Hackers, Ucrânia, Navalny e mais: entenda os pontos de tensão entre Rússia e EUA
Encontro entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin acontece durante 'ponto baixo' da relação entre os dois países
Os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Rússia, Vladimir Putin, se reunirão nesta quarta-feira (16) em Genebra, na Suíça, no “ponto mais baixo da relação entre os dois países“, como classificaram.
No primeiro encontro cara a cara desde que Biden assumiu a presidência, os líderes devem debater temas espinhosos, como cibersegurança, direitos humanos, Ucrânia, sanções e interferência eleitoral, por exemplo.
Entenda os principais pontos de tensão entre a Rússia e os Estados Unidos:
Hackers e cibersegurança
Vários sistemas norte-americanos sofreram ataques cibernéticos graves desde o ano passado.
Em 2020, hackers invadiram um programa da SolarWinds, empresa que faz programas de gerenciamento de recursos de T.I., e atingiram órgãos governamentais críticos, como o Departamento de Justiça, o de Segurança Doméstica e o do Tesouro. A invasão já acontecia há nove meses antes de ser detectada, em dezembro daquele ano. As agências de inteligência norte-americanas apontaram que o grupo responsável era da Rússia.
Em retaliação, o governo Biden anunciou a expulsão de 10 diplomatas russos e outras sanções contra funcionários e empresas do país.
Desde então, criminosos invadiram o sistema da Colonial Pipeline, que opera o maior oleoduto dos Estados Unidos, o que levou a falta de combustível na costa leste do país em maio deste ano. A empresa responsável pelas instalações pagou mais de US$ 4 milhões (cerca de R$ 20 milhões) em resgate para recuperar o acesso aos computadores.
Biden disse haver evidências que os culpados eram russos, mas Moscou negou qualquer responsabilidade sobre o ataque.
Ucrânia
No começo de junho, Biden disse que defenderia a “soberania e a integridade territorial da Ucrânia”, enquanto tropas russas se movimentavam para a fronteira leste, onde soldados ucranianos estão em conflito com separatistas apoiados por Moscou.
Nesta semana, o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, disse que recebeu garantias de Biden que o país dele não seria usado como “ficha de barganha”. “Ele [Biden] disse que nunca trocaria nada pelos interesses ucranianos”, afirmou em entrevista a agências.
Sobre a conferência, Zelensky disse que havia “um pouco de ceticismo”.
A Ucrânia foi um dos temas principais da conferência da Otan, que aconteceu em Bruxelas, no começo desta semana.
Alexei Navalny
Outra questão delicada que Biden pode levantar é a do opositor Alexei Navalny, que foi preso no início deste ano. Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, disse à CNN que o presidente não planeja abordar a questão de Navalny, a quem Putin nunca se refere pelo nome.
Quando questionado se o presidente planejava não recuar na questão se ela fosse abordada na cúpula de quarta-feira, Peskov disse: “Não há nada para discutir sobre isso. Não há nada para discutir sobre este cavalheiro. Ele está preso e isso não está na agenda de nossas relações bilaterais.”
Em entrevista coletiva na segunda-feira (14), Biden disse que a eventual morte de Navalny na prisão seria uma indicação de que a Rússia “tem pouca ou nenhuma intenção de aceitar os direitos humanos”.
Troca de farpas
Além das discordâncias, Biden já fez afirmações duras sobre Putin, como quando o chamou de “assassino”. Na ocasião, Putin desejou “boa saúde” ao presidente norte-americano e disse que é necessário ser algo para reconhecer aquilo no outro.
Logo depois, Moscou chamou de volta o embaixador russo em Washington.
Questionado na terça-feira (15) se ainda acredita que Putin é um assassino, Biden pareceu amaciar o discurso. “Acredito que ele, no passado, essencialmente reconheceu que era, que havia coisas que ele faria ou que, de fato, fez. Mas, quando recebi essa pergunta, a respondi honestamente. Não acho que isso importe muito, em termos dessa próxima reunião que teremos.”
Em entrevista coletiva nesta segunda, Biden disse que Putin é um “adversário, ou alguém que pode ser um adversário”, mas brilhante e duro. “Se ele escolher não colaborar e agir da maneira que agiu no passado em relação à cibersegurança e outras atividades, vamos responder e responderemos à altura”, disse, acrescentando que deixaria claro os limites dos Estados Unidos.
Em outra ocasião, em uma reunião de 2011, quando era vice de Barack Obama, Biden disse ter olhado nos olhos de Putin e dito: “Não acho que você tenha alma”.
Entrevista coletiva
Não é esperado que Biden e Putin se pronunciem juntos após a cúpula. Em vez de potencialmente encarar a imprensa e dar mensagens conflitantes sobre a relação entre os dois países, Biden e Putin cederão entrevistas coletivas sozinhos depois do evento.
Funcionários da Casa Branca disseram que a Rússia pressionou por uma entrevista coletiva em conjunto durante as negociações do encontro, mas os Estados Unidos resistiram, por não desejarem dar um palco a Putin como ele teve na conferência de 2018 com o ex-presidente Donald Trump, em Helsinque, na Finlândia.
“Isso não é um concurso de quem consegue parecer melhor na frente de uma entrevista coletiva ou de tentar envergonhar um ao outro”, disse Biden, ao explicar a decisão.
O encontro deve acontecer em uma casa de campo na beira de um lago em Genebra e durar por volta de cinco horas ou mais. Não é previsto que os líderes façam uma refeição juntos, apesar da longa lista de tópicos de discussão, disse um funcionário do governo americano.
(*Com informações da CNN Internacional)