Governo planeja repatriar brasileiros que estão em Gaza com bandeira do Brasil em ônibus para evitar ataques
Dos 28 que demonstraram interessem em voltar ao país, 15 são crianças; ainda falta autorização para traslado
O embaixador Alessandro Candeas, representante do Brasil junto à Palestina, aguarda a autorização do Egito para providenciar a evacuação de brasileiros na Faixa de Gaza pela passagem de Rafah.
O grupo de 28 pessoas, das quais 15 são crianças, será removido em dois ônibus, que serão identificados com a bandeira do Brasil para evitar que sejam alvos de ataques na área de conflito.
Até garantir a saída desses brasileiros pela passagem de Rafah na fronteira de Gaza com o Egito, a representação do Brasil junto à Palestina também providenciou que uma escola católica receba 13 pessoas que tiveram suas casas destruídas nos ataques a partir de quinta-feira (12). As demais preferiram aguardar o traslado em suas casas.
Segundo o embaixador, os dois lados envolvidos no conflitos também foram comunicados que brasileiros estão sendo abrigados na escola católica para evitar bombardeios no local.
Lista
À CNN, o embaixador Alessandro Candeas relatou que a lista de brasileiros a serem repatriados foi entregue ao Egito, às autoridades de Israel e também ao “grupo que controla de fato” a Faixa de Gaza para garantir “a segurança” dos brasileiros. O embaixador, porém, reforçou que não há relação oficial com o grupo radical islâmico Hamas, que domina a região.
De acordo com o diplomata, a saída dos brasileiros será providenciada tão logo o Egito autorize a entrada no país. Segundo Candeias, as autoridades egípcias receberam a lista das pessoas que cruzaram a fronteira no último domingo (8), um dia após o início do conflito, mas não houve resposta.
Resistência
Foi diante desta resistência que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, entrou em contato com o chanceler do Egito, Sameh Shoukry, para reforçar a solicitação nesta quarta-feira (11) para o uso da passagem de Rafah, na fronteira com Gaza.
“No momento em que conseguimos reunir todas as informações dos cidadãos brasileiros que queriam sair de Gaza, encaminhamos ao governo do Egito, através da Embaixada do Cairo, e até agora não recebemos a resposta. É por isso que hoje o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, telefonou para o ministro das Relações Exteriores do Egito, e demonstrou a necessidade dessa resposta para simplesmente o nosso grupo atravessar a fronteira”, disse Candeas à CNN.
De acordo com o embaixador, a hipótese é que o Egito tenha o receio de que as pessoas peçam refúgio no país. Porém, o Brasil reforçou que o grupo apenas entrará no país para embarcar em um avião brasileiro.
“Não são refugiados, não são imigrantes. Eles vão atravessar a fronteira e vão se deslocar ao primeiro aeroporto para voltar ao Brasil”, disse o embaixador. “Depois da gestão do nosso chanceler, esperamos a liberação o mais rápido possível”.
Em princípio, os brasileiros embarcariam no aeroporto do Cairo, que fica a cerca 400 quilômetros de Gaza. Porém, agora a previsão é que o embarque ocorra no aeroporto El Arish, que fica a 53 quilômetros da fronteira da passagem de Rafah.
“Entendemos a preocupação de qualquer país de abrir as fronteiras para imigrantes. Há problemas com outros países na região, mas é importante esclarecer que isso não se aplica ao caso dos brasileiros. Eles serão recolhidos por um avião brasileiro e ficarão poucas horas no Egito”, reforçou Candeas.
Negociação
Além da autorização do Egito, a Representação do Brasil junto à Palestina também aguarda a liberação da passagem de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito. O local foi bombardeado três vezes nos últimos dias.
“Antes de iniciar o procedimento de deslocamento, vamos informar os lados em conflito a placa dos ônibus, enviaremos fotos e vamos colocar bandeira do Brasil nos dois ônibus para que não sejam alvo dos ataques”, disse o embaixador à CNN.
O embaixador disse que o contato com o Hamas, que controla Gaza, é apenas por uma questão de segurança e não significa relação diplomática.
“Eles não são estrangeiros em Gaza. Eles são moradores de lá, também são palestinos. Até mesmo para informar quem são os brasileiros é necessário apresentar para as pessoas que controlam como autoridade de fato. Isso não significa em nada um diálogo político, nenhuma relação de governo, nenhuma relação oficial. É algo muito prático, objetivo, concreto apenas para garantir a segurança dos brasileiros”, disse.