Exército e RSF assinam cessar-fogo no Sudão
Grupos que lutam pelo controle do país prometem interromper as hostilidades por sete dias para facilitar a atuação de grupos humanitários; mais de 700 pessoas já morreram em seis semanas de conflito
Segundo o canal Al Arabiya, o tratado entrará em vigor 48 horas após sua assinatura. O acordo prevê “o estabelecimento de um comitê especial para implementar a trégua, que incluirá representantes dos mediadores – Arábia Saudita e Estados Unidos -, bem como das Forças Armadas Sudanesas e das Forças de Apoio Rápido”.
Ele também pede a retirada “de todo o pessoal armado das instalações médicas do país para oferecer uma oportunidade de começar a reparar o sistema de habitação e serviços públicos”.
É o segundo acordo de longo prazo sobre um cessar-fogo humanitário desde o início do conflito armado. A primeira, que deveria ser observada pelas partes em conflito por 10 dias, não durou nem algumas horas. Outras tentativas de paralisação por menor prazo (geralmente com 72 horas de duração) foram igualmente ignoradas pelos dois lados.
O acordo surgem quando o conflito chegou à sua sexta semana. Ataques aéreos atingiram os arredores da capital sudanesa, Cartum, durante a noite de sexta-feira (19) e a manhã deste sábado (20), com os combates que aprisionaram civis em uma crise humanitária e causaram o deslocamento de mais de um milhão de pessoas entrando em sua sexta semana. Quase 1,1 milhão de pessoas foram deslocadas, tanto dentro do território sudanês quanto para nações vizinhas. Cerca de 705 pessoas foram mortas e ao menos 5.287 ficaram feridas, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Dentro deste cenário catastrófico, os Estados Unidos e a Arábia Saudita se colocaram como agentes para a negociação de paz. Várias reuniões foram realizadas nos últimos dias reunindo diplomatas dos dois países e representantes dos dois lados do conflito, mas sem obter resultados práticos. Esta semana, porém, com a realização da Cúpula Árabe na cidade saudita de Jeddah, criou-se um ambiente mais propício para a retomada dos diálogos.
O conflito
Os combates são reflexo da disputa de poder no Sudão entre o comandante do Exército, general Abdel Fattah al-Burhan, e o líder da RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti. Eles ocupavam os principais cargos no conselho governante do Sudão após a derrubada do ditador Omar al-Bashir em 2019, e deram um golpe dois anos depois, quando o prazo para entregar o poder aos civis se aproximava.
Os dois grupos, que lutam pelo poder há vários anos, violaram diversas tréguas mediadas pelos países vizinhos, além dos Estados Unidos, prosseguindo com ferozes combates. Centenas de milhares de pessoas deixaram o país por meio das fronteiras do Egito, Chade, Djibuti e Eritreia. Mesmo o Sudão do Sul, que convive com uma grave crise humanitária, foi o destino de ao menos 20 mil refugiados. A travessia pelo Mar Vermelho, até a Arábia Saudita, tem sido outra rota importante.