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    Indústria da seda: o produto luxuoso pode custar a liberdade das pessoas

    "Trabalho por dívida" é tema do CNN Freedom Project deste domingo (9), que vai ao ar às 21h30 na CNN Brasil

    Aline Sgarbida CNN

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    A indústria da seda na Índia movimenta o valor estimado de US$ 16 bilhões (R$ 77,9 bilhões), o equivalente a 6% do mercado global.

    No entanto, a maior região produtora do país ainda depende de fábricas de pequena escala, onde trabalhadores, na maioria mulheres, encaram jornadas extensas, estrutura precária e pagamentos que não chegam a US$ 3 (R$ 14) por dia.

    Nestes locais, também é comum o chamado “trabalho por dívida”, quando um indivíduo trabalha para pagar um débito que nunca acaba — uma forma de escravidão moderna comum na Índia.

    Embora tenha se tornado ilegal em 1976, o “trabalho por dívida” nunca foi erradicado. Os dados de um relatório de 2018 estimam que cerca de 8 milhões de pessoas na Índia eram trabalhadores não remunerados ou mantidos em servidão por dívida. Ativistas e especialistas no tema acreditam que o número real seja muito maior.

    “Não temos estatísticas claras, mas, em 2016, o ministro do trabalho fez uma declaração no Congresso dizendo que há 18,4 milhões de escravos por dívida na Índia”, afirma Kiran Kamal Prasad, fundador da “Jeevika”, uma organização que trabalha para erradicar o problema.

    Também não há informações sobre quantos estão envolvidos na indústria da seda. “Identificamos várias pessoas nessas condições, mas muitas não querem se expor. É muito difícil convencer os trabalhadores em regime de servidão [a ir às autoridades], porque eles sentem que estão em dívida com os patrões ou proprietários que os ajudaram na hora de sua necessidade”, diz Prasad.

    Hadia e Naseeba conhecem bem essa realidade. Mãe e filha foram forçadas a trabalhar mais de 10 horas por dia para pagar um empréstimo de 100 mil rúpias (equivalente a US$ 1.200), numa pequena fábrica em Sidlaghatta, no estado de Karnataka, um dos principais produtores de seda do país.

    “(O mestre) veio e disse à minha mãe, se você não devolver o dinheiro, teremos um homem rico e você terá que ir dormir com aquele homem”, revela Naseeba, sobre as ameaças.

    Naseeba trabalhou por três anos em uma fábrica, e sua mãe, por nove, fervendo casulos de bicho-da-seda e removendo os fios dos quais a seda é feita. As condições precárias desses locais e a temperatura da água para retirar os casulos provocam diversos acidentes de trabalho, como queimaduras, cortes e outras lesões.

    Combate ao problema

    Na Índia, os trabalhadores em regime de servidão podem solicitar às autoridades um certificado de liberação. É feita, então, uma investigação e, se constatada a exploração, eles recebem o certificado, uma prova de que a dívida foi cancelada.

    Isso também os qualifica para receber benefícios de assistência do governo. O processo pode levar anos e exigir que os trabalhadores se apresentem às autoridades diante de pressões sociais e intimidações dos patrões.

    CNN Freedom Project denuncia trabalho análogo à escravidão por dívidas na rota da seda da Índia
    CNN Freedom Project denuncia trabalho análogo à escravidão por dívidas na rota da seda da Índia / Reprodução

    Segundo Prasad, da ONG Jeevika, muitos dos “mestres” que mantém os trabalhadores nessas condições pertencem à mesma casta ou vêm das mesmas comunidades que integrantes do governo que deveriam ajudar a combater o problema.

    “Muitas vezes, as autoridades não estão implementando a lei. É preciso um tremendo esforço de nossa parte para fazer com que os funcionários façam o que devem fazer”, pondera ele, que já conseguiu emitir certificados de liberdade para quase 7 mil escravos por dívida até hoje.

    Saiba mais no episódio do CNN Freedom Project deste domingo (9), que vai ao ar às 21h30 na CNN Brasil.

    *com informações de Sugam Pokharel e Tom Page, da CNN

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