Guerra escala e ataques impedem atendimento médico em Darfur, no Sudão
Principal hospital da região de al-Fashir é fechado após ataques das Forças Paramilitares de Apoio Rápido
O principal hospital da cidade sudanesa de al-Fashir foi atacado pelas Forças de Apoio Rápido e precisou ser fechado, disseram à Reuters no domingo a entidade Médicos Sem Fronteiras (MSF), que apoia a instalação.
A cidade, na região de Darfur, no noroeste do Sudão, abriga mais de 1,8 milhão de residentes e pessoas deslocadas e é a mais recente frente de uma guerra entre o exército sudanês e as FAR, que começou em abril de 2023.
A FAR, que assumiu o controlo da capital Cartum e da maior parte do oeste do Sudão, também procura avançar ainda mais no centro, uma vez que as agências das Nações Unidas afirmam que o povo do Sudão corre “risco iminente de fome”.
Cerca de 130 mil pessoas fugiram das suas casas em al-Fashir como resultado dos combates de abril e maio, informou a ONU.
As FAR não responderam a um pedido de comentário.
O hospital era a única instalação de saúde em al-Fashir capaz de lidar com eventos diários de vítimas em massa, de acordo com MSF.
De 10 de maio a 6 de junho, cerca de 1.315 feridos chegaram às instalações e 208 pessoas morreram lá, mas muitas pessoas não conseguem chegar ao hospital devido aos combates, disse a MSF à Reuters.
“É ultrajante que as FAR tenham aberto fogo dentro do hospital. Este não é um incidente isolado – funcionários e pacientes sofreram ataques nas instalações durante semanas de todos os lados, mas abrir fogo dentro de um hospital ultrapassa os limites”, disse Michel Lacharite, chefe de emergências de MSF em um comunicado.
O hospital já havia começado a evacuar pacientes depois de ter sido impactado por combates três vezes desde 25 de maio, e os demais pacientes e funcionários conseguiram fugir.
A Sala de Resposta de Emergência al-Fashir, um grupo de voluntários, disse no domingo (9) que várias pessoas foram mortas e feridas no ataque e que remédios e uma ambulância foram saqueados.
Uma testemunha ocular disse à Reuters que viu pessoas fugindo do hospital, e outras testemunhas disseram que as FAR lançaram mísseis contra o hospital e seus arredores.
Um ataque separado no sábado (8) no campo de Abu Shouk, ao norte da cidade, impactou outro centro médico, feriu mais de 30 pessoas e matou pelo menos duas pessoas, disseram o comitê do campo e um voluntário.
Um relatório da semana passada do Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale disse que cerca de 40 assentamentos fora da cidade foram atingidos por ataques incendiários desde março.
Os residentes locais culparam as RAF pelos ataques.
Sair da cidade revelou-se perigoso, pois os residentes dizem que os que fugiram foram atacados e até mortos na principal estrada da região, já controlada pelas RAF.
A maioria dos que partiram tomaram rotas para o sul, para o campo de Zamzam, ou para o oeste, para as áreas de Tawila e Jebel Mara, que são controladas por grupos armados, incluindo a facção do Exército de Libertação do Sudão liderada por Abdelwahid Mohamed Nour, disseram um trabalhador humanitário e residentes do local.