Governo Biden oferece traficante de armas russo condenado em troca de jogadora de basquete
Brittney Griner está presa em Moscou por posse de drogas desde fevereiro; autoridades norte-americanas também negociam a libertação de Paul Whelan, detido por suposta espionagem
Após meses de debate interno, o governo Joe Biden ofereceu a troca de Viktor Bout, um traficante de armas russo condenado a 25 anos de prisão nos Estados Unidos, como parte de um possível acordo para garantir a libertação de dois americanos detidos pela Rússia, Brittney Griner e Paul Whelan, segundo interlocutores.
Essas fontes disseram à CNN que o plano de trocar Bout por Whelan e Brittney recebeu o apoio do líder estadunidense depois de uma longa discussão sobre o assunto iniciada em janeiro deste ano.
O apoio de Biden à troca supera a oposição do Departamento de Justiça, que geralmente é contra a permuta de prisioneiros.
“Comunicamos uma oferta substancial que acreditamos que poderia ser bem-sucedida com base em um histórico de conversas com os russos”, relatou um alto funcionário do governo à CNN nesta quarta-feira (27). “Enviamos isso algumas semanas atrás, em junho.”
O funcionário se recusou a comentar os detalhes da “oferta substancial”. Os russos disseram que o casa estava no Tribunal da Rússia. “[O tribunal] deve responder, mas, ao mesmo tempo, isso não nos deixa passivos, pois continuamos a oferecer um acordo em níveis muito altos”.
“É preciso dois para dançar um tango. Começamos todas as negociações para trazer os americanos reféns ou detidos injustamente para casa com um mau ator do outro lado da mesa. Começamos tudo isso com alguém que pegou um ser humano americano e o tratou como uma moeda de troca”, desabafou o funcionário.
“Então, de certa forma, não é surpreendente, mesmo que seja desanimador, quando esses mesmos atores não respondem diretamente às nossas ofertas e não se envolvem construtivamente em negociações”.
O secretário de Estado, Antony Blinken, anunciou nesta quarta-feira que os EUA apresentaram uma “proposta substancial” a Moscou “semanas atrás” para Whelan e Griner, que são classificados pelo país como detidos injustamente.
O principal diplomata dos EUA disse que pretende discutir o assunto em uma ligação marcada com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, nesta semana.
As famílias de c e da estrela da WNBA (Liga Profissional de Basquete Feminino dos Estados Unidos) Brittney Griner, presa em Moscou por posse de drogas desde fevereiro, pediram à Casa Branca que garanta a libertação da dupla, inclusive por meio de uma troca de prisioneiros, se necessário.
Brittney se declarou culpada no início de julho, mas argumentou que trouxe maconha involuntariamente para a Rússia.
Nesta quarta, ela testemunhou em um tribunal russo como parte do julgamento em andamento pelas acusações de tráfico, pelas quais a jogadora pode pegar até 10 anos de prisão.
Entende-se que seu julgamento terá que ser concluído antes de um acordo ser finalizado, de acordo com autoridades americanas familiarizadas com o processo judicial russo e com funcionamento interno das negociações EUA-Rússia.
O governo dos EUA há muito resiste às trocas de prisioneiros, alegando preocupações de que elas apenas incentivam os países a deter americanos para que possam ser usados como moeda de troca.
Os defensores questionaram essas preocupações e argumentaram que é mais importante que os americanos possam voltar para casa.
Entre altos funcionários do governo Biden, a ideia de troca de prisioneiros ganhou novo impulso no início deste ano após a libertação bem-sucedida de Trevor Reed, um ex-fuzileiro naval que foi mantido em cativeiro na Rússia por mais de dois anos.
Reed foi trocado por Konstantin Yaroshenko, um piloto russo que cumpria uma pena de 20 anos por contrabando de cocaína.
Autoridades do governo temiam que a decisão de trocar Reed por Yaroshenko fosse criticada pelos republicanos.
Em vez disso, ganhou elogios bipartidários, inclusive de um punhado de republicanos que normalmente são críticos ferrenhos da gestão Biden.
Essa recepção da ideia, dizem as fontes, levou o governo a reexaminar todas as opções — incluindo possíveis permutas — para tirar Whelan e Brittney da Rússia.
“Seja qual for o tipo de indignidade moral dos russos ao segurar pessoas inocentes e tentando extrair de nós alguém como Yaroshenko, que é o oposto de inocente, ainda assim estamos tão comprometidos em trazer nosso povo para casa que faremos essas escolhas dolorosas em certas circunstâncias”, apontou um alto funcionário do governo à CNN.
Garantir as libertações também daria à Casa Branca uma vitória política muito necessária antes das eleições de meio de mandato em novembro, um ponto que algumas autoridades reconheceram discretamente ao falar em particular com a CNN.
Há também um senso de urgência para trazer os dois detidos para casa, já que a governo enfrenta crescente escrutínio público das famílias de americanos detidos ilegalmente no exterior.
Biden falou recentemente por telefone com a esposa de Brittney Griner, Cherelle, e com a irmã de Whelan, Elizabeth.
