Executivo e esposa fretam avião para tomar vacina em reserva indígena no Canadá
Depois de receber as vacinas, o casal levantou suspeitas na comunidade ao pedir uma carona para o aeroporto mais próximo da cidade
O executivo Rodney Baker, ex-presidente e CEO da empresa Great Canadian Gaming Corporation, e a sua esposa, Ekaterina, estão enfrentando acusações na Justiça depois de supostamente fretar um avião para uma pequena cidade no oeste do Canadá e se passar por trabalhadores locais para receber a vacina contra o novo coronavírus.
Rodney e Ekaterina Baker foram enquadrados na Lei de Medidas de Emergência Civil (CEMA) de Yukon, de acordo com documentos judiciais.
O secretário de Serviços Comunitários de Yukon, John Streicker, disse que o casal apareceu em uma clínica móvel na última quinta-feira (21) em Beaver Creek, lar de uma comunidade indígena.
Um deles apresentou um cartão de saúde da Colúmbia Britânica, o outro tinha um de Ontário, segundo Streicker afirmou em um comunicado. De acordo com um documento de acusação, os Baker são de Vancouver, Colúmbia Britânica, a sudeste do território Yukon.
O casal Baker não foi acusado judicialmente por receber a vacina. O problema foi não seguir os requisitos de quarentena depois de chegar ao território indígena.
“Estou indignado com esse comportamento egoísta e acho perturbador que as pessoas optem por colocar outros canadenses em risco dessa maneira”, disse Streicker. “Há relatos de que esses indivíduos enganaram pessoas e violaram medidas de emergência em seu próprio benefício, o que é completamente inaceitável em qualquer momento, mas especialmente durante uma crise de saúde pública.”
A CNN não conseguiu entrar em contato com o casal para comentar o assunto.
Disfarce de funcionários de um motel
As comunidades indígenas estão entre os grupos prioritários para a vacinação contra a Covid-19, de acordo com as orientações de vacinação do Canadá. Indígenas são afetados de maneira desproporcional pelo novo coronavírus, em geral porque vivem em áreas onde o acesso à assistência médica é limitado.
Beaver Creek, a comunidade mais ocidental do Canadá, é o lar da tribo White River First Nation, a apenas alguns quilômetros da fronteira com o Alasca.
O casal Baker teria fretado um avião da cidade de Whitehorse, em Yukon, para Beaver Creek, que tem apenas 125 residentes. Eles alegaram que eram funcionários de um motel local, segundo Streicker contou à rede de notícias CBC, parceira da CNN.
Segundo as autoridades, Rodney e Ekaterina Baker chegaram a Yukon vindos de Vancouver em 19 de janeiro e deveriam se isolar por 14 dias em Whitehorse. Mas não fizeram isso. De acordo com uma denúncia feita à polícia, eles seguiram para Beaver Creek em 21 de janeiro. A viagem não era permitida devido aos requisitos de quarentena.
Depois de receber as vacinas, o casal levantou suspeitas na comunidade ao pedir uma carona para o aeroporto de Whitehorse, o mais próximo da cidade.
“As pessoas perguntavam: ‘Ué, por que vocês vão para o aeroporto?’”, Streicker contou.
Após uma investigação, o casal foi localizado no aeroporto de Whitehorse. Membros da equipe da clínica móvel ligaram para o motel e foram informados de que o casal não trabalhava lá.
Quanto à obtenção das vacinas, de acordo com Streicker, os cartões de saúde da Colúmbia Britânica e de Ontário não teriam necessariamente impedido o casal de recebê-las, visto que há muitos trabalhadores de fora do território circulando na região.
Rodney, 55, e Ekaterina Baker, 32, foram acusados de não se isolarem por 14 dias após a entrada no território e de não se comportarem de maneira consistente com a declaração fornecida na entrada no território.
As penalidades sob a Lei de Medidas de Emergência Civil (CEMA) podem incluir multas de até 500 dólares canadenses (cerca de R$ 2,1 mil); até 6 meses de prisão; ou ambos, de acordo com os decretos e diretrizes de Yukon para a pandemia. Os Bakers receberam a multa de 500 dólares canadenses e uma sobretaxa de 75 dólares canadenses (cerca de R$ 316) em ambas as acusações.
A Real Polícia Montada do Canadá foi alertada sobre a situação. O escritório Yukon da RCMP disse na terça-feira (26) que está investigando e que não responderia às perguntas da CNN.
A Great Canadian Gaming Corporation, uma empresa de hotéis e cassinos com 25 propriedades no país, disse à CNN que, embora não comentasse sobre questões pessoais relacionadas a ex-funcionários, Rodney Baker não era mais o presidente e CEO da Great Canadian desde 24 de janeiro e “não é mais afiliado de forma alguma à empresa”.
“Como empresa, a Great Canadian leva os protocolos de saúde e segurança extremamente a sério, e nossa empresa segue estritamente todas as diretrizes e orientações emitidas pelas autoridades de saúde pública em cada jurisdição onde operamos”, acrescentou o comunicado.
A White River First Nation disse que “está particularmente preocupada com a natureza insensível dessas ações tomadas pelos indivíduos, visto que foram um flagrante desrespeito às regras que mantêm nossa comunidade segura durante esta pandemia global sem precedentes.”
Paula Newton e Carma Hassan da CNN contribuíram para esta reportagem.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).