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    Frente à crise com a Ucrânia, próximos passos de Putin podem definir conflito

    EUA e Otan responderam às demandas russas de segurança, oferecendo saída diplomática da direção da guerra, mas Moscou manteve silêncio

    Nathan Hodgeda CNN

    À medida que as conversas sobre a possível guerra na Ucrânia atingiram o auge e os temores de invasão do país aumentaram na semana passada, um líder mundial permaneceu decididamente longe do assunto: o presidente russo Vladimir Putin.

    Não, Putin não estava de férias. O líder do Kremlin manteve uma agenda cheia, mas fez poucos comentários públicos sobre a crise internacional que atingiu seu ponto máximo.

    Na quarta-feira passada, os Estados Unidos e a Otan entregaram suas respostas por escrito às demandas russas de segurança, oferecendo a Moscou o que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, descreveu como uma saída diplomática de um caminho perigoso de mobilização em direção à guerra.

    E então, silêncio. Na quinta-feira, Putin passou o dia fazendo uma visita pública solene ao Cemitério Memorial Piskaryovskoye, para marcar o aniversário do levantamento do Cerco de Leningrado, o nome de São Petersburgo na era soviética, depositando flores em uma vala comum que contém os restos mortais de seu irmão mais velho, Viktor, que morreu quando criança durante o cerco.

    Na sexta-feira, Putin presidiu uma reunião de segurança nacional. Mas, novamente, o Kremlin fez apenas uma leitura paliativa e divulgou um breve trecho de Putin discutindo um novo documento de política externa.

    Embora o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, tenha feito algumas breves avaliações da carta – dizendo que os russos “não tiveram nenhuma reação positiva” sobre o principal ponto de discórdia, o pedido do Kremlin para a suspensão da expansão da Otan ao Leste – ficou claro que o mundo teria que esperar por uma resposta mais significativa de Putin.

    E Putin pode esperar. Enquanto os líderes ocidentais se esforçaram muito por causa da crise na Ucrânia, Putin é um homem que enfrenta pouquíssima pressão política doméstica.

    A oposição de seu governo foi marginalizada ou presa, ele tem uma mídia estatal flexível e não precisa pensar em nenhuma campanha de reeleição no futuro próximo. Ele não precisa consultar um parlamento indisciplinado sobre assuntos externos.

    Isso faz dele o homem com quem conversar. Na sexta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron falou em uma ligação com Putin sobre a crise na Ucrânia, e o Elysée, residência oficial do presidente francês, afirmou que Putin disse a Macron que “ele era o único com quem poderia ter uma discussão tão profunda”.

    Em resumo, a ligação do Kremlin sinalizou a insatisfação de Putin com as respostas dos EUA e da Otan, dizendo que as cartas “não levaram em conta preocupações fundamentais da Rússia de como impedir a expansão da Otan, recusar-se a implantar sistemas de armas de ataque perto das fronteiras russas, bem como retornar força militar e infraestrutura do bloco [Otan] na Europa às posições de 1997”, mas a declaração deu pouca indicação de como e quando Putin planejava responder formalmente.

    Macron, que está se preparando para uma campanha presidencial, não foi o único a se ocupar com a crise.

    O primeiro-ministro britânico Boris Johnson – enfraquecido após acusações de festas na Downing Street durante o lockdown e de um resgate de animais no Afeganistão – revelou planos na sexta-feira de falar com Putin e viajar para a região em sua tentativa de neutralizar a crise.

    O presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, fez uma proposta separada para engajar Putin, convidando o presidente russo para participar de uma cúpula e se oferecendo para mediar entre a Rússia e a Ucrânia.

    O Kremlin disse que Putin aceitou, dependendo da resolução da “situação epidemiológica”, e nenhuma data foi fixada – embora o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, tenha dito a repórteres na quinta-feira que ele foi informado pelo Kremlin que o encontro será depois que Putin retornar do Jogos Olímpicos de Pequim, que começam em 4 de fevereiro.

    Então, Putin tem todas as cartas? Será que ele vai tentar ganhar tempo com as Olimpíadas de Inverno, onde será convidado do presidente chinês Xi Jinping? Ele é um estrategista experiente ou ruim?

    Tentar adivinhar o plano mestre de Putin pode ser um passatempo para especialistas, mas o presidente russo deixou suas intenções bem claras por muito tempo.

    Não é preciso ler a mente de Putin. Suas palavras falam por si.

    Em 2007, Putin expôs suas principais queixas no Fórum de Segurança de Munique. Seu argumento? A expansão da aliança da Otan para incluir ex-membros do Pacto de Varsóvia e os Estados Bálticos foi um ato de ataque dirigido à Rússia.

    “Penso que é óbvio que a expansão da Otan não tem qualquer relação com a modernização da própria Aliança ou com a garantia de segurança na Europa”, disse.

    “Pelo contrário, representa uma séria provocação que reduz o nível de confiança mútua. E temos o direito de perguntar: Contra quem se destina essa expansão?”

    E depois houve a implantação de meios de defesa antimísseis dos EUA na Europa. Na opinião de Putin, a defesa antimísseis – que Washington classificou como um contraponto a estados rebeldes como Irã e Coreia do Norte – foi na verdade projetada para minar a dissuasão nuclear da Rússia.

    Mais ameaçadoramente, Putin disse o seguinte: “Estou confiante de que os historiadores do futuro não descreverão nossa conferência como uma em que a Segunda Guerra Fria foi declarada. Mas eles poderiam”.

    Esse conflito – podemos chamá-lo de Guerra Fria Leve, ou Guerra Fria 2.0 – ganhou ímpeto desde então, através de sucessivas crises: a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e a guerra em Donbas; a intervenção do Kremlin na guerra civil da Síria em 2015; interferência russa nas eleições americanas de 2016; os envenenamentos de Salisbury, na Inglaterra, em 2018; e assim por diante.

    Putin também construiu uma justificativa para a guerra no verão, quando publicou um ensaio histórico de 5 mil palavras, argumentando, em essência, que ucranianos e russos eram uma única nação.

    A Ucrânia independente, em sua opinião, era uma “divisão artificial” de dois povos – e, portanto, não um estado real.

    O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Putin e seu governo “não se apressarão em julgar”. Agora que a Segunda Guerra Fria está ameaçando se tornar muito quente, o mundo deve esperar para ver se o próximo passo de Putin sinaliza uma virada para pior nos assuntos globais.

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