França: eleições presidenciais ocorrem no domingo (10); Macron e Le Pen empatam
Entenda cenários da votação, que pode gerar nova disputa entre atual presidente e candidata da extrema-direita no 2º turno
Os franceses irão às urnas no domingo (10) para o primeiro turno das eleições presidenciais no país — disputa cujo cenário que não torna certa a reeleição de Emmanuel Macron, atual mandatário francês, concorrente pelo partido República em Marcha.
Apesar das pesquisas ainda favorecerem Macron para ganhar a reeleição, elas lhe dão uma vantagem muito mais estreita do que quando foi eleito em 2017. Agora, ele enfrenta uma dura concorrência de Marine Le Pen, candidata da extrema-direita e representante do Reagrupamento Nacional.
Segundo o Instituto Ifop, no dia 7 de abril Macron tinha 26,5% das intenções de voto contra 24% de Le Pen —configurando um empate técnico. No dia anterior, os percentuais eram de 27% e 23,5%, respectivamente. O terceiro colocado é o candidato da extrema-esquerda Jean-Luc Mélenchon (França Insubmissa), com 17,5% dos votos.
Os outros candidatos ficaram para trás nas últimas semanas e viram suas chances de avançar para o segundo turno diminuir, salvo uma grande surpresa. O candidato de extrema-direita Eric Zemmour e a conservadora Valerie Pecresse —já vistos como sérios candidatos ao segundo turno— figuravam com cerca de 9% cada.
O cenário político francês ainda está sentindo as ondas de choque das eleições de 2017, quando Macron e Le Pen também se enfrentaram.
Uma vitória de Macron significaria continuidade em políticas atualmente vigentes na França, enquanto uma vitória de Le Pen anunciaria grandes mudanças em política externa, relação com a União Europeia, finanças públicas e atração de investidores estrangeiros.
A reconstrução tanto da direita quanto da esquerda dependerá muito de como as eleições presidenciais e parlamentares vão se desenrolar.
Processo de votação
Cerca de 48,7 milhões de franceses estão registrados para votar. Os candidatos que terminam em primeiro e segundo lugar vão para o segundo turno, que será realizado no dia 24 de abril.
A primeira votação coloca 12 candidatos uns contra os outros. Todos eles se qualificaram para a corrida ao garantir o apoio de 500 prefeitos e/ou vereadores locais de todo o país.
Na França, o voto não é obrigatório e é feito com cédulas de papel, de maneira direta e secreta. Cada francês comparece à zona eleitoral estipulada e, após escolher a cédula do candidato escolhido, se dirige à cabine de votação para colocar a cédula em um envelope, que é, por fim, depositado em uma urna.
A apuração dos votos estende-se ao longo da noite francesa (a partir das 15h no Brasil). Com o passar das horas e as apurações de boca-de-urna, espera-se que até o fim do dia os candidatos tenham admitido a derrota ou, para os dois principais, tenham feito discursos para reunir os eleitores para o segundo turno.
Confira a programação geral de horários para o pleito francês, conforme o horário de Brasília:
- 3h: começa a votação em toda a França
- Entre 7h e 12h: são divulgadas as primeiras estimativas de comparecimento às urnas
- A partir das 15h: são publicados os resultados
O que está em jogo
Cinco anos atrás, Macron derrotou Le Pen com 66,1% dos votos no segundo turno, com eleitores de todos os matizes apoiando o recém-chegado centrista para derrotar a candidata de extrema-direita.
Para este ano, a avaliação é que Macron teria se recusado a debater com opositores e investido pouco em campanha. Ainda assim, o presidente se manteve firme em primeiro lugar nas pesquisas, embora com um eventual segundo turno possivelmente mais disputado do que em 2017.
Dentre as propostas da campanha atual, ele anunciou a promessa de aumento da aposentadoria para os 65 anos, reformas no seguro-desemprego e mercado de trabalho, relançamento de reatores nucleares, além de investimento em energia ecológica e objetivo de alcançar a neutralidade carbônica até 2050.
Já para Le Pen, a estratégia foi buscar apoios importantes. Embora ainda seja fortemente contrária à entrada de novos imigrantes no país, a suavização do seu tom em tópicos emblemáticos como o Islã e o euroceticismo (especialmente após o Brexit) tem sido amplamente divulgada, no esforço para atrair eleitores fora da sua base de extrema-direita.
Mesmo assim, “deter a imigração descontrolada” e “erradicar as ideologias islâmicas” são as duas principais prioridades do seu programa de governo.
Poder de compra, guerra e pandemia: o que consideram os eleitores
As pesquisas de opinião mostram que o poder de compra é a principal preocupação dos eleitores, em meio a um enorme aumento nos preços da energia e a uma inflação crescente. Le Pen tem focado com sucesso sua campanha nisso.
A campanha eleitoral começou em meio à guerra na Ucrânia. Apesar do impulso inicial favorável para Macron, que se colocou como um intermediador entre o Ocidente e o presidente russo, Vladimir Putin, a vantagem adquirida com o conflito diminuiu.
As pesquisas mostram que os eleitores estão descontentes com a política econômica de Macron, mas o desemprego está em seu nível mais baixo em anos e os entrevistados não acham que nenhum de seus oponentes faria melhor.
Como Macron lidou com a pandemia de coronavírus também poderia desempenhar um papel importante no processo de votação. A França foi submetida a sucessivos processos de lockdown e, atualmente, boa parte das restrições já foram flexibilizadas. No entanto, o número de casos de Covid-19 está crescendo novamente.
A guerra na Ucrânia também pressionou Marine Le Pen: ela precisou refutar sua ligação com Putin, já que chegou a ter uma fotografia da sua visita ao líder russo incluída em um folheto de campanha, posteriormente retirada.
Apesar do desempenho de Le Pen, as pesquisas de opinião também mostraram que muitos não têm certeza em quem votarão, e o comparecimento pode muito bem ser muito menor do que o normal, acrescentando incerteza para o segundo turno.
Datas-chave para as eleições da França
- 10 de abril: primeiro turno das eleições presidenciais
- 24 de abril: segundo turno realizado entre os dois primeiros candidatos
- 13 de maio: prazo final para novo presidente tomar posse
- Entre 12 e 19 de junho: eleições parlamentares
*Com informações da Reuters, CNN e de Renata Souza, da CNN Brasil