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    Exército da China é desafio de política externa para próximo presidente dos EUA

    O programa de rápida modernização do governo chinês transformou suas forças armadas em uma verdadeira potência global

    Brad Lendon, , da CNN

    Esta é uma análise feita por Brad Lendon, produtor sênior da CNN Internacional.

    A China foi um dos dois países (o outro é a Rússia) citados em um relatório do Pentágono de 2018 como a questão militar mais significativa para os Estados Unidos. Dois anos depois, esse desafio só cresceu. 

    O programa de rápida modernização do governo chinês transformou suas forças armadas em uma verdadeira potência global, capaz de se projetar confortavelmente por toda a região do Indo-Pacífico e além. 

    Somente em 2020 a China se envolveu em confrontos mortais na fronteira com as tropas indianas; os aviões do Exército de Libertação Popular (ou PLA, o nome oficial das forças armadas do país) da China zuniram repetidamente nas defesas aéreas de Taiwan e do Japão; e navios chineses estiveram envolvidos em vários incidentes nas disputadas águas do Mar da China Meridional.

    Barcos no oceano
    Navios da marinha americana em missão no Pacífico
    Foto: US Navy

    Ao mesmo tempo, o governo tem feito exercícios com suas unidades navais no Pacífico com frequência cada vez maior, chegando até a ter cinco ações separadas acontecendo em vários locais em questão de dias.

    Os exercícios da China, especialmente aqueles no Mar da China Meridional, apresentam um desafio ao que os militares dos EUA chamam de Indo-Pacífico livre e aberto, um lugar onde o comércio deve fluir sem intimidação e onde os direitos de pesca e mineração são respeitados pelas leis e tratados internacionais. 

    No momento em que os eleitores dos Estados Unidos votam na eleição presidencial, a ascensão do poderio militar da China representa uma das mais complexas e urgentes preocupações de política externa que o próximo líder do país enfrentará. Aqui está um resumo das principais áreas:

    Taiwan

    A ilha autônoma recebeu níveis crescentes de apoio público do governo dos EUA durante o governo Trump, incluindo visitas de autoridades do alto escalão norte-americano e a venda de armamentos de ponta, como os caças F-16. 

    Analistas dizem que a situação atual não deixa muito espaço para o desafiante democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, ou para o presidente Donald Trump, para que desistam de apoiar Taiwan.

    Biden poderia oferecer pequenas concessões a Pequim, como impedir novas visitas de autoridades de nível ministerial ou assegurar que as vendas futuras de armas consistam em armas menores e menos potentes, segundo Timothy Heath, pesquisador sênior do think tank RAND Corp em Washington.

    “Mas, independentemente de quem ganhe, os EUA provavelmente manterão uma relação amigável com Taiwan e criticarão os esforços chineses para intimidar e desestabilizar a ilha”, opinou.

    O governo em Pequim continua a ver Taiwan como uma parte inseparável de seu território, embora o Partido Comunista Chinês nunca tenha governado a ilha democrática. O líder da China, o presidente Xi Jinping, foi claro em suas ambições de “reunificar” a ilha com o continente e se recusou a descartar o uso da força. 

    Embora os analistas esperem que o apoio dos EUA a Taiwan continue, eles também creem que a China não vai recuar na crescente pressão militar que colocou na ilha – na forma de voos da Força Aérea do PLA e exercícios navais em águas próximas – não importa quem esteja na Casa Branca.

     

    “A China continuará e possivelmente aumentará os sobrevoos no espaço aéreo de Taiwan porque Pequim está fazendo ações de reconhecimento curtas em resposta à política em Taiwan”, opinou Elizabeth Freund Larus, presidente do Departamento de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade de Mary Washington, ao jornal Diplomat. 

    Avião do exército chinês
    Um bombardeiro H-6 chinês é interceptado por aviões taiwaneses no Estreito de Taiwan em setembro.
    Foto: Ministério da Defesa Nacional da China

    Os militares dos EUA também estão ativos em torno de Taiwan, já que enviaram navios de guerra através do Estreito de Taiwan inúmeras vezes neste ano, bem como ao manter aeronaves militares dos EUA operando nas proximidades da ilha enquanto monitoram as manobras do PLA.

    Para os especialistas, isso cria a possibilidade de acidentes ou mal-entendidos entre embarcações militares, algo que poderia potencialmente desencadear um conflito mais amplo.

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    Mar da China Meridional

    O governo chinês reivindica quase todo o vasto Mar da China Meridional como seu território soberano e intensificou os esforços para afirmar seu domínio sobre as águas ricas em recursos nos últimos anos, transformando uma série de recifes e atóis obscuros em ilhas artificiais pesadamente fortificadas e aumentando sua atividade naval na região. 

    As Forças Armadas dos Estados Unidos têm se expressado abertamente em seus esforços para contestar as reivindicações de Pequim sobre o Mar do China Meridional. 

