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    Gabinete de Biden sugere previsibilidade e diversidade

    Objetivos centrais são restaurar a previsibilidade e a confiabilidade dos Estados Unidos como aliado e ator global, e também a diversidade em seu gabinete

    O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, em Wilmington, Delaware
    O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, em Wilmington, Delaware Foto: Tom Brenner - 19.nov.2020/Reuters

    Lourival Sant'Annada CNN

    As nomeações do presidente eleito Joe Biden para os setores de política externa, defesa, segurança e inteligência, assim como a possível indicação para o Tesouro, revelam duas preocupações centrais: restaurar a previsibilidade e a confiabilidade dos Estados Unidos como aliado e ator global, e também a diversidade em seu gabinete.

    Todos dependem de aprovação do Senado, que pode ter ou não maioria republicana, dependendo do resultado do segundo turno das eleições para duas cadeiras na Geórgia, dia 5 de janeiro.

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    Antony Blinken, nomeado para o Departamento de Estado, foi vice-secretário da pasta no governo de Barack Obama, e também vice-conselheiro de Segurança Nacional. Ele acompanhou Biden na missão ao Brasil em 2014, quando o então vice-presidente veio acalmar a presidente Dilma Rousseff depois das revelações de Edward Snowden de que ela havia sido grampeada pelo serviço secreto americano.

    Blinken tem sido assessor de Biden para política externa há 20 anos. Essa é uma área na qual o próprio Biden atuou intensamente, como senador (1973-2009) e como vice-presidente (2009-2017). A escolha indica o claro propósito de reaproximar os Estados Unidos de seus aliados, sobretudo Europa, Japão e Coreia do Sul, para se contrapor a rivais como China e Rússia.

    No governo de Donald Trump, o cargo foi ocupado por pessoas de fora, sem experiência prévia no setor público nessa área: Rex Tillerson, ex-executivo da indústria do petróleo, e Mike Pompeo, advogado, empresário do setor da aviação e ex-deputado.

    Linda Thomas-Greenfield, indicada para a embaixada nas Nações Unidas, será a segunda mulher negra a ocupar o cargo, depois de Susan Rice, que esteve nessa posição no primeiro mandato de Barack Obama, do qual Biden foi vice. No segundo mandato, Thomas-Greenfield serviu como secretária assistente de Estado para Assuntos Africanos.

    Avril Haines deve se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de diretora de Inteligência Nacional. Haines tem sólida experiência nessa área, como ex-vice-diretora da CIA e ex-vice-conselheira de Segurança Nacional no governo Obama. É uma das profissionais que levaram o general James Clapper, diretor de Inteligência Nacional entre 2010 e 2017, a enaltecer, em seu livro Facts and Fears (Fatos e Medos), a importância das mulheres nos serviços de informação americanos, e na sua própria carreira na área de inteligência militar. 

    A chegada de Biden à Casa Branca colocará um fim a quatro anos de tensões entre o presidente e o establishment de inteligência, no qual as revelações sobre a interferência russa nas eleições de 2016 e as investigações sobre as relações de Donald Trump com a Rússia e com a Ucrânia o levaram a alimentar enorme desconfiança do que ele rotulou como “estado profundo”.

    Jake Sullivan, escolhido para chefiar o Conselho de Segurança Nacional, foi o assessor de Biden nessa área quando ele ocupou a vice-presidência. Sullivan também ocupou cargos de direção no Departamento de Estado e assessorou a democrata Hillary Clinton na campanha presidencial de 2016.

    O ex-senador e secretário de Estado John Kerry, derrotado por George W. Bush na eleição presidencial de 2004, será o enviado especial de Biden para o meio ambiente. A criação do cargo e o alto perfil de seu ocupante confirmam que o tema será prioritário no governo Biden, que tentará com ele atenuar as pressões da esquerda do Partido Democrata. 

    Kerry liderou uma força-tarefa sobre mudança climática durante a campanha, que atraiu aliados do senador Bernie Sanders, principal líder da esquerda. O presidente eleito anunciou que os Estados Unidos voltarão para o Acordo de Paris, do qual o país foi retirado por Trump. 

    O desmatamento da Amazônia também estará no foco de Biden, que ameaçou adotar sanções econômicas contra o Brasil se ele não for contido. A ameaça levou o presidente Jair Bolsonaro a responder com a célebre frase “quando acabar a saliva tem que ter pólvora”.

    Pela primeira vez o Departamento de Segurança Interna (DHS), responsável pela política de imigração, será dirigido por um imigrante, Alejandro Mayorkas, nascido em Cuba. A escolha sugere a intenção de adotar políticas mais amigáveis à imigração. 

    Embora o governo Obama tenha sido responsável pelo maior número de deportações de ilegais da história, foi também o criador do programa Daca, que garantiu a permanência de imigrantes que chegaram ilegalmente como crianças aos Estados Unidos. Biden prometeu manter o programa, que Trump tentou derrubar na Suprema Corte sem sucesso, e que beneficia 800 mil pessoas.

    O DHS foi foco de tensões no governo Trump, por causa de suas controversas políticas de impedir a entrada de muçulmanos, construir o muro na fronteira com o México e separar imigrantes ilegais de seus filhos. Ao departamento está subordinada a Cisa, agência responsável pela segurança das eleições, que enfureceu Trump ao declarar que essas eleições foram “as mais seguras da história”, contrariando sua versão de que foi vítima de fraude.

    Outra nomeação inédita, se confirmada, será a de Janet Yellen para o Departamento de Tesouro. A CNN confirmou a escolha com fontes do time Biden, mas ainda não é oficial. Outro nome cogitado era de outra mulher, Lael Brainard. Ambas atuaram na direção do Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
    Yellen, de 74 anos, é especialista em economia do trabalho, e teria a missão de conduzir a recuperação da economia depois da paralisia causada pelo coronavírus, que ainda registra 10,8 milhões de desempregados, ou 6,9% dos que procuraram empregos no mês de outubro.

    Se confirmada, Yellen será também a primeira pessoa a ter dirigido o Tesouro, o Fed e o Conselho Econômico da Casa Branca. É uma opção considerada um pouco à esquerda, que poderá enfrentar alguma resistência na bancada republicana no Senado.

    Mas em 2014 foi confirmada presidente do Fed com apoio de 11 senadores republicanos. Três deles continuam no Senado: Richard Burr, da Carolina do Norte, Susan Collins, do Maine, e Lisa Murkowski do Alaska. E é exatamente de três votos republicanos que ela precisará, se eles ganharem as duas cadeiras da Geórgia. Biden passou 36 anos na Casa e deve saber o que está fazendo.