Governo Zelensky diz não ter impasse na guerra com a Rússia e aumenta tensão com militares ucranianos
Vice-chefe do gabinete do presidente ucraniano criticou falas do chefe militar do país e ampliou tensão interna em Kiev
As aparentes divisões entre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e seu comando militar estão se tornando cada vez mais públicas, após as amargas idas e vindas na guerra com a Rússia.
Igor Zhovka, vice-chefe do gabinete de Zelensky, condenou no sábado (4) uma avaliação do chefe militar da Ucrânia de que a guerra com a Rússia está num “impasse”, o que aprofundou uma rivalidade interna na Ucrânia que aumentou as preocupações sobre o apoio ocidental ao conflito.
Ele estava respondendo a uma entrevista do chefe militar Valery Zaluzhny ao The Economist na quarta-feira (1º), quando ele disse: “Alcançamos o nível de tecnologia que nos coloca num impasse” e “provavelmente não haverá nenhum avanço profundo e bonito” na guerra.
Zhovka disse à televisão ucraniana que a entrevista de Zaluzhny terá sido “lida cuidadosamente, anotada e gerará conclusões” por parte dos russos. Ele disse ter recebido chamadas de homólogos de países parceiros “em pânico” perguntando se a guerra realmente está num impasse, conforme descrito por Zaluzhny.
“É este o efeito que queríamos alcançar com este artigo?”, Zhovka disse.
“Talvez este seja um plano estratégico muito profundo e conseguiremos algum sucesso desta forma. Mas, para ser sincero, estou muito surpreso”, acrescentou Zhovka.
Cansaço da guerra
As tensões crescem num momento crucial da guerra, com a lenta contraofensiva da Ucrânia e a eclosão da violência no Oriente Médio levantando receios de que a ajuda financeira e militar do Ocidente a Kiev pode começar a diminuir.
Zelensky também discordou da avaliação de Zaluzhnyi durante uma conferência de imprensa com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no sábado, mas admitiu que as pessoas estão “cansadas” após 18 meses de guerra no país.
“As pessoas estão cansadas. Todo mundo está cansado. Existem opiniões diferentes […] Todo mundo é humano, independentemente do status. Mas isso não é um impasse. Enfatizo isso mais uma vez. Já conversamos sobre isso. Isto não é algum tipo de notícia”, disse Zelensky.
“Todos precisamos nos reunir e resolver os problemas, trabalhar mais com os nossos parceiros na defesa aérea, desbloquear os céus e permitir que os nossos homens tomem ações ofensivas. É nisso que precisamos pensar. Apenas sobre isso. Não sobre onde estaremos amanhã. Mas agora”, disse Zelensky.
Zaluzhny também expôs na sua entrevista a sua visão sobre o que a Ucrânia precisa de fazer e o tipo de apoio dos parceiros necessários para que Kiev quebre o impasse na guerra.
Mas a sua caracterização geral do conflito causou surpresa na Ucrânia e ganhou as manchetes internacionais. A preocupação apareceu em uma entrevista de Zelensky à revista Time, que pintou o presidente da Ucrânia como uma figura isolada.
“Ninguém acredita na nossa vitória como eu. Ninguém”, disse Zelensky à Time, acrescentando que incutir essas crenças nos aliados da Ucrânia “exige todo o seu poder, a sua energia”.
“A exaustão com a guerra avança como uma onda. Você vê isso nos Estados Unidos, na Europa”, disse Zelensky.
Veja imagens da guerra entre Rússia e Ucrânia
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Foco no Oriente Médio
O presidente da Ucrânia admitiu que a eclosão da guerra entre Israel e o grupo radical islâmico Hamas desviou a atenção da luta da Ucrânia contra a Rússia, complicando os esforços para manter o entusiasmo internacional pela luta do seu país.
“É claro que perdemos com os acontecimentos no Oriente Médio. Pessoas estão morrendo e a ajuda do mundo é necessária para salvar vidas”, disse Zelensky.
Ele acrescentou esses comentários durante a viagem de sábado de Von der Leyen a Kiev.
“É óbvio que a guerra no Oriente Médio tira o foco. Penso que esse é um dos objetivos da Federação Russa. É um fato. Vemos os resultados”, disse Zelensky.
O líder ucraniano já tinha manifestado solidariedade com Israel na sequência dos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, recomendando que os líderes mundiais “vão a Israel” e ofereçam apoio às “pessoas que estiveram sob ataques terroristas”.
Entretanto, a Ucrânia segue em uma difícil contraofensiva contra as forças russas no sul e no leste.
Kiev disse que sua força aérea realizou ataques aéreos bem-sucedidos em um estaleiro na cidade portuária de Kerch, no leste, na península da Crimeia ocupada pela Rússia, no sábado.
O comandante da Força Aérea Ucraniana, Mykola Oleschuk, parabenizou os pilotos envolvidos nos ataques em postagem no Telegram. Uma autoridade nomeada pela Rússia disse que um estaleiro foi alvo, mas as defesas aéreas derrubaram os mísseis. A CNN não pode verificar de forma independente nenhuma das afirmações.
A Ponte da Crimeia, também conhecida como Ponte Kerch, foi temporariamente fechada ao tráfego por duas horas no sábado. As autoridades russas não forneceram uma razão para a paralisação do tráfego na artéria vital que liga a Rússia continental à península ocupada.
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Com informações de Tim Lister, Svitlana Vlasova, Yulia Kesaieva e Victoria Butenko, da CNN Internacional