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    Hezbollah, Irã e EUA podem entrar na guerra de Israel? O que esperar da próxima fase do conflito

    Para especialistas, a incursão terrestre na Faixa de Gaza é iminente, mas o futuro do conflito é incerto

    Marina Toledoda CNN em São Paulo

    Na manhã de 7 de outubro mísseis foram vistos no céu por frequentadores de um festival de música eletrônica em Israel, próximo à fronteira com a Faixa de Gaza. Poucas horas depois, o evento que promovia “unidade e o amor” se tornou uma cena de terror. Militantes do Hamas invadiram o local e áreas próximas, onde encontraram 260 corpos. Ao todo, 1.400 pessoas morreram.

    Desde o ataque terrorista do grupo radical islâmico, o país judaico lançou uma contraofensiva e realiza bombardeios diários no território palestino, onde mais de 4 mil pessoas já morreram. Tanques israelenses estão concentrados há dias na fronteira com a Faixa de Gaza, fortalecendo a hipótese de uma operação terrestre, esperada para os próximos dias.

    Em 14 de outubro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, visitou uma base do exército israelense e questionou os soldados: “Vocês estão prontos para a próxima fase?”. “A próxima fase está chegando”, afirmou.

    Tanto o premiê quanto o chefe do Estado-Maior, Herzi Halevi, afirmaram que a guerra será longa.

    “Essa é a nossa hora mais sombria. (…) Essa será uma guerra longa. Haverá altos e baixos, haverá dificuldades, o povo aqui está unido e preparado para tomar as medidas necessárias”, disse Netanyahu.

    Incursão terrestre

    Para o professor de Geopolítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fernando Brancoli, uma incursão é iminente. Segundo ele, a ação militar pode durar meses.

    “Estamos falando de uma ação militar que dure mais de 6 meses e a expectativa é de pelo menos 8 meses”, disse à CNN.

    Uriã Fancelli, especialista em Relações Internacionais, acredita que o conflito em Israel durará mais do que a guerra na Ucrânia, que já se estende há mais de um ano e meio.

    “Vai durar muito mais que a guerra na Ucrânia. Esse já é um conflito que se estende por muitas décadas”, pontou em entrevista à CNN.

    VÍDEO – Israel: Tropas vão ver Gaza “de dentro” em breve”

    Na avaliação de Sandro Teixeira Moita, professor de Ciências Militares na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), sem uma ação militar na Faixa de Gaza, Israel terá dificuldade para conter novos ataques do Hamas e de outros grupos radicais islâmicos no futuro.

    “A sensação que a gente vê nos discursos políticos e estratégico israelenses é de que uma ação é necessária porque se cruzou uma fronteira que não havia sido cruzada. O Hamas demonstrou uma sofisticada capacidade de ataque. Israel sente, mesmo que Gaza seja uma armadilha, é preciso entrar ali para acabar com o Hamas”, pontuou Moita em entrevista à CNN.

    O professor da Eceme ressaltou que o combate urbano é uma das missões mais difíceis a serem dadas a uma força combatente.

    Os especialistas alertaram para o risco de uma incursão terrestre na Faixa de Gaza, um território densamente povoado, desconhecido pelos soldados israelenses e repleto de túneis criados pelo Hamas.

    Uriã destacou que não é possível saber o que Israel fará após avançar no território, no entanto, listou algumas possibilidades: “entrar, acabar com o Hamas e sair; ocupar a região; entrar e passar o controle da região para a comunidade internacional; ou deixar que a autoridade palestina assuma”.

    Crise humanitária

    A Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária desde o início do conflito com bombardeios diários e o “bloqueio total” imposto por Israel, interrompendo o fornecimento de alimentos e cortando a eletricidade à Faixa de Gaza.

    Mais de 4.000 morreram no território e milhares ficaram doentes. Os hospitais já ultrapassaram sua capacidade máxima. Um deles está usando caminhões de sorvete como necrotérios improvisados ​​para complementar as morgues hospitalares, que estão lotadas.

    Outros hospitais lutam para continuar funcionando enquanto combustível, água e eletricidade estão acabando. 

    VÍDEO – Principal hospital de Gaza deve ficar sem energia

    Mais de 60% das instalações de cuidados primários estão fechadas e os hospitais estão à beira do colapso devido à falta de energia, medicamentos, equipamento e pessoal especializado, de acordo com uma declaração do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) na quinta-feira (19).

    A escassez de combustível está fazendo com que os moradores da Faixa de Gaza recorram ao uso de água contaminada, já que a maior parte da água não é potável porque precisa de unidades de tratamento para processamento, o que requer combustível, disse Hiba Tibi, diretor da CARE na Cisjordânia e em Gaza, à CNN.

    Para o professor Fernando Brancoli, a tendência é piorar se Israel avançar no território palestino.

    “No momento em que essa fase militar se tornar terrestre, a chance de uma tragédia humanitária é quase certa. A gente vai ver certamente um aumento expressivo de morte de civis, da falta de medicamentos, que já é explícita, vai piorar. A gente provavelmente vai ver uma nova fase da guerra ainda mais brutal”, disse.

    Novos atores

    Enquanto Israel combate o grupo radical islâmico Hamas na Faixa de Gaza, aumenta a tensão sobre a abertura de uma nova frente de guerra, contra o libanês Hezbollah, no norte do país.

    O Hezbollah é uma organização política e paramilitar fundamentalista (xiita) islâmica que atua na Faixa de Gaza e em vários países do Oriente Médio. Para Israel, o armamento avançado deles o torna uma ameaça maior do que a de outros grupos palestinos apoiados pelo Irã, como o Hamas.

    Desde o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, os ataques entre o Hezbollah e as forças israelenses se intensificaram na fronteira libanesa-israelense, como nunca visto desde 2006, quando o Hezbollah e Israel travaram uma guerra.

    Para Fernando Brancoli, as chances desse conflito se transformar uma guerra regional, apesar de hoje ser improvável, não é impossível.

    “Nada impede que após as movimentações militares terrestres de Israel, imaginando que uma ação terrestre por parte de Tel Aviv é iminente neste momento, que as imagens que vão começar a circular não gerem repercussões por parte de outros grupos militantes e que o Hezbollah resolva entrar no conflito”, disse.

    VÍDEO – Análise: O conflito no Oriente Médio vai se ampliar?

    Entre outras potências que podem entrar no conflito de forma mais incisiva estão: Irã e Estados Unidos.

    O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, alertou que se as “atrocidades” contra a Faixa de Gaza persistirem, “os muçulmanos e as forças de resistência podem perder a paciência” e ninguém seria capaz de impedir as ações deles”.

    Os EUA são parceiros de longa data de Israel e já declararam apoio ao país de judaico. Há dois porta-aviões norte-americanos perto de Israel e em caso de movimentação de militar do Hezbollah é possível uma entrada dos EUA mais potente, pontuou Brancoli

    “O conflito que nesse momento já é brutal pode envolver o Hezbollah e pode arrastar outras potências, seja os EUA e até mesmo o Irã, o que aumentaria a escala da tragédia. Apesar de estarmos falando nesse momento de um conflito entre Israel e o Hamas existe também a possibilidade, conforme as coisas forem escalonando, de outros atores entrarem em cena, e aí não conseguimos mensurar a tragédia que pode acontecer no Oriente Médio”, declarou o professor de Geopolítica da UFRJ.

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