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    Hoje é Dia da Marmota: entenda a história bizarra de previsão do tempo nos EUA

    Se o simpático roedor sair da toca onde estava hibernando sem enxergar a própria sombra, significa que a primavera logo vai chegar

    Scottie Andrewda CNN

    Todos os anos, no dia 2 de fevereiro, os norte-americanos que vivem nos gelados estados do norte esperam com ansiedade por um estranho ritual da marmota Phil, na cidade de Punxsutawney, na Pensilvânia. Se o simpático roedor sair da toca onde estava hibernando sem enxergar a própria sombra, significa que a primavera logo vai chegar. Se for o contrário, é sinal que haverá mais seis semanas de inverno pela frente. E, caso a previsão não dê certo, a culpa é do meteorologista, é claro.

    É um momento peculiar (e fofo) dessa época do ano. Mas como o Dia da Marmota, ou Groundhog Day em inglês, passou de uma excêntrica tradição local para uma divertida celebração anual, mesmo para aqueles que nem se preocupam com o inverno?

    Exploramos as origens do Dia da Marmota e de cara já damos um spoiler: essa história contém texugos, imortalidade e pelo menos uma marmota na panela.

    No segundo dia de fevereiro, os membros do Punxsutawney Groundhog Club caminham até Gobbler’s Knob, a casa oficial de Phil, num bairro na periferia da cidade de Punxsutawney. Usando cartolas e smokings, os homens do grupo esperam que a marmota deixe sua toca e observam seus movimentos para saber o que esperar do clima.

    As primeiras sementes do Dia da Marmota que conhecemos hoje foram plantadas há milhares de anos, de acordo com Dan Yoder, um folclorista “nascido e criado no País da Marmota da Pensilvânia Central”, que escreveu a história do feriado popular que virou tradição nacional.

    A data evoluiu ao longo de séculos, celebrada desde os celtas e os alemães na Idade Média, chegando até a Pensilvânia holandesa e, depois, a outras partes dos EUA.

    Sua evolução começou na era pré-cristã da Europa Ocidental, quando o mundo celta era a força cultural predominante na região. Os celtas não cultuavam apenas os solstícios, mas quatro datas – semelhantes às que usamos hoje para demarcar as estações – que eram os “pontos de virada” do ano. Uma delas era 10 de fevereiro.

    As “datas de virada” não sofreram abalos com a chegada das crenças cristãs ao continente europeu. O dia 10 de maio se tornou um feriado, o 10 de novembro passou a comemorar o Dia de Todos os Santos e a celebração de 10 de fevereiro foi empurrada para o dia seguinte – dando origem ao Dia da Marmota nos EUA.

    O feriado de fevereiro era conhecido inicialmente como “Candlemas”, um dia em que os cristãos levavam velas para serem abençoadas nos templos – simbolizando uma fonte de luz e de calor para o inverno.

    Os outros três “pontos de virada” continuaram sendo datas “importantes para o clima”, indicando mudanças nas estações, escreveu Dan Yoder.

    Numa época em que a agricultura era a maior – se não a única – atividade econômica da região, prever o clima tornou-se um ritual essencial para a saúde das culturas e dos habitantes da cidade.

    Havia também um certo misticismo ligado ao feriado, como se pode perceber num poema de 1678 escrito pelo naturalista John Ray:

     

    “Se o dia do Candlemas for limpo e claro,

    O inverno terá outro voo

    Se o dia de Candlemas for sombrio e chuvoso,

    O inverno se foi e não voltará”.

     

    A previsão climática com a ajuda de um animal passou a ser feita com a chegada de alemães a partes da Europa anteriormente povoadas pelo povo celta. Só que os germânicos, que levarem suas próprias crenças para o feriado, usavam um texugo em vez de marmota.

    Uma antiga enciclopédia europeia citada por Yoder cita o texugo alemão como o “profeta do tempo de Candlemas”, embora não esteja claro o porquê. Fontes, incluindo o estado da Pensilvânia e o Punxsutawney Groundhog Club, dizem que os alemães também consideraram ouriços como adivinhadores da nova estação.

