Gafe de Boris Johnson pode ameaçar velocidade da vacinação na Grã-Bretanha
Em reunião com conservadores, primeiro-ministro deixou escapar que sucesso da vacinação britânica é resultado da “ganância”
Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido, propenso a gafes, está tentando reduzir os efeitos de comentários que ele fez durante uma reunião privada com legisladores do Partido Conservador, ao qual ele pertence, na noite de terça-feira (23).
Durante a reunião semanal do Comitê de 1922, formado por políticos conservadores da Câmara dos Comuns britânica, Johnson fez um comentário descuidado no qual afirmou que o lançamento bem-sucedido da vacina do Reino Unido foi “por causa do capitalismo, por causa da ganância, meus amigos”, várias fontes telefone confirmaram a fala do premiê britânico à CNN.
Percebendo o quão polêmicos seus comentários poderiam se tornar, Johnson se retratou quase imediatamente, de acordo com as fontes, dizendo que, “na verdade, me arrependo de ter dito isso… esqueçam o que eu disse.”
Os porta-vozes de Johnson se recusaram a falar sobre o assunto à CNN.
Um porta-voz do Partido Trabalhista, de oposição, disse à CNN: “A ideia de que atos de egoísmo… nos ajudaram a superar esta crise parece muito estranha: é difícil descobrir de onde vêm essas ideias do primeiro-ministro.”
O momento dos comentários pode ser um problema para Johnson porque a Comissão Europeia se prepara para apresentar seus planos para controles mais rígidos de exportação das vacinas Covid-19 produzidas dentro do bloco. Parte delas é direcionada para o Reino Unido e complementa a quantidade de vacinas produzidas dentro do país.
O plano de vacinas de Bruxelas foi prejudicado por problemas de abastecimento e distribuição e espera-se que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cobre ações das empresas da região. A Comissão acredita que as empresas não estão honrando os termos dos contratos assinados com a UE para o fornecimento de vacinas para os 27 estados-membro da região.
Os planos da Comissão Europeia também devem incluir medidas como a proibição de venda de vacinas a países que não exportam para os países da zona do euro. Líderes dos 27 estados da UE se reunirão virtualmente na quinta-feira (24) para discutir essas recomendações da Comissão.
Líderes da Alemanha e da Irlanda já pediram cautela quanto às medidas de exportação que teriam como alvo esses países.
O Reino Unido, que optou por não participar da estratégia de vacinação da UE, tem implementado seu programa de imunização de cidadãos com uma rapidez notável em relação ao resto do continente. Internamente, isso foi enquadrado por muitos como um resultado do Brexit e um exemplo do que pode ser feito agora que o país está livre do jugo burocrático da UE.
A Agência Europeia de Medicamentos foi criticada pela lentidão na aprovação de vacinas. Por isso, outras nações da UE recorreram a Rússia e China para preencher as lacunas no fornecimento de vacinas por meio de acordos de compra unilaterais.
O sucesso relativo do Reino Unido tem sido constrangedor para a UE. Qualquer reclamação de que o Reino Unido não está jogando de forma justa ou sugestões de medidas retroativas são facilmente enquadradas como petulância de Bruxelas, uma tentativa de culpar os outros por seus próprios fracassos.
No entanto, os comentários gananciosos de Johnson podem ser úteis para uma Comissão que tenta unir os estados da União Europeia e pintar o Reino Unido como o vilão.
Isso leva à pergunta central: por que Johnson disse isso?
Os presentes na reunião falaram sobre suas teorias. Uma delas é que o primeiro-ministro estava “claramente brincando” com seus amigos, já que passou toda a reunião “elogiando a AstraZeneca por não buscar lucro”. Há sugestões de que ele estava “falando tipicamente como o Boris desajeitado” que é e tropeçou ao falar sobre como o Partido Trabalhista, de oposição à esquerda, se opõe a qualquer investimento privado no Serviço Nacional de Saúde.
“Ele estava falando de improviso, eu acho, então, de repente, ele se lembrou que era o primeiro-ministro”, disse um legislador presente à reunião à CNN.
Não há como negar, porém, que o momento de seus comentários é ruim. O lançamento da vacina foi um raro sucesso na resposta de Johnson à pandemia, mas o Reino Unido ainda tem o maior número de mortes por coronavírus na Europa.
Qualquer coisa que atrase o programa de vacinação e seus planos de tirar os britânicos do confinamento pode prejudicar gravemente o primeiro-ministro e seu governo, em um momento em que eles não podem se dar ao luxo de receber uma pancada grave como essa – muito menos uma feita pela União Europeia.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês).