em apenas 12 horas estabeleceram um novo recorde para a maior precipitação de 12 horas já registrada, de acordo com o climatologista e especialista em climas extremos Maximiliano Herrera.
Na cidade vizinha de Cairo Montenotte, a 32 km de Rossiglione, os registros meteorológicos foram logo superados na noite da mesma segunda-feira. Um dilúvio de 6 horas, diferente de qualquer outro já observado na Itália, trouxe quase 20 polegadas , cerca de 500 milímetros de chuva, superando o recorde nacional de 6 horas para toda a Itália, disse Herrera.
A chuva também inundou a cidade vizinha de Vicomorasso, depois que mais de 7 polegadas ou 180 milímetros caíram em apenas uma hora, de acordo com a FloodList, uma organização que documenta eventos de inundação significativos em todo o mundo.
Como comparação, o furacão Ida, que inundou o Central Park, em Nova York, no início de setembro, registrou um recorde de 3,15 polegadas de chuva em apenas 1 hora, quebrando o recorde anterior de 1 hora estabelecido apenas 11 dias antes, quando a tempestade tropical Henri inundou a região.
Chuva no deserto
Menos de dois dias antes e quase 5 mil km ao sudeste, o ciclone Shaheen atingiu a costa ao extremo norte de Omã, com ventos próximos aos de um furacão de categoria 1.
A tempestade encharcou a cidade normalmente seca de Al Khaburah com mais de 14 polegadas ou 300 milímetros de chuva em questão de horas, de acordo com o The Times of Oman.
Isso é o equivalente a mais de 3 anos de chuva em cerca de 24 horas.
Na cidade vizinha de Suwaiq, o equivalente a mais de um ano de chuva caiu em apenas 6 horas. A tempestade produziu impressionantes 4,57 polegadas ou 116 milímetros de chuva em um intervalo de 6 horas, excedendo o que normalmente ocorre em um ano inteiro, de acordo com o Departamento de Meteorologia de Omã.
Terra em aquecimento permite mais chuvas
O aumento significativo de fortes tempestades em todo o mundo está se tornando mais evidente.
Com o aumento das temperaturas globais, eventos extremos de precipitação irão despejar mais água, de acordo com um relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas.
Ar mais quente retém mais água
O painel destacou que, para cada aumento de 1 grau Celsius, a atmosfera pode reter cerca de 7% a mais de vapor de água, que poderia cair como chuva. Os cientistas dizem que as mudanças climáticas pioraram os dilúvios causados pelo furacão Harvey, aumentando as taxas de chuva que a tempestade poderia produzir.
Nos Estados Unidos, o verão de 2021 foi um exemplo de como os sistemas tropicais como Ida e Henri estão reescrevendo os livros de recorde várias vezes em um intervalo de semanas.
Em agosto, o Tennessee quebrou seu recorde de chuvas depois que 17 polegadas caíram sobre a cidade de McEwen em apenas 24 horas. Pouco mais de uma semana depois, os vestígios do furacão Ida trouxeram torrentes de chuva em toda a região nordeste, estabelecendo novos recordes diários de Nova Jersey à Nova Inglaterra.
Essas precipitações extremas estão se tornando mais comuns por causa do aquecimento global causado pelo homem, dizem os cientistas. De acordo com o relatório da ONU sobre mudança climática, “a frequência e a intensidade dos eventos de precipitação intensa aumentaram desde a década de 1950 na maioria das áreas terrestres.”
As inundações repentinas também foram notícia em todo o mundo neste verão no hemisfério norte, incluindo inundações mortais em julho na Europa Ocidental, após vários meses de chuva caindo por horas, transformando as calçadas de cidades da Bélgica e da Alemanha em leitos de rio.
Em julho, chuvas fortes também causaram inundações na China Central e mais de 300 mortes. Zhengzhou, a capital da província com 12 milhões de habitantes, foi uma das áreas mais atingidas, com bairros inteiros submersos e passageiros presos em vagões de metrô inundados.
(Texto traduzido clique aqui e leia o original)