Guerra de Israel: Saiba quem é Mohammed Deif, líder do Hamas que planejou ataque
Deif está no topo da lista dos mais procurados de Israel há décadas, sendo considerado pessoalmente responsável pela morte de dezenas de israelenses em atentados suicidas
O mentor secreto por trás do ataque do Hamas contra Israel é Mohammed Deif, líder do grupo radical islâmico.
Sobrevivente de sete tentativas de assassinato israelenses, a mais recente em 2021, Deif raramente fala e nunca aparece em público. Assim, quando o canal de televisão do Hamas anunciou que ele iria discursar no sábado (7), os palestinos sabiam que algo significativo estava acontecendo.
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Há apenas três imagens de Deif: uma na casa dos 20 anos, outra dele mascarado e uma imagem de sua sombra, que foi usada na transmissão recente.
O paradeiro do líder é desconhecido, embora provavelmente esteja em Gaza, no labirinto de túneis sob o enclave. Uma fonte das forças de segurança israelenses disse à agência de notícias Reuters que Deif esteve diretamente envolvido no planejamento e nos aspectos operacionais do ataque.
Quem é Mohammed Deif, líder do Hamas?
Nascido como Mohammad Masri em 1965, no campo de refugiados Khan Yunis, criado após a Guerra Árabe-Israelense de 1948, o líder ficou conhecido como Mohammed Deif depois de se juntar ao Hamas durante a primeira Intifada, ou revolta palestina, que começou em 1987.
Ele foi preso por Israel em 1989 e passou cerca de 16 meses detido, segundo uma fonte do Hamas.
Deif se formou em ciências pela Universidade Islâmica de Gaza, onde estudou física, química e biologia. Ele demonstrou afinidade com as artes, chefiando o comitê de entretenimento da universidade e atuando no palco em comédias.
Subindo na hierarquia do Hamas, Deif desenvolveu a rede de túneis do grupo e a sua experiência na fabricação de bombas. Ele está no topo da lista dos mais procurados de Israel há décadas, sendo considerado pessoalmente responsável pela morte de dezenas de israelenses em atentados suicidas.
Para o líder, permanecer nas sombras tem sido uma questão de vida ou morte. Fontes do Hamas disseram que ele perdeu um olho e sofreu ferimentos graves em uma perna em uma das tentativas de assassinato de Israel.
Sua esposa, seu filho de sete meses e sua filha de três anos foram mortos por um ataque aéreo israelense em 2014.
A sua sobrevivência enquanto dirigia o braço armado do Hamas lhe rendeu o status de herói popular palestiniano. Nos vídeos, ele fica mascarado, ou apenas é possível ver uma sombra dele. Ele não usa tecnologia digital moderna, como smartphones, de acordo com uma fonte próxima ao Hamas.
“Ele é esquivo. Ele é o homem nas sombras”, classificou a fonte.
Possível motivação do ataque
No sábado (7), quando houve início a ofensiva, Mohammed Deif chamou o ataque de “Tempestade Al-Aqsa” em uma mensagem de áudio, sinalizando que ela foi uma vingança pelos ataques israelenses à mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém.
“Hoje, a raiva de Al-Aqsa, a raiva do nosso povo e da nossa nação está explodindo. Nossos mujahedeen (combatentes), hoje é o seu dia de fazer este criminoso entender que seu tempo terminou”, disse o líder na gravação.
Foi em maio de 2021, após o ataque à mesquita, que ele começou a planejar a operação que matou mais de 1.000 pessoas em Israel até o momento, segundo uma fonte da Reuters próxima do Hamas, em Gaza.
O templo é o terceiro local mais sagrado do Islã, e o ataque israelense enfureceu o mundo árabe e muçulmano.
“[O ataque contra Israel] foi desencadeado por cenas e imagens de Israel invadindo a mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadã, espancando fiéis, atacando-os, arrastando idosos e jovens para fora da mesquita. Tudo isso alimentou e acendeu a raiva”, destacou a fonte.
Dois cérebros, um mentor
A fonte próxima ao Hamas pontuou à Reuters que a decisão de preparar a ofensiva foi tomada em conjunto por Deif, que comanda as Brigadas Al Qassam do Hamas, e Yehya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza, mas ficou claro quem foi o mentor.
“Existem dois cérebros, mas existe um mentor”, observou a fonte, acrescentando que a informação sobre a operação era conhecida apenas por alguns líderes do Hamas.
O sigilo era tanto que o Irã, inimigo jurado de Israel e uma importante fonte de financiamento, treino e armamento para o Hamas, sabia apenas em termos gerais que o movimento estava planejando uma grande operação e não sabia o momento ou os detalhes, de acordo com uma fonte da região familiarizada com o grupo.
Essa fonte destacou que, embora os iranianos estivessem cientes de que uma grande operação estava sendo preparada, ela não foi discutida em nenhuma sala de operações conjuntas envolvendo o Hamas, a liderança palestina, libaneses apoiados pelo Irã, o Hezbollah, e o Irã.
“Era um círculo muito estreito”, ressaltou a fonte.
A autoridade máxima do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse na terça-feira (10) que o país não estava envolvido no ataque contra Israel. Além disso, os Estados Unidos afirmaram que, embora Teerã tenha sido cúmplice, não há informações captadas pela inteligência que apontem para a participação direta do Irã nos ataques.
O plano concebido por Deif envolvia um esforço prolongado para enganar seu inimigo. Israel foi levado a acreditar que o Hamas não estava interessado em lançar um conflito e estava focado, em vez disso, no desenvolvimento econômico em Gaza, onde o movimento é o poder governante.
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Mas, enquanto Israel começava a fornecer incentivos econômicos aos trabalhadores de Gaza, os combatentes do grupo eram treinados, muitas vezes à vista dos militares israelenses, disse uma fonte próxima do Hamas à Reuters.
“Há dois anos que nos preparamos para esta batalha”, disse Ali Baraka, chefe das relações externas do Hamas.
Falando com voz calma, Deif pontuou na gravação que o Hamas alertou repetidamente Israel para parar com os seus crimes contra os palestinos, para libertar prisioneiros, que ele disse terem sido abusados e torturados, e para parar a sua expropriação de terras palestinas.
“Todos os dias o ocupante invade as nossas aldeias, vilas e cidades na Cisjordânia e ataca casas, mata, fere, destrói e detém. Ao mesmo tempo, confisca milhares de hectares das nossas terras, arranca o nosso povo das suas casas para construir assentamentos enquanto seu cerco criminoso continua em Gaza”, comentou.
Há mais de um ano, ocorre turbulência na Cisjordânia, uma área com cerca de 100 km de comprimento e 50 km de largura que tem estado no centro do conflito Israel-Palestina desde que foi tomada por Israel, em 1967.
Deif disse que o Hamas pediu à comunidade internacional a pôr fim aos “crimes da ocupação”, mas Israel intensificou suas ações. Ele também comentou que o Hamas havia pedido no passado a Israel um acordo humanitário para soltar os prisioneiros palestinos, mas isso foi rejeitado.
“À luz da ‘orgia’ da ocupação e da sua negação das leis e resoluções internacionais, e à luz do apoio americano e ocidental e do silêncio internacional, decidimos pôr fim a tudo isto”, afirmou.
FOTOS — Veja imagens do conflito entre Israel e Hamas
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