    Pelo menos seis outros governos também têm reivindicações territoriais sobrepostas na hidrovia em disputa. Embora os EUA não tenham nenhuma solicitação nessas águas, os navios de guerra da Marinha dos EUA vêm realizando as chamadas operações de Liberdade de Navegação com frequência recorde no ano passado, navegando perto de ilhas controladas pela China.

    Aviões do exército chinês
    Aeronaves dos porta-aviões USS Nimitz e USS Ronald Reagan operam no Mar da China Meridional no início deste ano.
    Foto: US Navy

    No início deste ano, a Marinha dos EUA navegou duas vezes dois de seus enormes porta-aviões no Mar da China Meridional ao mesmo tempo.

    Nos céus, acima das hidrovias, bombardeiros e aviões de reconhecimento da Força Aérea dos Estados Unidos, voando do Japão ou de Guam ou mesmo partindo dos Estados Unidos continental, avisaram Pequim de que suas atividades são monitoradas minuciosamente e mostram o compromisso dos Estados Unidos com seus aliados e parceiros na região. 

    Heath vê a continuidade das ações dos EUA, não importa quem esteja no Salão Oval.

    “Os EUA provavelmente continuarão seus exercícios militares e patrulhas de liberdade de navegação no Mar da China Meridional. Essas águas são importantes para a segurança e o desenvolvimento dos EUA por causa do acesso fornecido ao Oceano Índico para fins militares e às rotas de navegação mercante”, afirmou o pesquisador do think tank RAND Corp.

    Carl Schuster, ex-diretor de operações do Centro de Inteligência Conjunto do Comando do Pacífico dos EUA, disse que a campanha de Biden não deu uma indicação clara de para onde irá no Mar da China Meridional.

    “O ex-vice-presidente diz que será mais duro com a China do que Trump, mas menos confrontador.  Não está claro o que ele quer dizer com isso”, afirmou Schuster. 

    Durante o debate presidencial final dos dois candidatos, a única referência ao Mar da China Meridional foi feita por Biden, que disse que os aviões dos EUA iriam “voar através” das zonas de identificação chinesas estabelecidas na região, algo que os militares dos EUA fizeram em níveis crescentes sob o comando de Trump. 

    Atualmente um instrutor da Hawaii Pacific University, Schuster diz que Biden também pode ser prejudicado por seus oito anos como vice-presidente de Barack Obama.

    Os países do Mar da China Meridional, como Vietnã e Filipinas, julgaram as políticas de Obama na região como “toda uma conversa apoiada por pouca ou nenhuma ação substantiva”, disse ele. 

    “Biden terá que superar essa percepção para obter sua cooperação além do mínimo”. 

    Segundo Schuster, qualquer um dos dois governos seria sábio em apoiar aqueles que se comprometem com o ponto de vista de Washington. Se Washington deixar seus parceiros, “eles serão abandonados para lidar com uma China furiosa”.

    Dois aliados principais

    O atual governo Trump teve um caminho difícil para lidar com aliados e parceiros militares dos EUA no Indo-Pacífico. 

    O apelo de Trump para que as nações aliadas paguem mais por sua própria carga de defesa, incluindo o custo de hospedar tropas norte-americanas em bases em seus países, atrapalhou as relações com a Coreia do Sul e o Japão, indiscutivelmente os dois mais importantes aliados dos EUA na Ásia, senão no mundo. 

    Milhares de sul-coreanos que trabalham em bases norte-americanas naquele país foram dispensados no início deste ano, enquanto Washington e Seul discutiam quanto a Coreia do Sul deveria pagar pela presença militar dos EUA. O acordo foi finalmente alcançado em junho para cobrir o restante do ano, com o objetivo de montar novos planos de financiamento em 2021. 

    As relações com o Japão têm sido melhores. O governo japonês anunciou um aumento de 8,3% em seu orçamento militar, algo que os analistas atribuíram em parte à pressão do governo Trump. 

    Analistas disseram que esses esforços de divisão de gastos poderiam ser mais suaves em um governo Biden, porque o ex-vice-presidente tem mais reputação de negociador do que de alguém que faz demandas unilaterais, como fez Trump. 

    Mas Schuster disse que pressões internas em ambos os países podem tornar essa área um problema até mesmo para Biden. 

    Segundo Schuster, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, quer reduzir os custos de defesa enquanto tenta melhorar as relações com a Coreia do Norte. 

    No Japão, o novo primeiro-ministro Yoshihide Suga enfrenta a escolha entre alocar dinheiro para armamentos japoneses novos ou atualizados, como caças stealth (furtivos) e porta-aviões, ou gastá-lo com as tropas norte-americanas que seu país hospeda. 

    “Acho que as negociações sobre os custos de base serão difíceis para quem quer que seja o presidente”, concluiu. 

    Um outro ponto é que ao construir uma coalizão forte de nações com ideias semelhantes em torno do Indo-Pacífico, o Japão pode estar dando a Biden ou Trump um caminho mais tranquilo. 

