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    Haitiano arrecada dinheiro para adotar menino abandonado no lixo

    Jimmy Amisial encontrou a criança, na época com três meses, em 2018; em 2019, após ganhar custódia temporária, decidiu iniciar o processo formal de adoção

    Caroll Alvaradoda CNN

    Jimmy Amisial estava andando por Gonaives, Haiti, a caminho de uma festa de Ano Novo em que iria tocar em 2018, quando viu uma grande multidão e se aproximou.

    “Quando cheguei ao local onde as pessoas estavam fazendo barulho, eu vi um bebê”, lembrou Amisial, na época com 22 anos. Ele estava visitando sua terra natal durante as férias de sua escola no Texas. “Estava em uma pilha de lixo chorando, e não havia uma única alma que quisesse fazer algo sobre isso.”

    Enquanto os moradores estavam com medo de tocar no bebê porque temiam que a criança fosse amaldiçoada ou má, Amisial disse que ele o pegou nervosamente.

    “Ele estava sem roupa. Tinha formigas-de-fogo rastejando em cima de seu corpo porque ele estava lá há algumas horas. Quando eu o peguei, ele imediatamente parou de chorar.”

    Ali, um vínculo foi criado e agora, mais de quatro anos depois, Amisial está tentando oficializar o laço adotando formalmente o menino que ele não largou desde aquela noite.

    “Quando acordei naquele dia, não sabia que minha vida mudaria para sempre”, afirmou Amisial à CNN.

    Custódia temporária

    Cortesia/Jimmy Amisial

    Na noite em que encontrou o menino, Amisial o levou para a casa de sua mãe, Elicie Jean, que ficou chocada com o fato de o filho ter saído para uma festa e voltado com um bebê de 3 meses.

    “Ao limpá-lo, notamos que ele teve algumas picadas de formigas e uma reação alérgica, então usamos um pouco de loção para ajudar a parar a dor”, contou Amisial.

    Ele ligou para a polícia para relatar o que havia encontrado e manteve o bebê durante a noite enquanto investigava o caso, conforme sugerido pelas próprias autoridades ,acrescentou ele.

    No dia seguinte, um juiz apareceu na casa de sua mãe para perguntar se ele queria a custódia temporária da criança, já que ninguém se apresentou para reivindicá-la.

    “Depois que ele me fez essa pergunta, eu tive muitas noites sem dormir. Eu me revirei, mas minha mãe me lembrou que as coisas acontecem por um motivo”, disse Amisial à CNN. “Eu sempre quis fazer parte de algo grande e para mim, esse foi o momento.”

    Dezenas de milhares arrecadados para adoção

    Cortesia/Jimmy Amisial

    Após as férias, Amisial retornou ao Texas conforme exigido por seu programa de visto estudantil e deixou a criança aos cuidados de sua mãe enquanto continuava a apoiá-los financeiramente.

    Um ano depois, em 2019, Amisial decidiu iniciar o processo para adotar formalmente a criança que ele havia chamado Emilio Angel Jeremiah, mas rapidamente encontrou obstáculos, pois o processo acabou sendo caro.

    “Não foi tão fácil”, desabafou Amisial. “No Haiti, é difícil fazer coisas do governo. Quando comecei o processo parecia tudo bem, mas depois eles me pediram muito dinheiro, mas eu não tinha os fundos.”

    Esther Chery, sua advogada no Haiti, disse à CNN que trabalha com Amisial no processo de adoção desde 2019.

    “O que eu sei com certeza é que a adoção é muito cara”, apontou Chery.

    A All God’s Children International, uma agência de adoção, estima que custe mais de US$ 40.000 (cerca de R$ 206.800) adotar uma criança do Haiti sem incluir passagem aérea, hospedagem e outras taxas associadas à viagem, de acordo com seu site.

    Assim, em 2020, Amisial decidiu fazer uma pausa na faculdade, onde estudava comunicação, para se concentrar no trabalho e economizar dinheiro para adotar Emilio e sustentar sua família no Haiti. Ele trabalha como paisagista em meio período e é assistente de entrega.

    Em 27 de julho, ele criou uma campanha de arrecadação de fundos online para ajudar a conseguir o dinheiro para arcar com as taxas de adoção de Emilio.

    Amisial estabeleceu uma meta de US$ 60.000 (aproximadamente R$ 310.200) e, na manhã de sexta-feira, ele havia arrecadado mais de US$ 79.000 (R$403.260).

    “Amor e luz em sua jornada como pai”, desejou um doador de US$ 20 (R$ 104), acrescentando um emoji de coração.

    Mesmo que Amisial tenha superado sua meta, ele disse à CNN que planeja usar o dinheiro extra para financiar a educação de Emilio e apoiar orfanatos locais no Haiti. Ele também sonha em iniciar sua própria organização sem fins lucrativos para ajudar órfãos e famílias carentes em seu país de origem.

    “Ele é uma criança tão alegre”

    Cortesia/Jimmy Amisial

    Amisial disse que usa o FaceTime para se comunicar com Emilio várias vezes por semana e tenta visitá-lo sempre que possível, mas as condições inseguras no Haiti no ano passado tornaram isso difícil.

    Ao descrever Emilio, Amisial disse que o menino, agora com 4 anos, é divertido e tem uma grande personalidade.

    “Ele adora assistir ‘Tom e Jerry’ e adora tocar violão e cantar. Ele é uma criança tão alegre e adora esportes. Joga futebol e basquete.”

    “Minha mãe e eu tívemos uma conexão automática com ele. Ele me chama de pai. Mesmo sendo seu guardião temporário, ainda me considero seu pai.”

    Amisial tem um histórico de ajudar órfãos em seu país. Ele disse à CNN que cresceu como voluntário nos orfanatos locais no Haiti.

    Durante esse tempo, ele aprendeu inglês e foi voluntário em missões. Ele narrou à CNN que fez várias conexões por meio de seu trabalho voluntário e isso o ajudou a ser aceito na Universidade do Estado do Texas.

    Na adolescência, Amisial criou pulseiras com sacos reciclados de Doritos e os vendeu para arrecadar dinheiro para sua educação e ajudar as crianças dos orfanatos a comemorar seus aniversários.

    Amisial tem agora 27 anos e está determinado a finalizar o processo de adoção de Emilio. Ele, então, planeja voltar para a faculdade e terminar seus estudos. “Quero que ele seja feliz. Quero ensiná-lo a amar e quero que ele saiba que, embora tenha sido deixado sozinho, ele não está sozinho.”

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