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    Há 2 décadas, Chernobyl era desativada anos após pior acidente nuclear do mundo

    Além dos mais de 30 trabalhadores que morreram durante a explosão, pelo menos outras 4 mil pessoas enfrentaram problemas de saúde após serem expostas à radiação

    Chernobyl
    Chernobyl Foto: Reprodução/ Michael Kötter

    Carolina Figueiredo e Ludmila Candal, da CNN, em São Paulo

    Apesar de a explosão no reator número quatro da usina de Chernobyl ter causado um dos piores acidentes nucleares da história, em abril de 1986, foi só no dia 15 de dezembro de 2000, 14 anos após a tragédia que deixou mais de 30 pessoas mortas instantaneamente e outras milhares devido aos sintomas da radiação, que a usina próxima à Pripyat, no norte da Ucrânia Soviética, foi oficialmente desativada.

    Do dia do acidente, em 26 de abril, até outubro daquele ano, autoridades soviéticas tentaram abafar o tamanho da tragédia, negando que o reator havia explodido após um experimento no qual a equipe da usina cortou temporariamente os sistemas de segurança, em um exercício de testagem da capacidade da unidade. 

    Hoje, 20 anos após o desligamento oficial da usina, os impactos ainda são sentidos. Um levantamento da ONU estimou que em 2018 a Ucrânia gastou de 5% a 7% do seu orçamento com atividades relacionadas ao acidente de Chernobyl.

    Além dos mais de 30 trabalhadores que morreram durante a explosão, pelo menos outras 4 mil pessoas enfrentaram problemas de saúde após serem expostas à radiação, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado em 2005. 

    Chernobyl
    Chernobyl, duas décadas depois do desastre nuclear que destruiu a cidade e o entorno
    Foto: Reprodução/Flickr (Ian Bancroft)

    Professor de História da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro “Os Russos”, Angelo Segrillo, explica que é difícil mensurar as consequências da tragédia.

    “Até hoje os impactos são sentidos. A Ucrânia e a Bielo-Rússia têm que gastar quantias consideráveis com consequências do acidente, como gastos com saúde por doenças relacionadas ao desastre. Partes da economia, especialmente a agricultura, tiveram que fazer grandes adaptações para poderem voltar a funcionar”, afirma.

    Segrillo ressalta a dificuldade em medir de forma exata esses impactos, uma vez que ainda são foco de muitas controvérsia as discussões sobre o número exato de pessoas que, por exemplo, desenvolveram câncer nos anos posteriores, não só na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), como em outros países onde a nuvem radioativa se espalhou. 

    Junto com mortes e doenças induzidas por radiação, o relatório da ONU rotula o impacto de Chernobyl na saúde mental como “o maior problema de saúde pública criado pelo acidente” e atribui parcialmente este impacto psicológico à falta de informações precisas sobre o desastre.

    Logo após a explosão do reator número 4, centenas de milhares de pessoas de toda a União Soviética, popularmente conhecidas como “liquidantes”, foram mobilizadas pelo Partido Comunista para limpar o rastro da enorme nuvem radioativa que se espalhou pelos territórios da Ucrânia, Bielo-Rússia, Rússia e grande parte da Europa.

    Chernobyl
    Chernobyl, 20 anos depois
    Foto: Reprodução/Flickr (Ian Bancroft)

    Além disso, regiões próximas à Chernobyl foram evacuadas e moradores se mudaram de suas casas, muitos sem saber que a mudança era pra sempre. Uma Zona de Exclusão foi criada ao redor da usina. 

    Em novembro do mesmo ano, após meses de negação, autoridades soviéticas construíram uma espécie de cobertura em volta do reator 4, conhecida como sarcófago, em uma tentativa de proteger o meio ambiente da radiação.

    Porém, os outros três reatores de Chernobyl continuaram funcionando. 

    Até que, em 1991, um grande incêndio forçou os oficiais da usina a desligarem o segundo reator da estação. Já em 1996, Chernobyl fechou o reator número 1 após o término de sua vida útil segura, mantendo apenas o número três em funcionamento. 

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    Em 15 de dezembro de 2000, em um discurso transmitido pela televisão, o presidente ucraniano Leonid Kutchma anunciou o desativamento oficial da usina.  

    Muitas coisas permanecem sem resposta neste que foi o maior acidente nuclear visto no mundo, inclusive a demora para fechar definitivamente a usina.

    Para Iara Lee, cineasta e diretora do filme “Stalking Chernobyl” (em português, “Perseguindo Chernobyl”), usinas de energia nuclear, uma vez abertas, são muito difíceis de fechar. 

    “Essa coisa do nuclear, uma vez que você abre, não dá pra fechar. Esse é o problema. É ruim usar, mas é pior se abandonar. Eles ficaram nessa de adiar, colocaram aquele sarcofago lá e por muito tempo ainda outras usinas ficaram funcionando. Hoje mesmo, na França, a maior fonte de energia ainda é a nuclear”, diz. 

    “O ser humano não aprende, adia e não toma decisões, não age sobre assuntos que são extremamente importantes”, completa Lee em entrevista à CNN

    Turismo radioativo 

    Chernobyl, 20 anos depois da explosão nuclear
    Chernobyl, 20 anos depois da explosão nuclear
    Foto: Reprodução/Flickr (Ian Bancroft)

    Atualmente, turistas que procuram penetrar nas profundezas da Zona de Exclusão de Chernobyl, que compreendem um raio de 30 quilômetros de terra contaminada ao redor da usina, sustentam várias empresas de turismo.

    Mesmo após as recentes instabilidade no leste da Ucrânia terem afastado o país dos radares da maioria dos viajantes, Chernobyl ainda ocupa uma posição de destaque na consciência global.

    Em abril deste ano, incêndios florestais que atingiram áreas dentro da região desabitada próxima à Chernobyl fizeram os níveis de radioatividade aumentarem. 

    Mesmo assim, existem até hotéis dentro da Zona de Exclusão. As visitas são regidas por controles de segurança e os turistas são estritamente guiados.

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    Eles viajam para o local, que fica a duas horas de carro ao norte da capital ucraniana Kiev, em um ônibus turístico.

    Uma vez lá, precisam assinar um aviso de isenção de responsabilidade contra tocar em qualquer objeto ou vegetação, ou mesmo sentar no chão.

    A saída do local também é altamente regulamentada. Scanners corporais testam os níveis de radiação entre os viajantes.

    Se o alarme soar, os guardas fazem “uma limpa” em busca de poeira radioativa antes que os aventureiros possam sair.

    “Eu fiquei muito intrigada. Como que uma área de exclusão pode trazer tantos artistas? Se você for ver, é um museu. Tem murais lindos, fotógrafos vão lá e tiram fotos incríveis e as pessoas são realmente fascinadas. Hoje em dia o ponto turístico mais forte da Ucrânia são as milhares de pessoas por dia que vão visitar Chernobyl, como se fosse um parque de diversões”, comenta a diretora Iara Lee, que debate em seu documentário as questões envolvidas na exploração da zona de exclusão da usina.