    O primeiro-ministro japonês visitou o Vietnã e a Indonésia nas últimas semanas, buscando melhorar as relações militares e econômicas com os países com reivindicações no Mar do Sul da China. 

    “Há países como Malásia, Mianmar, Indonésia e Vietnã onde as relações políticas com os Estados Unidos permanecem sensíveis para os estabelecimentos militares”, opinou Corey Wallace, professor assistente com foco em política externa japonesa na Universidade de Kanagawa. 

    “Se esses países algum dia considerarem se abrir mais para os militares dos Estados Unidos em algum momento no futuro, o Japão provavelmente estará lá facilitando [a negociação]”, disse. 

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    Dinheiro

    A Covid-19 deu um golpe poderoso na economia dos EUA. Embora a China também tenha sido atingida, ela se recuperou de forma muito mais rápida e não se espera que sua expansão militar sofra muitos golpes, se houver. Seus estaleiros e fábricas estão produzindo equipamentos militares cada vez mais sofisticados em um ritmo frenético. 

    O governo dos EUA está sob pressão para acompanhá-lo, especialmente porque o que há anos nota-se como sua vantagem qualitativa é reduzida à medida que os avanços chineses em tecnologia se refletem em suas forças armadas. 

    Os destroieres Tipo 55 da China, por exemplo, são considerados um dos melhores do mundo nessa classe de navios de guerra. E as forças de mísseis de Pequim fizeram grandes avanços em número e capacidade de sobrevivência, colocando bases norte-americanas em lugares como Guam e Japão, bem como porta-aviões no mar, bem ao alcance de ataques de mísseis chineses precisos e esmagadores. 

    Schuster disse que o novo governo dos EUA enfrentará uma ameaça maior do que até mesmo a do país durante a Guerra Fria. 

    “A China se tornou um problema mais sério do que a União Soviética jamais foi. Pequim primeiro construiu sua economia e sua base tecnológica antes de expandir suas capacidades militares. Mais importante, ela tem sido um ator internacional muito maior e mais eficaz, diplomática e economicamente, do que a União Soviética jamais sonhou ser”, afirmou Schuster.

    Para o especialista, o próximo presidente dos EUA deve se concentrar em garantir que o país tenha uma base industrial para manter suas forças armadas no mesmo nível da China. 

    “O próximo governo deve tratar da reconstrução da base industrial dos Estados Unidos por meio de políticas comerciais equitativas e uma revisão completa de quais indústrias são vitais para a segurança nacional do país”, pontuou. 

    Dito isso, por causa da crise econômica trazida pela pandemia, o próximo governo enfrentará pressão para limitar os gastos com defesa aos níveis atuais ou mesmo reduzi-los, de acordo com analistas. 

    Biden pode enfrentar o caminho mais difícil aqui. 

    “Há uma forte pressão no Partido Democrata para reduzir a presença militar dos EUA e os investimentos na manutenção do poder militar dos EUA para liberar recursos para iniciativas nacionais”, disse Heath.

    Mas até Trump pode ficar paralisado. 

    “As ambições de Trump para os militares também enfrentam os ventos de crescimento lento, e déficits maciços também limitarão a capacidade de Trump de aumentar os gastos com defesa”. 

    Mantendo o foco 

    Apesar da Estratégia de Defesa Nacional de 2018 e seu foco na Ásia, a inércia e a história ainda podem manter a atenção do establishment de defesa dos EUA voltada para a Europa, disseram analistas. 

    “Os aliados europeus dos EUA têm os recursos financeiros para aumentar sua capacidade de defender seu território e espaço aéreo. O que falta é o compromisso, porque os EUA sempre preencheram a lacuna para eles, já que a ameaça à Europa excedeu em muito a que enfrentamos na Ásia-Pacífico”, detalhou Schuster. 

    “Esse equilíbrio de ameaças não é mais verdadeiro”. 

    Trump ou Biden serão desafiados a manter a Ásia na vanguarda do planejamento de defesa. 

    “Sabemos por experiência própria que, por mais que os presidentes queiram rebaixar o status do Oriente Médio e das questões transatlânticas em favor da Ásia, isso está longe de ser simples. A crescente urgência da Ásia, no entanto, veio para ficar”, disse Ankit Panda, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace. 

    Heath adverte que a polarização política nos EUA pode fornecer uma abertura para aqueles que operam contra os interesses americanos. 

    “Independentemente de quem ganhe a presidência, apenas cerca de metade dos norte-americanos provavelmente apoiará o presidente, e muitos da outra metade estarão perpetuamente motivados a se opor ao presidente. Isso deixa uma pequena margem de erro em qualquer crise, o que pode induzir extrema cautela por medo de perder apoio político e expor o governo a críticas políticas prejudiciais”, disse ele. 

    Schuster adverte que a influência mundial dos Estados Unidos depende da Ásia. 

    “Se a China estabelecer domínio lá, a capacidade dos EUA de manter seus interesses em outros lugares será reduzida”. 

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês). 

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