    Em 1973, Punxsutawney Phil encantou os espectadores com sua fofura e os decepcionou ao prever mais seis semanas de inverno / CNNi

    Quando o feriado atravessou o oceano e chegou à Pensilvânia com os holandeses, o texugo foi trocado por uma marmota americana, igualmente tímida e subterrânea, além de mais comum na área em que se estabeleceram.

    Muitas fontes afirmam que o Dia da Marmota original ocorreu em 1887, quando os moradores de Punxsutawney passaram a usar o Gobbler’s Knob, buraco conhecido como a casa “oficial” de Phil.

    Mas a primeira evidência que Yoder encontrou de pessoas da cidade confiando em uma marmota para a previsão do tempo, escrita em um diário, é de 1840. Como os imigrantes holandeses da Pensilvânia chegaram principalmente em meados do século 18, é provável que o feriado tenha existido por décadas antes do registrado, de acordo com a Biblioteca do Congresso.

    A jornada de Phil para o estrelato

    Parte da razão pela qual tantos de nós sabemos sobre o Dia da Marmota se deve ao filme “Feitiço do Tempo”, “Groundhog Day” em inglês, comédia de 1993 dirigida por Harold Hamis e estrelada por Bill Murray e Andie MacDowell.

    A frase “dia da marmota” até virou uma expressão para descrever aquele sentimento de déjà vu quando se revive a mesma situação várias e várias vezes (ou dias, como no filme). Mas Phil tornou-se uma celebridade mesmo antes do filme chegar às telas: em 1960 ele apareceu no programa de TV “Today”, de acordo com “The York Daily Record”, e visitou a Casa Branca em 1986. Encantou até a apresentadora Oprah Winfrey, aparecendo em seu programa em 1995, já incensado pelo sucesso do filme.

    Antes de ser uma celebridade, no entanto, ele era simplesmente o prato do almoço do feriado. Em uma reviravolta terrível, os primeiros Dias da Marmota do século 19 envolviam devorar o pobre Phil depois que ele fazia sua previsão.

    Como conta Yoder, 1887 foi o ano do “Piquenique da Marmota”. O historiador da Pensilvânia Christopher Davis escreveu que os moradores cozinhavam a marmota como um “prato local especial”, servido no Punxsutawney Elk Lodge, cujos membros depois criariam o Groundhog Club da cidade. Os comensais adoravam “a carne muito tenra” do bichinho, segundo Davis.

    A marmota deixou de figurar no cardápio de Punxsutawney quando os moradores da cidade perceberam seu valor. Na década de 1960, Phil foi oficialmente batizado em homenagem a um certo “rei Phillip”, de acordo com o Groundhog Club.

    O site Mental Floss conta que, por séculos, não houve um rei Phillip ou Felipe na Alemanha, de onde muitos colonos da Pensilvânia vieram. Antes disso, ele era simplesmente o “irmão marmota”. A popularidade de Phil inspirou vários imitadores: há o Staten Island Chuck em Nova York, o Pierre C. Shadeaux de Louisiana e Thistle, o Porco-Apito de Ohio, todos animais com alegada capacidade de previsão meteorológica. Mas há apenas um Phil, e ele é o original.

    O Punxsutawney Groundhog Club reforça a lenda ao afirmar que “só houve um Phil” desde 1886, pois ele receberia um “elixir da vida” todos os anos no piquenique Groundhog Summertime, que “magicamente lhe dá mais sete anos de vida”.

    Em tempo: na verdade, as marmotas podem viver até seis anos na natureza e até 14 em cativeiro, de acordo com a PBS, rede de emissoras comunitárias americanas.

    Phil também não precisa passar o resto do ano sozinho. Ele é casado com Phyliss, de acordo com o Groundhog Club, que, no entanto, não recebe o mesmo elixir para viver para sempre como o marido. Não há nenhuma palavra oficial sobre quantas esposas Phil teve ao longo dos anos.

    Phil frequentemente vê sua sombra e anuncia mais frio (e não a primavera) – isso já aconteceu 107 vezes, de acordo com o jornal “York Daily Record”, que analisou cada uma das previsões meteorológicas oficiais de Phil desde o século 19. No ano passado, Phil viu sua sombra, que coincidiu com uma enorme tempestade de inverno.

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