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    Guerra na Ucrânia: Ex-comandante do grupo Wagner descreve brutalidade e incompetência na linha de frente

    Segundo desertor, combatentes do grupo eram enviados para a batalha com pouca orientação e assistiam ao assasinato dos próprios colegas das tropas não oficiais do presidente russo

    Muhammad DarwishKatharina KrebsTara Johnda CNN* , Oslo, Noruega

    Um ex-mercenário do grupo Wagner disse que a brutalidade que testemunhou na Ucrânia acabou levando-o a desertar, em entrevista exclusiva à CNN na segunda-feira (30).

    Os combatentes do Wagner eram muitas vezes enviados para a batalha com pouca orientação, e o tratamento do grupo aos recrutas relutantes era implacável, disse Andrei Medvedev ao jornalista Anderson Cooper, da CNN, da capital da Noruega, Oslo, onde o ex-comandante está buscando asilo depois de cruzar a fronteira ártica norueguesa vindo da Rússia.

    “Eles cercavam aqueles que não queriam lutar e os fuzilavam na frente dos recém-chegados”, alega. “Eles trouxeram dois prisioneiros que se recusaram a lutar e atiraram neles na frente de todos e os enterraram bem nas trincheiras cavadas pelos iniciantes”.

    A CNN não conseguiu verificar as informações de forma independente e o grupo Wagner não respondeu a um pedido de comentário.

    O jovem de 26 anos, que diz ter servido anteriormente no exército russo, juntou-se ao Wagner como voluntário. Ele cruzou a fronteira para a Ucrânia menos de 10 dias após assinar seu contrato em julho de 2022, servindo perto de Bakhmut, a cidade da linha de frente na região de Donetsk. O grupo mercenário emergiu como um jogador essencial na invasão russa da Ucrânia.

    Medvedev disse que se reportava diretamente aos fundadores do grupo, Dmitry Utkin e ao oligarca russo Yevgeny Prigozhin.

    Ele se refere a Prigozhin como “o diabo”. Se ele fosse um herói russo, teria pegado uma arma e fugido com os soldados”, disse Medvedev.

    Prigozhin havia confirmado anteriormente que Medvedev havia servido em seu grupo e disse que “deveria ter sido processado por tentar maltratar prisioneiros”.

    Medvedev disse à CNN que não quis comentar o que ele mesmo havia feito enquanto lutava na Ucrânia. O grupo Wagner carecia de uma estratégia tática, com as tropas elaborando planos na hora, disse Medvedev.

    “Não havia nenhuma tática real. Apenas recebíamos ordens sobre a posição do adversário […] Não havia ordens definidas sobre como deveríamos nos comportar. Nós apenas planejamos como faríamos isso, passo a passo. Quem abriria fogo, que tipo de movimentos teríamos […] como isso iria acontecer era problema nosso”, disse.

    Yevgeny Prigozhin, oligarca russo e um dos fundadores do grupo Wagner / Reprodução

    Medvedev falou à CNN de Oslo depois de cruzar a fronteira em uma deserção ousada que, segundo ele, o fez escapar da prisão “pelo menos dez vezes” e desviar de balas das forças russas. Ele cruzou para a Noruega passando sobre um lago gelado usando camuflagem branca para se misturar, disse ele.

    Ele disse à CNN que sabia no sexto dia de seu destacamento na Ucrânia que não queria voltar novamente depois de testemunhar as tropas sendo transformadas em bucha de canhão.

    Ele começou com 10 homens sob seu comando, um número que cresceu quando os prisioneiros foram autorizados a entrar, disse ele. “Havia mais cadáveres e mais e mais pessoas entrando. No final, eu tinha muitas pessoas sob meu comando”, disse ele. “Eu não poderia contar quantos. Eles estavam em constante circulação. Cadáveres, mais prisioneiros, mais cadáveres, mais prisioneiros”.

    Grupos de defesa dizem que os prisioneiros que se alistaram foram informados de que suas famílias receberiam um pagamento de cinco milhões de rublos (US$ 71 mil) se morressem na guerra.

    Mas, na realidade, “ninguém queria pagar tanto dinheiro”, disse Medvedev. Ele alegou que muitos russos que morreram lutando na Ucrânia foram “simplesmente declarados desaparecidos”.

    Medvedev ficou emocionado em algumas vezes na entrevista, dizendo à CNN que viu coragem em ambos os lados da guerra.

    “Sabe, eu vi coragem de ambos os lados, do lado ucraniano também, e dos nossos meninos também […] Só quero que eles saibam disso”, disse ele.

    Ele acrescentou que agora quer compartilhar sua história para ajudar a levar Prigozhin e o presidente russo, Vladimir Putin, à justiça.

    “Mais cedo ou mais tarde, a propaganda na Rússia vai parar de funcionar, o povo vai se levantar e todos os nossos líderes […] serão tomados e um novo líder vai surgir”.

    O grupo Wagner é frequentemente descrito como as tropas não oficiais de Putin. Ele expandiu sua presença globalmente desde a sua criação em 2014 e foi acusado de crimes de guerra na África, Síria e Ucrânia.

    Quando perguntado se ele teme o destino de outro desertor do grupo Wagner, Yevgeny Nuzhin, que foi assassinado diante das câmeras com uma marreta, Medvedev disse que a morte de Nuzhin o encorajou a sair.

    “Eu diria apenas que isso me deixou mais ousado, mais determinado a sair”, disse ele.

     

    *Muhammad Darwish e Katharina Krebs, da CNN, escreveram a reportagem de Oslo, na Noruega. Tara John, da CNN, escreveu de Nova York.

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